Dói sem tanto

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Pov Márcia

Depois de ficar enrolando para abrir a carta que eu havia deixado em cima da cama, saí do banheiro, coloco uma roupa qualquer e pego a carta em minhas mãos.

A curiosidade era grande mas o temor de saber o que tinha dentro era maior, afinal eu ainda pensava sobre a última carta que Fernando havia deixado, num impulso de coragem abro a maldita carta. Haviam três polaroids dentro e um papel meio amarelado.

Pego a primeira polaroid e olho a foto, era um barco com um edredom e dois pequenos travesseiros viro atrás a procura de mais informações.

" Angra dos Reis, 1974

Vamos conversar, abaixe-se, os altos, deixe-os ir
O amor é simples, tudo é bom até crescer
queria ficar ao seu lado pelo resto da eternidade vendo o sol nascer''

Respiro fundo e deixo essa de lado, algo estranho começava surgir dentro de mim me deixando extremamente incomodada.

- E ainda nem cheguei no último. Falei baixo

Pego a próxima polaroid que era uma mulher de costas seus cabelos meio loiros, vestia uma grande camisa branca provavelmente de botão, estava sentada em um tronco de madeira que dava visto para ela do belo mar.

" Cala Deià, 1975

Diz pra mim o que eu quero escutar
Só você sabe adivinhar
Meus desejos secretos,
só com você eu imagino algo concreto''

Minha cabeça começa a pesar, meus olhos doerem, largo as polaroid e fecho os olhos por alguns segundos, flashes de um mar cristalino e o barulho do mar invadem minha cabeça e somem do nada me deixando meio atordoada.

- Vamos, Guedes é apenas coisa da sua cabeça. Falei tentando me convencer a isso

Pego a terceira e última polaroid, era a foto de um quadro, uma moça sentada lendo um livro em frente a uma janela, mesmo estando de lado eu sabia que era ela seus traços mesmo de lado eram iguais aos meus, com pesar viro a polaroid para ler o que tinha atrás.

" Amsterdam, 1976

É que talvez a gente tenha a vida inteira
Mas o talvez é tão vazio, uma besteira
Eu já nem sei mais onde ficou nosso final feliz.''

Eu estava ficando enjoada, minhas mãos começavam a suar, fico alguns segundos parada tentando raciocinar melhor tudo, só faltava o papel que mesmo sem vontade abro o papel dobrado.

" Av. Rio Branco, 199 - Centro, Rio de Janeiro

Eternizada como a mona lisa, e memorável como a noite estrelada

Venha vê na ala oeste ''

Procuro na internet o endereço e deu que era o museu nacional de belas artes, olho para o relógio e ainda dava tempo de entrar no museu. Mesmo sentindo uma dor no peito, troco de roupa para uma que não pareça que botei minha blusa do alvejante,pego uma blusa de botão que tinha vários planetas com fundo escuro, contínuo com a minha calça de moletom e coloco um tênis, nesse processo mando mensagem para Fernando pedindo o carro dele emprestado. Tiro foto da última polaroid para ver se eu conseguiria achar mais rápido pelo museu.

Depois de terminar de me arrumar vejo o passarinho vermelho já conhecido por mim segurando a chave em seu bico.

- Quer vir comigo? Perguntei pegando a chave dele

Ele nega e sai voando de volta para sua casa, fecho a janela de meu quarto e saí de meu apartamento meio às pressas. Quando estava a entrar no carro de Fer vejo cuca em forma de borboleta parada no retrovisor me fazendo sorrir, entro no carro e ela continua por lá mas levanta voo assim que eu começo a andar com o carro, algo dentro de mim dizia que ela sabia meu destino e por isso estava lá.

O conto da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora