Pra uma viagem repentina e cheia de conflitos, conseguimos chegar sem maiores danos a casa dos meus pais. Lucas não conseguia ficar nenhum segundo no mesmo lugar, não sei por ser um local grande ou porque também estava ansioso. Aguardávamos pelos meus pais na sala de estar. Luara roía as unhas de nervosismo, enquanto Alexandra tentava acalmá-la. Bom, e eu, não conseguia nem respirar corretamente, foram anos sem contato com eles e revê-los daquela maneira não seria agradável, sabia que não, pois conhecia bem meus pais.
Meu pai Augusto foi o primeiro a descer as escadas. O conhecia bem pra saber que aquela expressão séria escondia uma de suas grosserias certas. Suspirei nostálgico.
— Vocês sequer se deram o trabalho de arrumar o garoto. — disse ele, fitando Lucas. — Quem veste uma criança assim?
Ele caminhou na nossa direção de cabeça erguida. Olhei rapidamente para Luara, minha preocupação era de que ela dissesse alguma coisa, uma resposta a altura para o meu pai. Eu queria respondê-lo, mas como o esperado ela mesma fez isso.
— Senhor, como mãe dele, priorizo o conforto do meu filho! — exaltou-se, levantando-se do sofá. Meu coração disparou, receoso do que poderia acontecer.
Minha prima e eu trocamos olhares silenciosos sem saber o que fazer. Tinha como a tensão piorar? Sim, tinha, dona Lurdes minha mãe surgiu, com um dos seus vestidos elegantes e de nariz empinado, intrometendo-se no assunto.
— Mocinha, você não é a mãe dele de verdade. — comentou, indo em direção ao Lucas. — Querido, você está bem? Essa mulher não te maltrata? E que roupas são essas? Tadinho parece uma criança de rua...
Eu sabia que ela queria ser venenosa propositalmente para nos tirar do sério. O que meus pais queriam provar? Eles cuidaram de mim como um garoto mimado quase a vida inteira. Meu filho tinha que ser salvo de ter exatamente a mesma vida que tive.
— Não fale assim, mamãe! — protestei, chamando sua atenção. — Cuidamos muito bem dele. Luara é uma mãe incrível!
Surpresa, minha mãe me olhou com reprovação. Foram poucas às vezes em que tinha enfrentado meus pais de frente.
— Por favor, vamos evitar uma discussão na frente do Lucas. Tia, Lurdes, não queremos confusão e sim, conversar. — minha prima sabia a hora exata de tentar acalmar os ânimos.
— Alexandra Monteiro, por que sempre quer proteger os erros do seu primo? De qual lado está? Não consegue ver que o melhor pra esse menino é estar com a família dele, no caso nós, os avós.
Lucas assustado correu pra perto de Luara e agarrou-se a sua perna. Tudo que meus pais estavam conseguindo era deixá-lo assustado.
— Olhem, vocês estão assustando nosso filho! — resmunguei, gesticulando com as mãos. — Peço que nos deixem em paz, a mãe dele e eu conseguiremos juntos cuidar da criação dele!
De olhos marejados fui para o lado das duas pessoas mais importantes pra mim. De cabeça cabisbaixa fiquei em silêncio. Para minha total surpresa Luara entrelaçou seus dedos aos meus. Seu gesto me fez erguer a cabeça na mesma hora.
— Essa é a nossa família. — disse ela, sorrindo pra mim. — Senhora, não viemos para brigar. E eu não quero separá-los do neto de vocês.
Ela era uma mulher tão forte e muito admirável. Não foi nenhum pouco difícil me apaixonar, contudo, ela parecia não sentir o mesmo porque fugiu de mim. O que tínhamos afinal? Existia alguma coisa, sei que sim, mas não conseguia definir seus sentimentos por mim.
— Agora entendi o que está acontecendo. Meu filho irresponsável te seduziu! Você não é a primeira que ele promete o mundo... — mamãe disse contragosto. — Se eu fosse jovem como você, deixaria o menino com os avós e viveria minha vida. Já que quer tanto uma família, case-se e tenha sua própria família.
— Não ouviu ela dizer que essa é a nossa família? Eu sou mesmo seu filho? Estou envergonhado das atitudes da senhora! — indignado, apertei firme a mão de Luara. — Vamos embora, voltaremos apenas se os dois quiserem conversar.
Saímos nós três pela porta da frente. Minha prima ficou para trás para tentar acalmá-los, algo que achava impossível. Entramos no meu carro e seguimos para o meu apartamento. O trajeto inteiro foi silencioso, Lucas acabou adormecendo no banco de trás. Após chegarmos ao nosso destino, subimos pelo elevador. Fiz questão de carregar o nosso filho que dormia de tão cansado que estava.
— Vou colocá-lo na minha cama. Fique à vontade. — afirmei, deixando-a na sala de estar.
Muito estresse pra um garoto tão pequeno. Coloquei-o sobre a cama e o cobri com as cobertas.
— Ficaremos bem, campeão. — sussurrei, acariciando seu rosto.
Apenas percebi estar sendo observado quando senti dois braços envolta da minha cintura. Ela não parava de me surpreender.
— Ninguém vai tirá-los de nós, nem mesmo seus pais. — murmurou, apertando mais minha cintura. — Josué, quero te pedir perdão pelo que aconteceu, ou melhor pelo que não aconteceu. Tenho muitas coisas que quero te falar, no entanto, não acho apropriado ser agora.
Toquei suas mãos e respirei fundo. E eu tinha que perdoar alguma coisa? Ela com certeza, teve seus motivos.
— Lua, não guardo rancor, muito menos de quem eu gosto. — aquela frase fez ela recuar bruscamente. Eu não queria esconder meus sentimentos por ela, pensei ter deixado claro antes, mas ela parecia não ter entendido.
— Ainda somos amigos? — perguntou baixinho. Virei-me pra olhá-la nos olhos.
— Não porque não te quero como uma amiga. É sério que quer minha amizade? Eu gosto de você, Luara. Meus sentimentos por você passam longe de uma amizade. Imagino que no fundo, você já saiba disso, talvez sinta o mesmo.
Esperançoso aguardava qualquer resposta que fosse, porém, ela saiu correndo do quarto. Outra vez havia fugido de mim, mas daquela vez, esclareci meus sentimentos.
(~ ̄▽ ̄)~
Que capítulo hein! Quando nossa Luara vai deixar de fugir assim?
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Tudo Que Sinto No Coração
RomanceLuara Arantes é uma mulher forte que enfrenta muitos desafios na vida, incluindo o preconceito de sua própria família. Com um filho pequeno para criar, ela encontra forças para enfrentar as dificuldades do dia a dia. Mas o destino reserva algo surpr...