Minha mente não parava, todas as opções que vinham a minha cabeça eram ruins, todo o meu corpo despertara para um momento de angustia, ele tremia com o frio que sentia, mas suava com tanta adrenalina no sangue, meu coração estava desesperado, meu interior pedia socorro e todo o contexto parecia hostil, eu não tinha para quem gritar, não tinha memória de ter me levantado da cadeira e ido até a frente da banca para apresentar, só me lembro de sentir uma vontade imensa de fugir, correr, me esconder, mas não dava para fazer isso. Quando finalmente me vi em pé olhando para a professora de português, eu ouvia minha frequência cardíaca e estava muito rápida, senti uma forte dor no peito, como uma pontada, eu ajoelhei de imediato e desmaiei.
Todos a minha volta se desesperaram, quando acordei estava na enfermaria da escola junto com as tias da limpeza, a diretora e a enfermeira que me viu acordada e veio falar comigo:
- Tudo bem Charlotte? O que você está sentindo? - Ela pegou um estetoscópio e veio verificar meus batimentos cardíacos
- Eu estou bem eu acho, com dores no peito, uma leve tontura quando me viro... O que aconteceu? Eu apresentei o trabalho? Diz que sim por favor! - Coloquei as mãos na cabeça implorando para que a resposta dela fosse positiva.
- Não, você não apresentou, mas não se preocupe! Terá outra chance, mas precisa se cuidar, você teve uma crise de ansiedade e pânico, você vai precisar ir a um psicólogo com urgência pois está afetando sua vida como um todo, não está?
- Não, foi só a primeira vez que isso aconteceu, não é nada demais! - Eu não sei mentir, tive medo de concordar e ela me achar maluca, igual a Nina.
- Não é a primeira vez Charlotte, e você sabe disso - Disse a diretora que ouviu a conversa.
- Diretora está tudo bem eu não preciso de tratamento, eu já estou novinha em folha de novo - Eu me levantei e me senti muito cansada.
- Pode pegar seu material, sua mãe está vindo te buscar, eu liguei para ela e disse o que aconteceu
- O que? Não! Minha mãe não pode saber disso! - Lágrimas acumularam nos meus olhos e a enfermeira me consolou
- Não se preocupe Charlotte, sua mãe te ama e vai cuidar de você é a função dela
Eu fiquei em silencio e imaginava a tempestade que iria cair sobre a minha cabeça em alguns momentos.
Passaram-se 20 minutos e minha mãe chegou, me colocou no carro, falou com a enfermeira e a diretora, entrou no mesmo e me levou para a casa dela sem falar uma palavra em todo o caminho, ela parecia brava, muito brava. Chegamos a casa dela e o sermão começou:
- Não acredito que você me tirou do trabalho! Sabe quantas camisetas eu deixei de fazer pra ir te buscar? Você mesma deveria ter resolvido isso, já tem 15 anos! - Ela andava de um lado para o outro e eu só olhava para o chão.
- Está tudo bem mamãe, pode voltar para o seu serviço, eu vou para a casa... - Segui olhando para baixo, eu estava paralisada.
- Agora é fácil! Você já saiu da escola, inventou tudo aquilo para conseguir fugir, eu te conheço garota! Eu te coloquei no mundo... Vou ter uma conversinha com o seu pai e esse hábito vai acabar! Você vai estudar para fazer medicina, querendo ou não! - Ela olhou nos meus olhos e cuspiu as palavras
- Eu não vou fazer medicina, nem direito, nem nenhuma das profissões que você sonha para mim, e eu não estou fugindo da escola, não pedi para você me buscar! - Naquele momento eu realmente queria deitar na minha cama, dormir e nunca mais acordar.
- Não me responda! Cadê os bons modos? Se você não fizer o que eu quero vai ficar falada na família, é isso que você quer? Ser a piada e manchar a imagem que minhas irmãs tem de mim? Você vai magoa-los com toda essa insolência.
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Emoções & Tempestades
SaggisticaSabe aquela sensação de que tudo vai cair em cima da sua cabeça, você está se afogando dentro do seu próprio eu, grita por socorro e ninguém te ajuda... Pois bem eu não sabia como era essa sensação, ou pelo menos achava que não. Emoções são traiçoei...