Conhecendo Isac Abrahim

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Conhecendo Isac Abrahim

 

Passei a noite lendo Rastros de sangue no areal, o romance de Isac era realmente visceral. Ele expunha seus sentimentos de forma escancarada! Rosalinda, a mulher amada, era ao mesmo tempo o flagelo de sua alma e o alento...  Essa mulher, se realmente existiu, teria lhe causado muito sofrimento. Talião, não sei se fora proposital dar esse nome ao personagem e amante de Rosalinda, era extremamente emocional, ora o ser amável e confiável, ora o homem frio e passível das maiores crueldades. Isac quis deixar claro quem era e do que ele era capaz, como Machado de Assis o fazia em seus romances na Fase Realista,analisandopsicologicamente os personagens, entrando na alma de cada um deles, trazendo todos os defeitos da conduta humana: egoísmo, luxúria, vaidade, ciúme, inveja... Assim, ele descreveu fielmente seu Talião. Que na verdade, era o nome de um antigo sistema conhecido como Lei de Talião, onde se determinava que o autor de um delito deveria sofrer castigo igual ao dano por ele causado, e teve seu desenvolvimento na Idade Media, onde vigorou a máxima "Olho por olho, dente por dente".

Fiquei impressionada com a beleza da obra. Rodolfo, como ele mesmo comentou, via cifrões onde eu via beleza... Mas Isac Abrahim era talentoso, isso era inegável.

Estacionei meu carro, e ia entrar no saguão da editora, quando avistei Rodolfo me olhando pela janela de seu escritório. Acenei para ele e entrei.

Berenice, a secretária, pediu que aguardasse alguns minutos. Quando lhe perguntei se Jonas de La Playa já tinha chegado, ela ficou desconcertada, e depois disse que sim.

Não entendi por que não podia entrar logo então, já que ele estava ali! Verifiquei o pequeno gravador que trouxera na mão, e aguardei.

Passaram-se uns dez minutos, até que Rodolfo aparecesse com um sorriso encantador.

—Desculpe fazê-la esperar! Mas estava preso a telefonemas inadiáveis. Estou perdoado?

—Claro que sim! — retribuí o sorriso, lembrando que o avistei na janela quando cheguei, e ele não estava falando ao telefone— Jonas já chegou?

—Sim. Ele está a sua espera... Mas...

—Podemos ir então? —disse interrompendo-o e me levantando da poltrona.

Ele me indicou o corredor. Quando paramos diante da tal porta da sala reservada, ouvi a voz insuportável de Jonas, mas nem cogitei questionar quem estava com ele. Antes tivesse feito isso. Porque quando a porta foi aberta, o avistei sentado no sofá, todo sorridente, conversando animadamente com o investigador Santine!

Não me contive e disse:

—Pensei que fosse me conceder uma entrevista, Sr. Jonas, e não um depoimento policial!

Ele encarou-me espantado com minha irritação, depois sorriu e disse:

—Não é nada oficial! Apenas encontrei o investigador Lennon quando cheguei, e quando ele soube que você viria entrevistar-me, resolveu ficar...

—Eu prefiro que nossa conversa seja particular.

—Por quê?

—Vamos conversar informalmente, e eu somente publicarei o que o senhor permitir... Não julgo necessária a presença do investigador aqui.

—Pela sua irritação, acho que devo ficar sim — disse Santine — Vai que surja algum fato relevante para a investigação.

—Se desejar poderá marcar com o Sr. Jonas ou intimá-lo para depor, mas hoje ele marcou comigo!

O assassino de livrosOnde histórias criam vida. Descubra agora