Faz meia hora que Philipe tentando me explicar que o que ela sente não tem nada a ver com Laura. Ele roda de um lado para o outro com as mãos na cabeça tentando me fazer acreditar em suas palavras.
— Kallice, olhe nos meus olhos e diga o que você vê? — Ele para em minha frente e me olha. Eu tenho não olha-lo — Por favor!
— Eu vejo um homem um tanto carente. Perdoe-me a sinceridade. — falo, me distanciando dele.
O que não deixa de ser verdade. Desde que cheguei no castelo, percebi que Philipe é muito sozinho; apesar de ser rodeado por muitas pessoas, não é a mesma coisa que está com alguém que se ama; e desde que Laura desapareceu, eu nunca soube ele está com outra mulher. Por isso me faz acreditar que a minha semelhança com ela faça com que a sua cabeça confunda tudo.
— É Rafael,né?! — Ele fala me surpreendendo.
— Ham?
— Eu vi vocês dois se beijando ontem, quando eu fui atrás de você depois que você fugiu. Eu notei que vocês dois estão muito próximo e depois de ontem eu tive mais uma confirmação disso — Ele fala em um tom bastante triste e resolve se sentar na árvore. — Quando eu vi tive muita raiva e foi aí que eu percebi os meus sentimentos por você. Pensei em mandar você embora, mas percebi que não suportaria te perder, então resolvi fazer esse passeio tentar saber se você sente alguma coisa por mim também.
Aquilo me pegou de surpresa. Não imaginava que Philipe pudesse ter visto aquele beijo. Certa forma ele tem razão. Rafael se tornou uma pessoa muito importante para mim e aquele beijo mexeu bastante comigo. Mas o beijo de Philipe me fez sentir a pessoa mais feliz do mundo e eu nunca havia sentido isso, nem com Eliot nem com Rafael.
Me sento na árvore ao seu lado e encosto minha cabeça em seu ombro. Ele me abraça forte e me sinto protegida.
As horas se passam e a Philipe adormece, enquanto a minha cabeça não para de pensar em como isso está errado, fazendo uma lista mentalmente dos erros:
Primeiro: Philipe é cansado e ama Laura, além de ser um rei e uma simples plebéia.
Segundo: Eu perdi meu marido há um mês e eu não podia está me envolvendo amorosamente tão cedo.
Terceiro: Rafael aparentemente também nutre sentimentos por mim, o que claramente causa uma briga entre irmãos.
Quarto: Laura pode estar muito bem viva e voltar a qualquer momento.
Quinto e Último: Eu estou sem saber o que realmente sinto pelos dois. Eles são importantes para mim, mas amor de verdade, eu já não sei.
Eu tento ficar acordada, de vigia enquanto Philipe dorme, mas o cansaço me vence, o dia foi muito agitado, e eu adormeço.
Começou na escuridão e o cenário vai mudando e ganhando formas e cores. Abro os olhos. Estou vestida de branco, tipo um vestido de noiva bem simples, há uma mulher atrás de mim, olho para o seu rosto e a minha vó. Ela está arrumando os meus cabelos que não são tão compridos como são agora.
— Você tem sorte de ter encontrado um bom marido como Eliot. — Ela diz.
— Eu não queria me casar tão cedo, só tenho dezasseis anos, vó! — As palavras saem da minha boca sem eu mandar.
— Você não gosta de Eliot, querida? — Ela para o penteado e vai para minha frente.
— Sim, eu gosto muito dele, mas eu não vejo motivo para nos casarmos tão cedo. — mais uma vez as palavras saem do nada.
— Então está na idade certa de se casar. Eu me casei bem mais jovem que você. Lhe entendo, mas seus pais morreram da peste e eu não tenho muito tempo na terra também, o melhor jeito de te deixar segura é casando você agora com Eliot. É o melhor para você. Você entende? — Apenas faço que sim com a cabeça. — Ótimo, então vamos.
Saímos andando, então me lembro que estamos na parte dos fundos de uma capelinha que tem na aldeia. Saímos por trás para poder entrar na frente. Pronto no fundo da pequena capela, eliot me aguarda, as poucas cadeiras estão ocupadas pelos aldeões. Minha avó me guia até Eliot e coloca a minha mão sobre a dele; o toque de nossas mãos me fez despertar num pulo.
Então mais uma vez eu percebo que não foi apenas um sonho, mas sim uma lembrança, primeiro da minha infância, agora do meu casamento com Eliot.
Olho para o lado e Philipe não está mais aqui. Desorientada,me levanto e chamo. Saio andando no meio da floresta e nada dele aparecer.
Sinto uma pessoa atrás de mim e antes de me virar, ela me agarra e coloca uma faca em meu pescoço.
— Quietinha aí donzela, se não eu vou dilacerar essa faca no seu pescoço. — uma voz masculina fala, tento me soltar, mas é em vão. Ele rocha mais ainda a faca e a sinto me furando.
— Oque você quer? Eu não tenho nada. —falo em desespero.
— Pode não ter jóias, mas você tem algo muito valioso embaixo de suas saias que deve ser muito deleitoso. — o seu tom muda de sério para prazeroso.
Ele vai com a outra mão e tenta colocar embaixo do meu vestido.
— Não, por favor, não — Suplico — Philipe socorro, alguém me ajuda. — grito desesperada.
Ele me empurra no chão e se joga em cima de mim. Num vacilo dele, eu tento puxar a sua faca, mas ele é mais forte e empurra com mais força no meu pescoço. Sinto a carne rasgando e sangue quente escorrendo pelas laterais. Com dificuldade por estar apenas com uma mão, ele abaixa as calças e levanta o vestido. Fecho os olhos me preparando para uma dor mais intensa e para morte.
— Agora você vai ser min...grr
Ele engasga no meio da frase e cai de lado. Philipe aparece na minha frente e tenta me levantar. Olho para o homem e vejo que ele está com uma espada encravada no meio do seu espinhaço.
— Philipe... — minha voz sai fraca, a vista embaraça, me sinto fraca com a dor e caio em seus braços. — Obrigada!
Minha vista escurece, mas ainda sinto o calor de seus lábios sobre os meus, até não sentir mais nada...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Kallice
Historical FictionEm meados do século XVI, fazia 8 anos que Kallice se viu perdida, sem qualquer resquício de sua memória. Seu marido, Eliot, havia lhe dito que a queda de um penhasco fora o que resultou naquele incidente. Apesar dos males ambos construíram uma...