Capítulo 28

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O clima no carro, enquanto Ryouji dirigia de volta para a escola, era menos inquietante quanto o de quando seguiram para o centro. Haru ainda estava envergonhada por toda a situação que tinha ocorrido, principalmente a parte que ele se ajoelhou diante dela na farmácia e colocou um band-aid em seu ferimento do joelho. Mas, ao mesmo tempo, sentia um calor no peito pelas atitudes dele, que havia a defendido e cuidado depois de tanto tempo sem se falarem direito.

- Obrigada. - disse baixo. Mordeu o lábio não recebendo uma resposta, então resolveu falar um pouco mais alto, pensando que ele não havia ouvido - Eu... estou grata por ter me ajudado. Obrigada mesmo.

Ryouji ficou calado, a atenção na rua diante, mas os pensamentos no que tinha acontecido. Ele simplesmente não entendia porque ela não havia usado seu poder para se defender. Sabia da existência do tratado entre os seres de não usarem seus poderes em humanos, nem na frente deles, porém uma pequena cláusula permita o uso quando se tratava de defesa. Ryouji já até havia ouvido histórias de seres que se defenderam, então não compreendia porque ela deixava ser tratada daquela forma.

Quando Haru estava olhando pela janela, um pouco amuada porque ele ainda não havia voltado falar com ela, Ryouji a olhou por um instante, uma breve analisada no corpo da garota. Frágil e delicado. Voltou a atenção para a rua, pensando nas últimas semanas em que não tinham se falado desde que descobriu que esta não era uma humana. A garota sempre foi gentil com os alunos, principalmente com Eunwoo - havia lido a ficha da sua sobrinha - mas não só isso, Haru era sempre sorrisos e pensamentos positivos com todos os professores e funcionários. Ela era a mais diferente entre todos os seres que já havia conhecido ou visto.

- Não precisa agradecer - disse finalmente - só tenha mais cuidado e não deixe que alguém a trate dessa forma, não importa quem essa pessoa é para você.

Haru o olhou surpresa. Naquele distante, Ryouji havia falado bem mais palavras do que durante o resto da semana toda no trabalho. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios e ela assentiu mesmo que ele não a olhasse.

- Vou me esforçar para isso. - Haru realmente não queria ser um estorvo.

Pensou em seus poderes, que nunca usou por querer, sempre surgindo nos momentos mais indevidos, só o controlava o suficiente para não passar mais pelas situações que passou no passado. Talvez se os treinasse... Foi então que percebeu que talvez esse fosse o motivo de Ryouji não gostar dela, por causa de seus poderes.

- Sr. Kawakami, posso lhe fazer uma pergunta? - ela fitava suas mãos torcidas.

- Sim. - respondeu ele dando um rápido e quase imperceptível olhar.

- O senhor me odeia por eu ser... - ela mordeu levemente o lábio - Por eu não ser humana?

Ele não esperava por aquela pergunta. Sua mente trabalhou rápido em formular uma resposta, mas um segundo pensamento veio e ele segurou a afirmação que sairia. Sim, ele odiava os seres, mas Haru, em específico, não era como os que tinha lidado quando trabalhou nas fronteiras entre os reinos, tal local que para os humanos comuns não existiam. Ela era boa, até mais que a grande maioria dos humanos.

- Não. Não odeio. - respondeu com sinceridade.

- Então, porque... Não fala mais comigo direito?

Chegavam na escola já, então ele se permitiu a desculpa de estar estacionando enquanto pensava em como responder a ela sobre essa pergunta. O que mais corria pela sua mente era que estava a magoando por não falar com ela, mas não foi um fato realmente que planejasse ferir seus sentimentos, afinal, poderia ter arranjado a retirada dela da escola, mas esta era uma boa funcionária, apesar da sua verdadeira condição.

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