📚 Capítulo 1 📚

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- Para a próxima aula, quero que leiam, estudem e tragam a Lei de diretrizes e bases da educação nacional! - diz Nelson, o professor mais carrasco da universidade ao final de sua aula.

Odeio legislação! Odeio tudo que envolva leis. Estudo pedagogia e tenho certeza que não vou precisar ensinar aos meus alunos o artigo quarenta e um da lei de diretrizes e bases.

Meu plano era sair da aula e ir comer um pastel antes de voltar pra casa e dormir a tarde toda, mas agora tudo foi por água abaixo.

- Quer saber? Que se dane! - falo caminhando em direção a pastelaria do outro lado do campus.

Como um delicioso pastel de carne com queijo, meu favorito, e levo outro para comer mais tarde, porém, o cheiro estava irresistível e acabei devorando-o no meio do caminho mesmo.

- Achei que fosse chegar mais tarde - Luana diz saltando do colo de um loiro alto que está sentado no sofá.

- Podem ficar a vontade - sorrio sem paciência ao caminhar em direção ao meu quarto.

Luana é minha colega de apartamento e toda semana conhece alguém da universidade. É um ciclo sem fim.

Eu ia tomar um banho e ir pra biblioteca, mas ao ver minha cama tão linda, tão aconchegando, decido tirar um cochilo para repor as energias e depois vou ver se acho o livro que preciso.

ღღღ

Se eu soubesse antes que a biblioteca da faculdade é essa paz às 19h viria nesse horário todos os dias, pois sempre que venho a tarde está cheio de gente sussurrando por todos os cantos, impossível de se concentrar para fazer qualquer coisa. Isso sem mencionar a disputa por uma mesa vazia. Pensava que a noite era pior, mas me enganei.

Escolho uma mesa bem afastada, deixo meu material sobre a mesma e pego umas anotações para me ajudar a buscar o livro que preciso.

Pergunto para o bibliotecário onde fica o corredor para achar a LDB e vou até lá, mas não acho nada. Provavelmente já vieram mais cedo e levaram. Então, vou até a sessão de livros do curso de direito, pois deve ter algo para me ajudar, mas fico toda perdida!

- Tem certeza que precisa desse livro? - ouço uma voz grossa e bonita sussurrando atrás de mim.

Quase caio pra trás ao ver a própria perfeição.

- Sinceramente? Não sei - dou risada.

- Posso te ajudar?

- Você trabalha aqui? - pergunto para o lindo rapaz, rezando para ele responder que sim, pra eu poder voltar várias vezes só para vê-lo.

- Não, mas sou especialista nesse corredor.

- Fã de leis?

- Quase isso. Sou estudante de direito - ele sorri orgulhoso.

- Agora tudo faz sentido. Não quero tomar seu tempo, mas vou aceitar sua ajuda - sorrio entregando a ele o papel com minhas anotações e logo e ele acha o bendito livro.

- Aqui está o que precisa - pego o livro de sua mão e ele volta a procurar algo na estante - esse aqui também é ótimo para educadores.

- Pedagogias do século XXI, mas o que isso tem a ver com o curso de direito?

- Não tem, mas alguns estudantes escondem livros em outras sessões pra poderem pegar depois - ele ri - alguém deixou esse e eu já dei uma olhada, é interessante.

- Obrigada - sorrio - eu ia passar o dia inteiro aqui se não fosse por você.

Saio caminhando de volta a mesa, mas o rapaz veio na minha direção.

- Desculpa, mas qual o seu nome?

- Ellen, e o seu?

- Felipe, muito prazer - ele sorri.

Não respondo nada, apenas retribuo o sorriso tentando disfarçar o fato de que fiquei feliz por saber seu nome.

- Posso te acompanhar, Ellen? Prometo que fico em silêncio.

Assinto e ele senta na mesma mesa que eu, de frente para mim.

Só não entendi porque esse cara quis sentar junto comigo sendo que tem várias mesas vazias.

Juro que tento me concentrar no que preciso, mas é difícil com esse projeto de perfeição bem na minha frente.

Sem qualquer possibilidade de conseguir prestar atenção, disfarço que estou estudando, quando na verdade não paro de tirar os olhos de Felipe, que realmente está focado no que faz.

Ele balbucia algumas coisas, franze a testa de um jeito fofo tentando entender o que lê e faz várias anotações em seu caderno.

Eu devia ir embora? Sim, seria melhor estudar em casa já que não estou fazendo isso aqui, mas não quero. Não consigo.

Fico tão distraída que nem me dou conta do horário.

- Estou indo embora, obrigada pelos livros - digo sorrindo ao levantar-me.

- Está tarde para andar por aí sozinha, posso te acompanhar se quiser.

- Moro aqui perto, não tem problema.

- Esse campus é perigoso uma hora dessas, Ellen.

- E se o perigo for você? - Deus, por que eu disse isso?!

- É, você tem razão - ele sorri debochado pegando suas coisas e saindo - tchau Ellen.

Ao ver que fiquei sozinha na biblioteca silenciosa, saio correndo na direção de Felipe.

- Ei, espera! - ele olha para trás - aceito a companhia.

Sem responder, ele apenas sorri convencido e saímos juntos.

Moro cerca de dez minutos a pé da biblioteca. Por alguns segundos penso em enganá-lo sobre onde moro, afinal de contas, acabei de conhecê-lo. Mas conforme fomos andando e conversando senti que posso confiar nesse desconhecido.

Aponto para Felipe onde fica o meu prédio ele me deixa na calçada.

- Obrigada por vir comigo.

- Que nada, é caminho. Fica bem - ele dá um beijo na minha bochecha em despedida - até mais, Ellen.

Percebo que ele espera eu entrar e fechar a porta da entrada do prédio para depois ir embora.

Chego em casa e fecho a porta, correndo para a janela na tentativa de vê-lo mais um pouco, mas é em vão.

Sorrio ao lembrar dele querendo se sentar comigo, me trazendo em segurança e dando um beijo na minha bochecha.

Pareço uma boba! Tento dispersar qualquer pensamento sobre Felipe. Ele apenas foi gentil e provavelmente não o verei de novo.

Encontros na bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora