1- 8 anos depois

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Kallice...

Escuto uma voz bem longe me chamado.

Kallice, abra a porta é urgente!

Desperto do sono rapidamente. A voz continua me chamando e as batidas na porta estão frequentes.

- Estou indo - falei com voz sonolenta indo até a porta e abrindo-a. - O que houve? Por quê tanta urgência?

Abri os olhos direito e vi três homens carregando um outro homem. O homem que se dizia meu marido, mas que nunca havia me tocado ao longo desses anos.

- O que aconteceu com Eliot? - pergunto desesperada. - Entrem, coloque ele sobre a cama. - Eles o deitaram na cama e um deles virou para mim.

- Ele caiu do cavalo e bateu a cabeça numa pedra. Esta muito ferido. Disse que queria vim para casa para falar com você, mas no caminho ele desmaiou. Não tem nenhum médico ou curandeiro na aldeia... O ferimento tá muito grande... Eu sinto muito, kallice, mas acho que ele não sobrevivera.

- Darei um jeito. Obrigada por trazerem ele.

Eles ficaram um pouco. Tomaram água e depois foram embora.

Fiz um moento com ervas para a ferida de Eliot. Esta muito grande e saindo bastante sangue. Coloquei o moento e cobri a cabeça com um pano.

Era estranho vê-lo assim. Ele sempre cuidou tão bem de mim, desde o acidente.

Eu perdi a memória há oito anos. Segundo Eliot, nasci e fui criada nessa aldeia de caçadores. Meu pai era caçador, minha mãe dona de casa e fazia cestos de palha para ajudar na renda. Eles morrem e Eliot se casou comigo para tomar conta de mim. Ele disse que éramos muito apaixonados, mas eu só tinha dezesseis anos e pouco tempo depois andando de cavalo pela floresta, tentaram me assaltar e na tentativa de fuga acabei caindo em um penhasco e perdi a memória. Acordei nessa casa estranha, com Eliot se dizendo meu marido. Eu não lembro de nada antes desse dia.

Eliot começa a gemer. Sento ao lado dele e pego na sua mão. Ele abre os olhos aos poucos, tenta dizer algo, mas faço sinal para ele não falar nada, apenas descansar.

O dia passa correndo. Alguns aldeões vêem ver como Eliot está. Ele continua dormindo, mas percebo uma melhora significativa em seu rosto, que antes estava pálido, agora está bem mais corado. Consegui estancar um pouco o sangue, mas ainda continua sangrando. A ferida está muito grande. Não sei por quanto tempo ele irá resistir.

A noite chega, acendo as velas, pego lenha e acendo o fogo para fazer uma sopa de carne de cervo que ele trouxe ontem.

- Kallice... - Ele me chama baixinho e com voz fraca.

- Oi, querido. Estou aqui! Estou preparando uma sopa para você melhorar logo. - falo, sentando ao seu lado.

- Sua comida é muito deliciosa. Acho que terei tempo de fazer minha última refeição.

- Não fale assim, Eliot - falei quase chorando. - Você não vai morrer.

- Kallice, assim que eu partir desse mundo, vá embora daqui. Vá para Alcans ou Belvedere que são os reinos mais próximo daqui. Ficar aqui só é muito perigoso. Me prometa que vai embora!

- Mas, Eliot...

- Me prometa! Por favor! - ele falou me interrompendo. Seu olhar era de medo e preocupação.

- Eu prometo. Mas não vamos pensar nisso agora, você não vai morrer. Vou terminar de preparar sua sopa.

Ao terminar o preparo, dei a ele de colherzinha. Ele comia enquanto ria, era majestoso vê-lo tão bem humorado mesmo estando a beira da morte.

Ficamos lembrando de coisas do passado. De quando, nas primeiras noites após o meu acidente, eu não o deixava me tocar, pois tinha medo; foi tudo muito confuso pra me naquela época. Ao longo dos anos fomos construindo uma grande amizade, trocamos alguns beijos, mas nada além disso. Mesmo estando casados, mesmo eu já tendo confiança nele, nunca tive a certeza de nada, e sentia que não estava preparada para me entregar.

Vê-lo assim agora, me parte o coração em pensar que não fui a mulher que deveria ter sido após o acidente. Eu sabia que uma hora ele ia partir, só não imaginava que esse dia chegaria tão cedo.

Após a janta ele adormeceu. Troquei o pano, que já estáva todo ensanguentado, por outro limpo. Me deitei ao seu lado e fiquei o observando. Seus cabelos pretos então encharcado de sangue, sua pele está mais escura por causa da lama que havia secado. Amanhã tentarei da um banho nele.



Na manhã seguinte, me levantei cedo e fui preparar um café da manhã especial. Fui no bosque e peguei algumas frutas, coisa que não fazia a um bom tempo. Mas quando cheguei em casa percebi que Eliot continuava imóvel, na mesma posição em que foi dormir, e ele se meche muito enquanto dorme.

Fui até ele e tentei acorda-lo. Peguei em sua mão e já estava muito gelada. Cheguei a sua respiração e ele já não respirava. Uma tristeza invadiu meu peito. O homem que me acompanhou durante todos esses anos está morto.

Pedi ajuda aos meus vizinhos para enterra-lo. Logo, seu amigos chegaram e prepararam uma cova atrás da minha casa. Limpei o corpo dele com um pano e coloquei sua melhor roupa.

Sobre aplausos, ele foi enterrado com dignidade. Todos ali gostavam dele, inclusive eu.

Após todos saírem. Peguei minhas poucas roupas e juntei numa bolsa. Fechei a porta de casa e dei um último adeus a Eliot. Peguei o cavalo e fui em direção a estrada principal.

Tem dois caminhos. A direita vai para Belvedere, a esquerda para Alcans. Deixei o cavalo descidir.

- Vamos, Mene. Para qual direção devemos ir ? - perguntei a ele.

Como se tivesse entendido tudo, ele tomou uma decisão e saiu em direção ao reino mais próximo. Belvedere.

KalliceOnde histórias criam vida. Descubra agora