Um mês nunca demorou tanto para passar!
Eu amo minha família, mas uma semana juntos é suficiente.
Faltam só dois dias para voltar para a faculdade e já conto os milésimos de segundos pra que aconteça logo.
Meu pai só sabe falar que preciso arrumar um emprego e minha mãe só reclama que eu não faço nada direito.
O único que não me atormenta é meu irmão, mas ele só não fala nada porque tem a própria família para encher o saco.
Aliás, dona Lucia e seu Nicolau não cansam de falar o quanto preciso de um namorado, pois Eduardo já casou e tem uma filha, jogando na minha cara que literalmente fiquei pra titia.
Nunca dei importância pra esse tipo de coisa, mas a pressão que meus pais fazem me incomoda. Parece até que é errado querer ficar sozinha, apesar de que no meu caso é mais falta de opção mesmo. Ou era.
Não sou de me imaginar fazendo planos com ninguém, mas com Felipe é diferente. Penso até nas flores que quero no nosso casamento.
Preciso ir com calma, eu sei.
Passei o mês inteiro esperando chegar uma mensagem sua, mas ele simplesmente sumiu! Provavelmente tem mais o que fazer já que disse que ia trabalhar.
Talvez pela ausência dele os dias aqui passaram tão arrastados.
- Vamos dar uma volta? - minha mãe pergunta ao entrar no quarto - logo mais você já vai embora, queria que fizéssemos um programinha só nosso.
- Por mim tudo bem - sorrio.
Ela adora me criticar, mas não vive sem mim. Sei que preferia que eu voltasse e fizesse faculdade aqui, mesmo que eu esteja em uma das melhores universidades do país. Queria me ter por perto, afinal de contas, depois que meu irmão se casou, o ninho ficou vazio.
Na nossa cidade não tem muito o que fazer, então passamos numa sorveteria e ficamos sentadas num parque jogando conversa fora.
- Seria tão bom se voltasse, seu irmão tem uma vaga na fábrica de tecidos e pode conseguir pra você.
- Nem começa, mãe.
Já devia imaginar que não seria só um passeio.
- Ellen, você precisa de um emprego e seu irmão tem um disponível.
- Vou encontrar um emprego perto da universidade, não se preocupe.
Cada vez que falam que preciso trabalhar, sinto que sou um fardo.
Reconheço o esforço que fazem para me ajudar com a faculdade, e sou muito grata. Tenho um certo receio para me socializar, e por isso ainda não fui atrás de algum emprego, mas voltando para o campus é a primeira coisa que vou fazer.
ღღღ
Termino de arrumar minhas coisas e o cheirinho da macarronada da minha mãe invade o quarto.
Ela inventou um último jantar em família antes que eu volte para a faculdade.
Quando chego à mesa e meu pai, meu irmão, minha cunhada e minha sobrinha de três anos já estão sentados esperando minha mãe com a travessa de macarrão.
- Ansiosa pra ir embora logo? - meu irmão brinca.
- Você não faz ideia - digo em tom de chacota, mas mal sabem eles que estou mesmo ansiosa pra isso.
- O que você faz no campus além de estudar? - minha cunhada pergunta. Ela é naturalmente curiosa.
- Vou a festas, encho a cara, durmo nas calçadas, essas coisas - de repente todos me olham estranho - que horror, eu estou brincando!
- Ufa - minha mãe ri.
- Geralmente eu só estudo e fico no apartamento. E na biblioteca.
- Só isso? Não sai com os seus amigos, procura estágios, atividades extras, etc.?
- Me inscrevi num programa de estágio remunerado para o próximo semestre e não gosto muito de sair.
Passo o jantar inteiro fingindo prestar atenção em tudo que falam sobre a minha vida enquanto saboreio a macarronada a bolonhesa que minha mãe fez.
Terminando o jantar, brinco com a minha sobrinha. E sendo bem honesta, essa foi a coisa mais divertida que fiz por aqui durante esse mês.
ღღღ
- Volta logo, filha! Não deixa pra vir só de seis em seis meses.
- Vocês também podem ir me visitar, mãe.
- Essa aí morre de medo de pegar a estrada! - meu pai comenta.
Depois de muito chororô na despedida, sou uma das últimas a entrar no ônibus.
Sento numa poltrona do corredor, e dessa vez estou acompanhada de uma senhorinha muito simpática que devora biscoitos de polvilho durante toda a viagem.
Faltando menos de meia hora para chegarmos ao destino, aviso Luana, que para a minha surpresa já me espera na rodoviária.
- Finalmente você voltou! - ela me abraça forte.
- Faço tanta falta assim? - brinco ao retribuir o afeto.
- Odeio ficar sozinha.
- Quer que eu acredite que passou todos esse dias sozinha?
- Ok, eu não fiquei sozinha, mas precisava de você.
- Pois agora estou aqui para te atormentar por mais seis meses!
- É estranho eu ficar feliz por isso? - ela ri.
Durante a volta para o apartamento, Luana me conta algumas fofocas que soube pelo campus e também fala sobre os seus casos de uma noite.
- Devo dizer que aproveitei a casa toda!
- Eca, Luana.
- Não se preocupe, limpei tudo.
- Espero que meu quarto tenha sido poupado.
- Acho que foi o único cômodo que se safou.
Minha colega de quarto é maluca, acabo de comprovar isso!
Ao chegarmos, saio correndo e me jogo na cama.
Viajar de ônibus é ótimo, mas a dor nas costas depois é cruel.
Descanso por um tempo enquanto Luana pede nosso jantar e fico mexendo no celular. Entro nas minhas redes sociais, assisto alguns vídeos aleatórios e ainda sim, fico a espera de alguma mensagem de Felipe.
Por que será que ele não falou comigo?!
- As vezes ele não teve tempo, você mesma disse que ele ia trabalhar nas férias - Luana fala de boca cheia.
- É, pode ser - respondo desanimada.
- Você está apaixonada por ele, não está, Ellen?
- Claro que não, é só um bom amigo que senti falta durante as férias.
Antes que minha colega de apartamento prolongue o assunto, termino de comer e volto para o quarto.
Fico deitada olhando para o teto com a pergunta que Luana fez pairando na minha cabeça.
Será?
Meu hobby favorito é ficar com ele na biblioteca. Passei um mês esperando ele falar comigo. Sinto um buraco no peito por ficar todo esse tempo sem sua presença, seu sorriso, sua testa franzida enquanto estuda deixando-o ainda mais bonito...
Droga!
Me apaixonei mesmo por Felipe.

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Encontros na biblioteca
Storie d'amoreInspirado em pessoas reais, essa história vai te fazer suspirar com Ellen, uma estudante de pedagogia tímida, introvertida, mas muito cativante; e Felipe, estudante de direito, simpático, cheio de amigos e um tanto reservado. Os dois se conhecem po...