O anoitecer está próximo. Até agora nada de Pejor e seus soldados vindo a nossa procura.
Eu retirei meu vestido e o pendurei em uma árvore. Estou morta de vergonha, pois estou apenas com uma camisola de linho, um pouco transparente por estar molhado; e estou ao lado de um homem.
Philipe tenta não olhar diretamente para mim enquanto conversa consigo mesmo sobre "como deixou terem roubado nossos cavalos." Apesar de já ter dito a ele várias vezes que não foi sua culpa, ele continua a se torturar. Por um lado, estou aliviada por não ter trazido Mene, por outro lado, a medida que vai escurecendo, meu medo de passar a noite no floresta vai aumentando.
Apesar de eu ter morado numa aldeia rodeada por uma floresta, nunca passei uma noite em si dentro da mata. A carruagem que vi mais cedo, e quando fui atacada por flechas dias atrás, me fazem ter mais medo ainda; sem contar com os animais que aqui habitam.
Philipe continua se culpando, andando de um lado para outro com as mãos na cabeça.
- Philipe, pare um pouco - Peço a ele, indo para o seu lado e o segurando.- A culpa foi minha. Se eu não tivesse caído no rio, talvez pudéssemos ter impedido o surrupio.
- Não se culpe com isso - Ele olhou nos meus olhos e eu senti um arrepio passar pelo meu corpo. - Eu deveria ter deixado os cavalos mais perto. Você não tem culpa do incidente.
Eu o solto. A falta de minhas roupas está me incomodando. Vou até a árvore em que pendurei meu vestido. Está muito seco, mas continua molhado; todavia descido vesti-lo mesmo assim. Vou para atrás da árvore para poder vestir, ainda está um pouco pesado, mas não atrapalha em nada.
- A margem do rio fica muito fria a noite. É melhor irmos para a floresta. - Philipe fala pegando as nossas coisas.
Sem protestar - apesar de eu está com medo- o sigo floresta a dentro, talvez ele tenha mais experiência que eu, mas, ainda assim, não tenho total confiança.
A medida que andamos o sol vai ficando mais longe, a ponto de vermos apenas algumas luminosidade.
- Vamos parar aqui - Philipe colocou as coisas no chão e se sentou sente as raízes de uma sequoia e juntava folhas secas. - vou fazer uma fogueira para nós aquecemos. Sente aqui.
Ele pede para eu ir sentar ao seu lado e assim faço. Observo ele tentando fazer o fogo com apenas folhas e um graveto e, incrívelmente, ele consegue.
Minutos se passaram e o sol deu adeus, dando luz a lua cheia e as estrelas. Sempre gostei de observar o céu a noite. É facinante como essas luzes que parecem vagalumes aparecem todos os dias no mesmo lugar...
- Está com frio? - Philipe pergunta e eu acenti - Aqui, pegue. - Ele fala tirando sua camisa e me dando. Eu a visto e agradeço.
Sinceramente, ainda não entendi o amor não correspondido de Laura e Philipe. Sempre tive vergonha de falar no assunto, mas já que estamos aqui a sós, não custa nada tentar.
- Por que você não me conta como era sua relação com Laura? - Pergunto me arrependo no mesmo instante. Ele me olha com um brilho nos olhos, como se estivesse esperando por isso.
- Laura e eu éramos muito próximos quando crianças e eu acabei me apaixonando por ela - ele fala sorrindo - ela tinha um jeito meio bruto, mas nunca reclamou de nada, não pra mim. Eu fazia de tudo para agrada-la, mas parecia que nada funcionava. Infelizmente o amor só ocorreu da minha parte - seu sorriso deu lugar a um rosto sério e triste - Ela sempre deixava claro que se casou apenas por obrigações, e além de tudo havia boatos de que ela tinha outro no castelo. Eu tentava não acreditar, mas no fundo eu cogitava a ideia e isso me machucava demais -ele se levanta e olha para o horizonte. - Eu pensei em impedi-la de sair, impor minha ordem como seu marido e rei, mas não consegui e também não iria impedi-la de ver os pais.
- A cada dia percebo que ela perdeu um homem e tanto. Eu sinto muito, Philipe. - Falo indo até ele.
Philipe pega minha mão e me puxa para um abraço. Sinto seu corpo um pouco franzino, porém fortes, me apertarem. O calor invade nossos corpos e o frio que eu estava sentindo se desfez por completo. Seus olhos azuis me olham com destreza.
- Hoje eu posso dizer que não há amo mais. Nada verdade, estou gostando de outra pessoa. - Ele fala, colocando uma mexa de cabelo atrás da minha orelha.
Meu coração acelera com a possibilidade dele está blefando ou falando a verdade; e acelerar mais ainda em pensar quem pode ser...
- E quem é a felizarda? - pergunto tentando manter a postura.
- Ela está na minha frente!
Meu coração errou uma batida ao ouvir as palavras. Senti minhas pernas tremerem e o nervosismo tomar conta. Sem mais delongas, ele me beija, seus lábios quentes me envolvem, suas mãos apertam minha cintura. Meu mundo parou, e neste instante eu sinto que só existe nos dois nele. Mas tudo volta a realidade, e eu percebo que há muitas coisas erradas e me afasto.
- O que foi, Kallice? Perdoe-me se lhe ofendi, mas eu não consegui resistir. Esses beijo só foi uma grande confirmação do que sinto. - ele fala segurando minhas mãos.
- Para me também, Philipe, mas...
- Mas...?
Mas isso não vai dá certo. Ontem eu beijo Rafael, agora beijo Philipe. Minhas dúvidas sobre Laura e eu, e principalmente uma coisa.
- Mas você pode está gostando de mim, apenas por ver a imagem de Laura. Você não gosta de mim, você gosta da imagem que ver!
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Kallice
Historical FictionEm meados do século XVI, fazia 8 anos que Kallice se viu perdida, sem qualquer resquício de sua memória. Seu marido, Eliot, havia lhe dito que a queda de um penhasco fora o que resultou naquele incidente. Apesar dos males ambos construíram uma...