Meu anjo da guarda de plantão
Desliguei o telefone com uma vontade louca de mandar Moacir para aquele lugar... A coisa mais irritante é quando as pessoas querem transformar você em marionete, e lhe diz como você deve agir, falar, andar, quando deve sorrir, acenar... Moacir tinha acabado de fazer exatamente isso, quando me deu uma relação do que eu deveria dizer para o colega do jornal de Betim. Droga! Eu era uma pessoa adulta, inteligente, e articulada!
Terminei de me arrumar e desci para a garagem. Peguei meu carro e rumei para o restaurante combinado. Não queria me atrasar, mas atravessar a cidade a essa hora ia ser bem complicado. Não sei por que ele tinha escolhido um restaurante tão afastado! Talvez fosse porque era um local mais calmo para conversarmos, mas ele poderia ter marcado no jornal, em seu hotel ou mesmo em meu apartamento. Enfim, agora só restava me deslocar do centro para a periferia da cidade!
Lembrei que o porteiro disse que queria falar comigo, que era importante, mas eu nem lhe dei ouvido... Quando voltasse falaria com ele. Espero que não seja nenhuma taxa de condomínio a mais para eu pagar.
Liguei o rádio do carro para ver se relaxava, pois a lentidão do trânsito estava começando a me estressar!
"Imagine all the peoples living life in peace"
Comecei a rir ao ouvir essa música, porque me lembrei de Lennon Santine. Já pensou ele cantando o refrão: "Imagine todas as pessoas vivendo em paz", com aquela cara de quem está pronto a metralhar o mundo! A mãe dele usou de ironia quando colocou no filho o nome de um homem que pregou a paz e a gentileza, coisa que o investigador desconhecia... Ele era arrogante, grosseiro e cheio de si. O tipo de homem que eu desprezaria. Mas não era o que queria fazer... Esse pensamento fez com que eu acelerasse um pouco mais e freasse bruscamente para não bater no carro da frente. Uma saraivada de buzinas e alguns dedos em riste foi o que recebi.
Eu era mesmo uma idiota! Dispensar um homem como Rodolfo para ter pensamentos estúpidos com um homem exibido como Lennon!
Acabei me perdendo, pois o GPS se enganou e fui parar em outro bairro, resultado: atraso de 40 minutos.
Assim que entrei no restaurante, que estava praticamente vazio, apesar de já ser o horário em que as pessoas que saiam do trabalho se reuniam para tomar uma bebida e relaxar antes de voltarem para casa. Procurei um garçom e perguntei se havia alguém esperando por mim. Ele me indicou uma mesa nos fundos do estabelecimento, onde um homem careca estava de costas para mim.
—Boa tarde! Sou Marina de Andrade — disse lhe estendendo a mão.
Ele levantou, e depois de me analisar, sorriu um sorriso forçado, e apertou minha mão.
—Sou Plínio Aragão redator do Jornal de Betim.
Algo nele me causou arrepios. Não sei se eram os olhos cinzentos e frios, ou a careca reluzente recém- raspada.
—Estou aqui, podemos começar quando quiser — sentei-me diante dele.
—Parece que está muito bem para quem sofreu dois atentados! —disse com deboche.
—Foram tentativas apenas... Desculpe se o desapontei. —devolvi a ironia.
—Antes de começar gostaria de saber se prestou queixas.
—Não.
—Nem aqui em São Paulo tomou alguma providência?!
—Não.
—Por quê? —insistiu ele.
—Por não ter certeza de quem poderia querer me fazer mal... —lembrei-me das recomendações de Moacir.
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O assassino de livros
Mystery / ThrillerDois escritores que escrevem sobre a mesma mulher amada, mas sob enfoques diferentes, são assassinados na iminência de lancar seus livros. Um editor que lucra com essas mortes, um investigador arrogante e uma jornalista obstinada em descobrir o assa...