Capítulo 10 - Um tóxico acolhimento

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Ao abrir a porta nos deparamos com a professora em sua mesa, quando a turma me avistou ouviu-se murmurinhos e risadas baixas, eu me senti em cativeiro e pude sentir meu coração disparar. A diretora entrou e logo em seguida eu e Anne pisamos sala a dentro e paramos em frente ao quadro negro:

- Professora peço um tempo da sua aula para resolver um assunto de extrema importância com essa turma... - Ela se virou para a professora e ao terminar fez contato visual com a sala.

- Estávamos num debate importante diretora, mas pode falar. - Percebi que ela não gostou muito da ideia.

- Este também será - Ela suspirou e começou - Seguinte classe, há tempos venho recebendo queixas de alunos e todas elas relacionadas a Bullying, isso é algo sério, zombar da aparência, da condição, da saúde, as questão financeira das pessoas traz consequências gravíssimas, o que vocês fizeram hoje foi errado, e terá punição!

- Mas diretora, não fizemos nada demais! Só dissemos a verdade! - A Nina agia como se não tivesse nada, passando a ideia de que era santa.

- Errado! Dizer a verdade não é o mesmo que ser cruel, há coisas que não se diz e que machucam as pessoas, e eu não quero esse tipo de comportamento na minha escola, principalmente vindo de você Nina! Provocar um ataque de pânico em uma colega não é engraçado, todo mundo tem problemas, se coloque no lugar dela e tente sentir um terço do que ela sentiu. Se não vai ajudar, não atrapalhe.

A sala se calou e perceberam que aquilo era infantil e imaturo, todos pareciam arrependidos, menos a Nina, ela seguia desprezando a situação e agindo com superioridade. O silêncio permaneceu por um minuto completo até ser quebrado pela diretora:

- Charlotte, quer dizer alguma coisa? Se não quiser tudo bem!

- Quero! - Eu fui até ela - Eu não sei o que cada um aqui passa, não sei como é a vida de vocês! Mas pensem por um segundo o quão difícil é viver com uma mente que tenta te machucar, te sabotar, que conta mentiras tão convincentes que você acaba acreditando que é verdade... Imaginem que vocês não conseguem dormir direito, comer, ficar parado, e uma coisa simples, respirar! Você sente o coração acelerar e espera pelo pior porque seu corpo e sua mente te dizem que o teto está desabando e tudo a sua volta te faz afogar... Vocês podem não saber o que é isso, mas eu sei, e é um inferno, perdoa o tom da palavra, eu não sou louca por sentir essas coisas, muito pelo contrario! Eu sou humana e estou no meu direito de ser imperfeita, vocês aceitando ou não! Não sei porque me odeiam tanto, se fiz algo alguma vez, me perdoem, não foi intencional, só peço que antes de falar do cabelo da colega, da roupa do vizinho, da doença da amiga, pensem nas consequências, são coisas serias podem gerar gatilhos mortais então usem da empatia e da compaixão... E não Nina, eu não me corto, o meu impulso é outro, mas você não está pronta para essa conversa.

Assim que terminei a Larissa, uma colega que estudava comigo desde a 5° série se levantou e disse:

- Charlotte, me desculpe por ter gritado aquelas palavras, eu não queria fazer aquilo! Eu juro, mas pra ser aceita pelo meu grupinho eu fui obrigada a gritar se não seria uma vítima igual você.

- É Lotte desculpa! Fiquei com medo de não gritar e a Nina e a Samantha fazerem brincadeiras de mal gosto comigo. Nem imagino como é viver com tanta coisa assim, eu sinto muito! - Disse o Diego um dos alunos inteligentes da sala.

A diretora ficou intrigada com aqueles depoimentos e contestou sobre o que haviam falado:

- Então quer dizer que se algum de vocês não faz o que a Nina ou a Samantha querem elas maltratam vocês? Levantem a mão quem concorda com isso. - Toda a sala tirando as duas ergueram as mãos e em seguida me pediram desculpa.

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