A volta para casa seria tranquilo se não fosse o caminho pedregoso que estamos a percorrer. Os solavancos atrapalham meus pensamentos.
Estou tentando por toda a cabeça em ordem com tudo que aconteceu ontem. A medida que o tempo passa, vou tirando diferentes conclusões. O quebra-cabeça está sendo montado, faltando apenas alguma peças para resolver tudo. Eu deveria trabalhar na guarda real. Conseguiu descobrir mais coisas em dois meses que os próprios soldados em oito anos.
Fico pensando: e se Laura voltar? Seria um choque total. Não sei como Philipe nem Rafael reagiriam com isso, já que ambos a amavam ou ainda amam. Mas apenas a ideia de perder Philipe para sua própria esposa me dói muito.
Eu o amo, mas não na mesma intensidade que ele diz me amar; a prova disso foi o ocorrido entre eu e Killian, fato que quero esquecer o mais breve possível. Rafael se tornou uma pessoa muito especial pra mim, mas saber dele e de Laura me fez pensar coisas que nunca havia imaginado sobre ele. Porém me fez perceber que é de Philipe quem eu realmente gosto, e passaria minha vida ao lado dele se fosse possível.
O sol começa a se pôr, e a floresta vai dando lugar ao campo. Finalmente cheguei.
Ao chegar no castelo, Aranel vem me receber e me dá uma abraço apertado.
— Você não sabe a falta que fizeste aqui. — ela fala sorrindo.
— Também senti saudades. Não há nada melhor que o lar.
— Vamos, o rei mandou preparar uma bandeja recheada para o seu desjejum e um banho quentinho para sua chegada.
Subimos as escadas e fomos direto para o meu quarto onde uma arrumadeira estava terminando de preparar meu banho. Em cima da penteadeira há uma bandeja cheia de frutas e ao lado vinho. Aranel me deixou no sozinha para que eu podesse me acomodar. Peguei a bandeja e levei para o banheiro e me despir.
Entro na banheira, sua água morna relaxa meus músculos e eu afundo. Como uns uvas e tomo um pouco de vinho, me sentindo uma rainha nesse momento.
O sol já se pôs dando lugar a uma linda lua crescente. Todas as velas do meu quarto estão acesas, deixando o ambiente bem claro. De tanto relaxar, acabo cochilando dentro da banheira.
— Kallice?
Escuto uma voz longe me chamando e eu desperto aos poucos enquanto a voz continua a me chamar. Quando desperto de vez, vejo Philipe na porta do banheiro me olhando e grito:
— Meu Deus, Philipe saia daqui. — inutilmente tento me cobrir. Ele se vira e começar a rir.
— Desculpe, eu bati na porta ninguém respondeu, entrei e nada quando te vi de olhos fechados achei que estivesse desmaiada ou morta. Ninguém dorme no banho. — ele fala ainda rindo.
— Feche a porta por favor. Ao menos deixe-me colocar alguma vestimenta.
Ele fecha e eu me levanto da banheira, brava e envergonhada por Philipe ter me visto assim. Pego uma camisola e um roupão e visto. Saio do banheiro e Philipe está sentando na cama a minha espera.
— Desculpe novamente. Não foi minha intenção vê-la de tal forma — Ele diz se levantando — É que eu estava com saudades e queria ver se está tudo bem contigo.
No fundo eu entendo sua aflição e medo, pois ele sente receio pelo o que aconteceu com Laura. Acho que devo expressar um pouco de sentimento também. Afinal eu também senti falta dele.
— E...eu também senti saudades... — ao me ouvir ele só aproxima mais de mim e me beija delicadamente.
— Então como foi Hambridge? — ele pergunta se afastando.
— Ah, normal — minto, não quero contar sobre o que realmente aconteceu — Podemos falar disso amanhã?
— Claro, só me responda uma coisa. — meu deus ele sabe, é meu fim — Killian se comportou direito com você? Ele não tem uma fama muito boa, então...
— Sim, sim. Conversamos brevemente sobre qual era o assunto que me trouxe até lá e só. Amanhã vou te passar todo o relatório que fiz.
Ele me puxa e me beija novamente. Seus lábios me fazem sentir uma energia que nunca havia sentido antes. Ele me envolve em seus braços me apertando com força e intensificando o beijo, me levando até a cama e deitando-me nela, ficando por cima de mim. Acho que estamos avançando um pouco. Fiquei mais consciente depois de Killian.
— Philipe, espera. Para por favor. — me afasto para o lado da cama.
— Desculpe Kallice, me empolguei demais. É que eu te amo demais e fiquei louco quando te vi na banheira. É melhor eu ir embora.
Ele se levanta ido até a porta. Penso que se eu fui capaz de quase me entregar a Killian por que eu mal conhecia, por que não a Philipe que é quem eu verdadeiramente amo? Eu o quero, e quero que ele me faça sua por inteiro. Imediatamente me levanto e descido fazer uma coisa da qual eu possa me arrepender futuramente, mas se é isso que eu quero, devo aproveitar cada instante.
— Philipe — ele já está quase na porta quando o chamo, ele vira e arregala os olhos quando me ver tirando o roupão, ficando apenas de camisola. — eu quero!
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Kallice
Historical FictionEm meados do século XVI, fazia 8 anos que Kallice se viu perdida, sem qualquer resquício de sua memória. Seu marido, Eliot, havia lhe dito que a queda de um penhasco fora o que resultou naquele incidente. Apesar dos males ambos construíram uma...