Acordo bastante antônita. Phillipe está ao meu lado, com a braço apoiando em meus ombros, enquanto estou ligeiramente apoiada em seu peito. Lembro-me do ocorrido na madrugada; a ferida do meu pescoço esta latejante. À toco, e sinto como se a pele estivesse queimando a mil graus. Meu Deus, quase morri duas vezes num dia só, e nas duas vezes Phillipe me salvou. As vezes, penso que Phillipe é um anjo da guarda, pois sempre esta la quando estou num perrengue, bem... nem sempre... Mas, de qualquer forma, desde que cheguei em Belvedere não para de acontecer coisa ruins comigo, é como se eu entendesse Laura - caso realmente ela tenha fugido - este lugar é maluco, e eu nunca fui de ser "a donzela em perigo" mas parece que viver na corte é estar completamente insegura.
Tento me levantar sem acordar Phillipe. O sol já esta a aparecer, colorindo o céu com seu tom amarelado, os pássaros cantando no alto das arvores, e um liquido escorrendo pelo meu pescoço... Passo a mão devagar sobre a ferida, sangue, a ferida abriu e esta doendo demasiadamente.
Ouço gritos ao longe, provavelmente alucinações por conta da fraqueza. Resolvo sentar novamente, pois foi uma péssima ideia me levantar. Os gritos vão ficando mais fortes, e agora eu consigo distinguir o que eles falam...
— Vossa alteza!...Rei Phillipe!..
Espere, não é alucinação, deve ser a guarda real vindo atrás de nós! Agarro os pés de Phillipe na tentativa de acorda-lo. Num pulo, ele se levanta em posição de defesa.
— Kallice, o seu pescoço esta sangrando. — Ele se agacha para tentar ver, mas eu o afasto.
— A cavalaria... escute! — É o máximo que consigo falar, mas acho que deu a entender.
Ele imediatamente se levanta e fica em silencio, até que escuta mais um grito e começa a gritar também. Pouco tempo depois, vários soldados a pé e a cavalo chegam até nós.
— Rápido, ela precisa de ajuda. — Ouço Phillipe falando para alguns guardas.
Eles me carregam até uma carruagem que esta na estrada. Tudo a minha volta esta lento. O sangue continua a escorrer pelo meu pescoço. Sinto que estou sendo levada até a morte... Quando entro, eles me deitam no estofado macio, e Phillipe entra logo após, sentado-se e apoiando minha cabeça em seu colo.
Minha mente voa longe e eu vejo um bebê, um pequeno e fofo bebê de olhos azuis, aparentemente acabara de nascer e eu estou deitada ao lado dele, e então eu percebo que também sou um bebê. Uma mulher mais velha de cabelos brancos se aproxima e me pega no colo, me levando para longe do outro bebê que começa a chorar. Eu não entendo o porquê desta mulher está me levando para longe, eu quero voltar, mas não tenho vontade própria neste momento, então tudo fica escuro...
***
Abro os olhos lentamente e pisco para me acostumar com a claridade. Devo está na enfermaria do castelo. A ferida ainda dói, mas não como antes. Acho que minha cabeça está toda enfaixada, por que está pressionada e quase não consigo a mover.
Escuto a porta se abrindo, mas não consigo ver quem é, até que ela finalmente parece na minha frente... Rafael.
— Oi! — Ele fala, sentando-se na cadeira ao lado da minha cama. — Vc está bem?
— Estou melhor, eu acho. — Minha voz sai um pouco rouca.
— Senti sua falta... — Ele passa a mão nas minhas bochechas — e depois que vocês desapareceram fiquei muito preocupado, principalmente com você. Tive medo, tentei ir ao seu resgate, mas o comandante preferiu me deixar no castelo cuidando de tudo.
Ele se aproximou mais de mim, e pegou na minha mão. Tentei mover a cabeça para olha-lo melhor, mas a faixa não me permitia fazer muito movimento.
— Sabe Kallice — ele continua — você foi a melhor coisa que aconteceu nesses últimos anos... Quando meu irmão se casou, eu tinha apenas quatorze anos e não entendia direito o significado da palavra casamento, mas depois que você chegou eu comecei a entender — ele tira do bolso uma pequena caixa e a abriu. Dentro dela, a um pequeno anel com uma pedra de esmeralda no centro. — Eu sei que esse não é o local apropriado, mas não quero perder mais tempo. Kallice, quer casar comigo?
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Kallice
Historical FictionEm meados do século XVI, fazia 8 anos que Kallice se viu perdida, sem qualquer resquício de sua memória. Seu marido, Eliot, havia lhe dito que a queda de um penhasco fora o que resultou naquele incidente. Apesar dos males ambos construíram uma...