Capítulo 20 - A Arte do Desespero Interno

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Adormeci naquela noite e ao me despertar na manhã de quinta-feira me lembrei da prova. Eu já estava nervosa no dia anterior, mas agora era a hora, o momento tão desesperador que todos temiam. Por mais que eu tivesse estudado bastante ainda estava insegura e com medo. Não comi muito de manhã e fui para a escola estando ansiosa, era uma mistura de ansiedade com medo, e nada daquilo era favorável, não conseguia me concentrar em nada a minha volta era um tormento. Encontrei com Anne no caminho e está estava do mesmo jeito, se juntasse nosso estado de espirito naquele momento uma tempestade se formaria. Quando adentramos a sala todos estavam cabisbaixos era aparente que ninguém havia tido um bom descanso e fazer uma prova estando esgotado não era a melhor das ideias. Nossa prova seria na terceira aula, os dois primeiros horários não renderam nada, os professores percebiam que tinha algo errado, a sala era bem participativa, mas naquele dia o que todos queriam era apenas dormir. O sinal bateu e agora seria o momento tão esperado por todos. Nos sentamos nos nossos devidos lugares e em 50 minutos realizamos a prova de álgebra. Meu coração se calou ao pegar a prova, minha respiração se reduziu, mas minhas costas ainda estavam tensas. Ao terminar aquele horário fomos para o intervalo, tomamos nosso lanche, mas grande parte da minha turma descansara tomando sol, e recompondo as energias.

Como na 4° aula tínhamos Educação Física o pouco de energia que recarregamos foi o suficiente para jogar queimada. Aquele horário voou e logo estávamos na última aula do dia, era como um revigorante, logo estaria em casa e poderia descansar, pelo menos eu achava que sim. Entrei na sala de Língua Portuguesa e a professora estava anotando algo na agenda de infrações. Em cada turma ela mantinha uma, e ali era anotado tudo, o que foi dado em sala de aula, quantos alunos faltaram, um sistema de créditos extras, infrações cometidas pelos alunos, recados, enfim tudo que se podia imaginar. Ela deixava as anotações com um aluno de cada turma, e na minha Milena era quem anotava, se não estivesse impecável ela certamente puniria o responsável, aquela pequena agenda era motivo de dor de cabeça para a turma inteira. Eu me sentei no meu devido lugar e me escondi escorregando um pouco da cadeira para que ela esquecesse que eu estava ali, mas foi em vão:

- Charlotte, por favor. - Ela se dobrou para conseguir me visualizar. - Vá até a cozinha e peça as meninas um copo, depois vá até a sala dos professores e coloque água, tem que ser da gelada, se for em temperatura ambiente não precisa trazer.

- Tudo bem. - Eu me levantei e saí da sala, pude ouvir ela implicando com uma das alunas que estava de moletom logo após a educação física, e exigiu que ela o tirasse, porém ela não havia feito aula, mas de nada adiantou a explicação.

Ao chegar à cozinha solicitei um copo e logo me entregaram, me deram uma caneca que era usada no lanche das crianças, era bem provável que ali não haveria copo. Me desloquei até a sala dos professores enchi o copo com água e retornei para a sala. Mal sabia eu que iria passar por algo tão desconfortável. Coloquei a caneca sobre a mesa da professora e fui me sentar, mas antes que conseguisse ela me chamou:

- Charlotte venha até aqui! - O meu corpo se retraiu e eu pude sentir borboletas no meu estomago.

- Sim? - Eu tentava disfarçar, mas era nítido o meu medo.

- Você me trouxe uma caneca suja de batom rosa! Você está brincando com a minha cara? Eu já sabia que você não gostava de mim, mas não imaginei que seria baixa no nível de beber na minha caneca. - Eu travei, e ela estava brava e repudiava aquela caneca como nunca antes.

- Eu não vi, eu não trouxe de proposito, é a caneca que a cozinha me deu. - Eu tentava me explicar, mas a minha voz tremia como uma onda sonora.

- Você não usa batom... Leve essa caneca e diga as meninas da cozinha que se atentam a essas coisas e me traga uma limpa desta vez, porque se estiver suja novamente terei certeza que a culpa é sua. - Ela empurrou a caneca lentamente até a beirada da mesa.

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