Acordo com o sol em meu rosto, e um barulho alto de trombetas. Mas por quê estão a tocar há essa hora da matina?
Me levanto rapidamente e vou até a janela. Lá em baixo fica o pátio. Gosto de observar esse lugar todos os dias ao acordar, porém hoje está tudo mudado. Não há mais borboletas entre as flores, pois o exército está cobrindo elas. Então eu percebi, ela é real e está mais perto que nunca. A guerra.
A guerra que dura há anos entre Alcans e Belvedere já está batendo a nossa porta. Me pergunto se Laura estiver viva, se ela saberá dessa guerra e qual seu sentimento em relação a ela.
Logo agora que eu e Philipe nos entendemos, logo agora depois de fazer planos para o futuro. Mas o que dirá o pai de Laura ao saber que Philipe está noivo de uma aldeã idêntica a sua filha? E voltamos para a estaca zero novamente.
Preciso procurar por Philipe, saber o que está havendo. Vou ao closet e pego o primeiro vestido que vejo, apenas para não sair de camisola pelo castelo. Esqueço espartilho e anágua, não são essenciais nesse momento de aflição.
Saio do meu quarto e vejo os corredores agitados por guardas e empregados correndo de um lado a outro apressadamente. Nunca vi o castelo dessa forma.
— Senhorita, por favor vá para um dos esconderijos, não é seguro ficar desprovida. — Um guarda fala quando passa rapidamente por mim.
Então é realmente ao sério. Lembro-me só protocolo de esconderijos em caso de guerras no castelo, que Aranel havia me dito. O castelo é cheio de esconderijos tanto para empregados, quanto para os nobres. Geralmente o dos empregados ficavam no meio do corredor, e o dos nobre nos maiores quartos. Cada esconderijo cabe de duas a três pessoas, contendo suprimentos e armas caso necessário. Mas antes de ir para algum, preciso encontrar Philipe. Após muito andar finalmente o encontro junto a Rafael. Corro até ele e o abraço. O melhor abraço possível, aquele que me conforta, que me abriga, que me faz esquecer de todo o resto e lembrar apenas de como eu o amo.
— Você deveria está escondida, não pode está exposta desse jeito. — Philipe fala me abraçando.
— Eu sei, mas queria te ver, saber como você tá e o que tá acontecendo porque não estou entendendo nada.
O que era verdade, eu apenas sabia da guerra e que ela estava vindo. Todavia quando cheguei ontem estava tudo calmo, e hoje já acordo com todo exército se preparando para uma batalha.
— Ontem a noite, quando fui resolver os trâmites para o nosso casamento...
— Vocês vão se casar? — Rafael interrompe Philipe e nos olha espantado. É claro que ele não sabia de nada e não queria que ele soubesse dessa forma. — Desculpe o equívoco, irmão. — Ele se esquiva e endireita a coluna.
— Sim, irmão, estamos noivos e pretendo nos casar o mais rápido possível. Enfim...— Philipe se vira para mim. — fui abordado por um guarda que recebeu uma pombo correio de um dos nosso informantes dizendo que viu o exército de Alcans saindo em meio a madrugada. Provavelmente queriam fazer um ataque surpresa, mas felizmente consegui reunir todo o exercício e estamos a espera o que não vai demorar muito a acontecer. Preciso ir para frente do exército.
— Deixe-me ir com você, por favor. — Suplico, surpreendendo a mim mesma.
— Não Kallice. Apesar de quase ninguém saber que és minha noiva, sua semelhança com Laura pode complicar as coisas — ele pega minhas mãos e segura firme. — Quero que você vá para o esconderijo em seu quarto com Rafael. Confio apenas nele para lhe fazer companhia e lhe defender caso necessite. — ele fala olhando para Rafael e eu.
— Não se preocupe, Philipe, eu cuidarei dela. — Rafael fala num tom sério.
Philipe me olha e eu já sei que ele tem que partir. O abraço novamente, dessa vez mais forte, desejando que aquele abraço não termine nunca. "Volte para mim" exclamo no seu ouvido. "Irei voltar e iremos nos casar. Eu lhe prometo" ele responde. Nos soltamos e ele me beija rapidamente, acena para Rafael, e vai embora em meio ao corredor; logo descerá as escadas e chegará ao pátio para prosseguir com seu exército bravamente, numa batalha onde não vejo sentido algum.
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Kallice
Historical FictionEm meados do século XVI, fazia 8 anos que Kallice se viu perdida, sem qualquer resquício de sua memória. Seu marido, Eliot, havia lhe dito que a queda de um penhasco fora o que resultou naquele incidente. Apesar dos males ambos construíram uma...