Part 43

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🚨 GATILHO 🚨

Britt

Entrei no meu apartamento escuro que era bem menor do que o meu antigo. Esse as paredes precisavam de ajustes pois a tinta descascava e o mofo aparecia, eu sabia que tinha que ligar para o síndico pra informar, mas sabia ao mesmo tempo que não ia fazer isso, eu estava cansada demais. Coloquei meu casaco no cabide perto da porta e segui pelo corredor estreito que a luz mal iluminava. Meus saltos pontiagudos batendo no chão faziam o apartamento parecer ainda mais fechado e horrível, o som que os Louboutin faziam era quase triste pra alguém que tinha dinheiro suficiente pra comprar um par de sapatos desse.

Eu joguei a bolsa em uma das cadeiras e peguei uma taça de vinho que estava jogada da noite passada, a marca do meu batom vermelho ainda estava nela. A geladeira consistia em um bocado de comida japonesa em caixinhas e vinho barato. Eu peguei uma garrafa de vinho vermelho e despejei tudo na taça até quase escapar pra fora, era mais fácil do que fingir que eu não ia ficar bebada então eu abusava na quantidade de álcool pra não enganar ninguém.

Minha saia era até o joelho, minha blusa social amassada e meu cabelo solto nos ombros. Eu tinha conseguido esse emprego bom em uma agência de modelos onde eu só tinha que fazer apresentações sobre dados de como nossas revistas estavam vendendo bem, eu tinha que admitir que qualquer um mataria pelo meu emprego porque realmente era muito bom, mas pra mim era tudo que eu nunca quis. Chegar em casa meia noite, sem tempo para nada e sem tempo para fazer as coisas que costumavam me deixar bem, era um trabalho sem saída, eu precisava do dinheiro e não podia pagar uma boa faculdade para fazer algo que eu realmente gostasse.

Faz três anos que Thanos estalou os dedos e eu me formei na escola. Tudo ficou diferente depois daquele ano, a formatura foi cancelada pela falta de alunos pois a maioria tinha desaparecido então a escola havia decidido somente deixar todos passarem de ano, eram tão poucos que nem faria diferença. Levei a taça a minha boca e virei quase metade do que tinha dentro, era o jeito novo de engolir as lágrimas.

Quando tudo acabou o mundo entrou em caos, ninguém sabia bem como seguir em frente sem sentir saudade daqueles que se foram, todos precisavam de um bom tempo pra se recuperar, pode parecer maldade de mim por falar assim, mas droga imagina a quantidade de dinheiro que terapeutas ganharam, coitadas das farmácias as pílulas deveriam ter acabado todas. Eu mudei muito desde tudo aquilo, era impossível não mudar, se você não mudasse então o mundo ia te consumir viva. Então foi o que eu fiz, me afastei de todos que me lembravam do meu passado, vendi o apartamento da minha mãe que também sumiu como pó e tentei manter distância de todos os amigos que sobreviveram. Shawn me ligava constantemente, talvez para ver se eu estava bem ou para ver se eu ainda não tinha desistido. Ned tinha conseguido se dar bem, ele achou um trabalho e conseguiu criar sua própria coleção de roupas, junto com ajuda da Jules é claro. Eles pararam de ligar depois de uns três meses e parte de mim ficou extremamente brava por eles terem somente me abandonado, eu nunca faria o mesmo se eles tivessem passado por o que eu passei.

Esse novo apartamento era tudo que eu precisava pra sobreviver, se você pedisse pra alguém entrar aqui e descrever a personalidade de quem mora nessa espelunca ninguém conseguiria. Eu sinto saudade da menina com o quarto cheio de posters, mas eu os rasguei na noite em que ele se foi embora, destruí tudo que podia naquela casa. Tirei toda minha roupa e permaneci somente de calcinha e sutiã na frente do espelho, nos últimos anos eu tive que visitar milhares de médicos por causa da minha perda de peso e das dores que meu corpo mostrava, eu era basicamente um esqueleto e meu corpo vivia cheio de roxos devido a falta de gordura então onde eu batia um roxo aparecia. Tive que visitar um médico pela primeira vez quando minha menstruação não veio por seis meses e as dores no estômago me faziam desmaiar no trabalho, o RH falou que só me manteria nesse trabalho se eu consultasse um médico e fosse para a terapia, eu fiz isso. O médico afirmou que havia uma incrível irritação no meu esôfago devido a quantidade de vômito, outro médico psiquiatra me deu cinco tipos de pílulas para tomar e a terapeuta, deus, como eu a odiava.

To the end of the lineOnde histórias criam vida. Descubra agora