Capítulo 11

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Natasha

Encarei o livro em minha mão e depois olhei em volta procurando algum lugar calmo para conseguir entrar no meu mundo literário particular.

Se eu pudesse, passaria a vida inteira assim sem nenhum problema.

As aulas já haviam acabado e os alunos poderiam ter seu horário de lazer, bom, lazer para mim significa enfiar a cara nos livros então queria um lugar tranquilo sem que ninguém me incomodasse.

Beth disse que precisava dormir um pouco, o que não era nenhuma novidade, qualquer oportunidade dela dormir, estava aproveitando.

Passava um pouco mais das 16:00 da tarde, então resolvi tirar um momento para mim, antes de ir para o quarto passar como disse Beth, " a noite das garotas". O que me lembra um fato que eu mesma me surpreendi, que é gostar de Emma tão facilmente, eu... Não sei explicar simplesmente aconteceu. Não sou de ter contato com amigos que não seja Beth, na verdade eu nem gosto de ficar perto de pessoas.

Mas Emma me passa confiança e sinceridade, fiquei pensando sobre isso nas últimas horas, e cheguei a conclusão que não posso mais me fechar totalmente aos outros, acho que vai ser bom para mim ter mais uma amiga. E para ser sincera, acho que não consegui fazer mais amizades depois que tudo aconteceu, por medo, medo de dar um voto de confiança a outra pessoa, medo de me decepcionar. E eu espero ter tomado a decisão certa.

Caminhando pelo jardim procurando um ambiente mais reservado, avistei o que parecia ser um bosque bem afastado quase no fim do jardim chegando perto das montanhas que tinham atrás do colégio. Deixei a curiosidade me vencer e andei até lá.

Subi alguns mini degraus olhando uma pequena cabana de madeira logo a frente.

Caramba.

Andei vendo a poeira acumulada no assoalho indicando que aquele lugar não era limpo a bastante tempo, e quando ergui o meu olhar fiquei estática espantada com a visão que tive. Tinha um pequeno lago, bem em frente a cabana, com muitas árvores em toda a minha volta e as montanhas gigantes muitos metros a minha frente.

A paisagem era extraordinária.

Não sei quanto tempo fiquei admirando aquele lugar, mas logo depois engoli seco olhando para trás vendo que eu estava muito longe do colégio, conseguia ver os muros altos de lá, porém eu estava em uma distância consideravelmente grande.

Hum, certo.

'Será que eu fui prudente me afastando tanto assim ?' perguntei a mim mesma. Bom não parecia nada assustador nem coisa do tipo, era apenas um lugar que aparentemente não era visitado a muito tempo. Mas, por que ?

Talvez pode ser por aquilo que Emma nos contou quando estávamos andando pelo corredor minutos atrás, o colégio apesar de ter uma cara moderna, na verdade é bem antigo. Provavelmente lugares como este aqui acabaram sendo esquecidos. Pensando melhor isso até faz sentido.

Olhei para a porta que dava entrada ao interior da cabana e ergui a mão sobre a maçaneta vendo que ela estava destrancada, abri a porta lentamente que fez aquele típico barulhinho chato de portas velhas.

Olhei em volta vendo tudo escuro, e apoiei as mãos na parece a procura de algum interruptor, sorri internamente quando encontrei um e liguei a luz.

Nossa, era apenas um cômodo pequeno porém aconchegante, tinha um sofá velho no canto esquerdo que parecia não ser usado a muito tempo, ok, ao mesmo tempo que isso era estranho, também era fascinante.

Se esse lugar não vê a cara de ninguém a um bom tempo, eu não estou errada em bisbilhotar aqui certo ? Eu espero que não.

Voltei para varandinha e me sentei no chão com a vista do lago e das montanhas na minha frente, sorri relaxada assim que o vendo bateu no meu rosto balançando meus cabelos.

Peguei o livro e abri na página que tinha deixado marcada e comecei a mergulhar no meu mundinho.

"São muitos os meus defeitos, mas nenhum de compreensão, espero. Quanto a meu temperamento, não respondo por ele. É, segundo creio, um pouco ríspido demais... para a conveniência das pessoas. Não esqueço com facilidade tanto os disparates e vícios dos outros como as ofensas praticadas contra mim. Meus sentimentos não se manifestam por qualquer coisa. Meu temperamento poderia talvez ser classificado de vingativo. Minha opinião, uma vez perdida, fica perdida para sempre."

Encarei o parágrafo que já tinha lido tantas vezes mas que o efeito sobre mim era sempre o mesmo. Respirei fundo passando algumas páginas que eu sempre marcava quando havia frases que mexiam comigo.

"A reflexão deve ser reservada para momentos solitários; assim que fico sozinha eu volto a refletir; e não passo um dia sem meus passeios solitários, durante os quais posso me permitir toda a delícia das recordações desagradáveis."

Pisquei algumas vezes encarando as palavras na minha frente, é tão difícil quando você passa por alguma situação ruim, um trauma, e muitas das coisas que faz no dia a dia acabam fazendo sempre você se lembrar de tudo que ocorreu.

Respirei fundo implorando e bloqueando mentalmente todo tipo de pensamento ruim que iria me fazer lembrar daquele maldito dia.

Devo ter ficado uns 10 minutos com os olhos fechados concentrando meus pensamentos em outras coisas, até que minha vente vagou no acontecido com Rafael ontem a tarde, um jeito curioso e estranho de se conhecer alguém devo admitir.

Ri baixo vendo o quanto o destino pode ser uma canalha as vezes, primeiro Beth teve o incidente com Michael no supermercado, depois aconteceu aquela situação embaraçosa com Rafael.

E bom... Emma pode ter tentado disfarçar mas eu percebi o jeito diferente que ela olhou para o Thomas, e eu duvido que isso seja coisa da minha cabeça. Eu sou praticamente uma especialista em decifrar olhares.

Já perdi as contas de quantos romances eu já li, isso acaba me fazendo saber sobre paixão e olhares apaixonados.

È até irônico uma garota que gosta tantos de romances, mas que não pensa nem um pouco em vivenciar um.

Quando eu era uma criança ingênua, imaginava que um dia eu iria encontrar um amor tão verdadeiro quanto o de meus pais, alguém que me respeitasse, me desse amor e carinho, e estivesse comigo me todos os momentos.

Mas eu me enganei, tudo isso não passa de uma baboseira.

A vida real e o mundo é uma merda, repleto de pessoas ruins que fazem mal e espalham ódio gratuitamente aos outros. E infelizmente, isso é a droga da realidade.

Quer dizer eu acredito no amor, acredito que duas pessoas podem se apaixonar e viver um amor e paixão tão forte a ponto de querer passar o resto da vida juntos.

Mas eu não acredito mais na humanidade, o mundo está cheio de pessoas más e horríveis, criminosos, estupradores, chantagistas, pessoas falsas, interesseiras e tudo o que há de ruim no universo.

Não acho que as pessoas já nascem ruins, isso não, mas elas mudam e tem a possibilidade de escolha de fazer o bem ou o mal.

Então, como eu posso depositar minha confiança em alguém, se eu não posso saber se ela vai me machucar ou não no futuro ?

Acho que a minha história já foi escrita, não da forma que eu queria ou imaginava, com traumas e acontecimentos tristes, mas isso já é uma realidade aceitada por mim e sinceramente, não acho que irá mudar.

Ergui a cabeça e vi a paisagem incrível do por do sol, parecia ainda mais bonito com o reflexo batendo na água, caramba, eu preciso fazer uma pintura disso, porém ao perceber que já estava naquele lugar há muito tempo, me levantei limpando minha saia que estava meio suja de poeira.

Olhei para a cabana mais uma vez antes de dar as costas e caminhar de volta para o colégio.

È, acho que encontrei um lugar secreto.

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Nossa por que eu também não encontro um lugar secreto desses só pra mim ??? Queria...

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Um beijão

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