A noite de lançamento

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 A noite de lançamento

 

Enquanto eu revirava as gavetas à procura dos brincos de prata de lei que havia ganhado da minha mãe, ia pensando no que realmente significava aquela frase escrita e colada embaixo do porta-luvas do carro onde Isac foi encontrado morto... Jesse tinha descoberto isso assim que descarregou as fotos, e quando cheguei ao jornal fui a primeira a ver a tal frase. Estava escrita com pequenas letras recortadas de jornal, impossibilitando um exame grafológico posterior.

O que me deixava agitada, além da frase e seu significado, era o fato de não saber se o investigador Lennon também a tinha visto.

Quando procurei a locadora de veículos e perguntei se essa frase era algum tipo de código deles, o responsável comercial me garantiu que não tinha conhecimento de nada desse tipo nos carros que alugavam. Tinha chegado na frente, o investigador não o tinha procurado ainda. Coisa que estranhei...

Agora estava quase pronta. Noites de lançamento não são eventos de gala, mas há que se ter certo cuidado com o que vestir. Eu estava usando um vestido de cetim uva, na altura dos joelhos, calçava um scarpin de cetim preto, e os brincos de prata em forma de cone que acabei encontrando dentro da caixa de hidratante corporal. Como podem ver, sou bem desorganizada! A maquiagem marcava bem o delineador nos olhos e um batom rosado. Acho que não faria feio...

Rodolfo Bastos Bacelar, o diretor–presidente da BB Star Books, veio me pegar às 20h30, pontualmente. Vestia um terno esporte e mocassins de couro, estava sem gravata, mas era pura elegância! Ele era um homem muito atraente, e sabia ser sedutor. Quando desci para encontrá-lo ele disse:

—Acho que essa noite de lançamento não está a sua altura! Você hoje merece a lua!

—Fico lisonjeada com o elogio, mas não saberia onde guardar a lua em um apartamento tão pequeno...

—Sempre inteligente em suas respostas! Mas de verdade, você está linda!

—Gentileza sua! Mas não estamos atrasados?!

—Não. O mestre de cerimônias quer esperar um número considerável de pessoas, para depois iniciar a noite.

O local do lançamento era uma sala ampla, alugada pela BB Star Books, num shopping da zona sul. Assim que chegamos, fiquei surpresa com a fila de pessoas já no corredor. Dentro do espaço, havia uma pilha de livros  sobre uma estante de vidro, no fundo, uma mesa com microfone, alguns exemplares e um bonito arranjo de flores naturais. Uma música ambiente tocava e mal era ouvida, pois as pessoas conversavam ansiosas pela abertura da noite, alguns drinques e canapés estavam sendo servidos por garçons uniformizados.

Rodolfo pegou o primeiro livro da pilha e me estendeu:

—Como prometido, o primeiro exemplar é seu.

Peguei o livro nas mãos e instintivamente o abri, antes mesmo de apreciar a capa. Fui surpreendida por dois fatos: Na folha que precede a página de rosto, e onde geralmente o autor escreve a dedicatória aos leitores, havia a impressão da assinatura de Isac! Diante de minha expressão, Rodolfo me explicou que tinham scaneado a assinatura do contrato para constar nos livros, como se tivesse sido assinado pelo morto! Outra coisa que me arrepiou, foi ler a seguinte frase na página do prefácio: “Viver é negócio muito perigoso.” João Guimarães Rosa

Exatamente a frase que Jesse descobriu escrita embaixo do porta-luvas! O que o assassino quis dizer, ele já teria lido o livro, para saber que essa frase estava impressa nele?!

Intrigada nem percebi a taça de vinho francês que Rodolfo me oferecia.

—Algum problema? Está tão calada! —perguntou ele.

O assassino de livrosOnde histórias criam vida. Descubra agora