Anne se encontrava atônita, completamente cabisbaixa e provavelmente aterrorizada. Eu queria muito poder ajudá-la, mas sabia que primeiro tinha que resolver a guerra interna dentro de mim. A professora seguiu com a prova da minha amiga, e ao ler a primeira questão, ela já formulou uma crítica nada construtiva:
- Anne, sua letra está péssima, apesar de dar pra ler, está bem esgarranchada, você não teve aula de caligrafia quando mais nova? - Ela arqueava as sobrancelhas e demonstrava certo deboche em sua fala.
- Eu tive sim, mas é que escrevi correndo para não perder a sequência das questões, e também... - Antes que ela pudesse terminar, a professora a interrompe.
- Que desculpa mais esfarrapada! Uma aluna de 9º ano com uma letra horrível dessas não deveria nem ter passado para o 5º ano... Espero que as suas respostas compensem a letra. - Ela se volta para a sala e lê o enunciado da primeira questão. - Número um...
Apesar de ter certos receios com a aquela professora, a matéria não era tão ruim. Talvez se não houvesse tanta pressão, humilhação e medo, as coisas poderiam ser mais simples e leves, mas aparentemente, a docente gostava de ver seus alunos sofrerem. As questões daquela prova ridícula eram escabrosas, logo de cara sabíamos que viria um puxão de orelha dos fortes.
- Qual o nome do rio que, sendo um dos mais importantes para a América do Sul e para o Brasil, corta o país passando por cinco estados? - Ela respira, e arregala os olhos. - Anne que tipo de resposta é essa? Sério que você respondeu Rio Amazonas? - A garota retornou seu olhar para sua interlocutora e apertou suas unhas na palma da mão.
- Eu-eu coloquei o único nome que consegui lembrar... Eu... Não lembrava disso... - Ela suava frio, e com mais força emperra as unhas na palma da mão.
- Não é possível! Você está com um pé no ensino médio, e não sabe o nome do rio mais importante do Brasil? Que tipo de patriota você é?... - A professora estava estarrecida. Ela retorna seu olhar para a classe, e pergunta para a massa de alunos sentados à sua frente. - Mais alguém colocou esse absurdo?
Praticamente 15 pessoas da sala ergueram a mão. Era algo muito discrepante. Daqueles que não levantaram apenas três haviam acertado, e os outros três não responderam. Eu estava na maioria, e esperava que ela pegasse no meu pé por conta desse erro, porém para tentar evitar a fadiga, não olhei para ela em hipótese alguma, era mais seguro assim.
- Meu Deus... Eu não quero nem ouvir o que os outros colocaram, sinceramente que decepção. - Ela estava com a fronte fechada e parecia estar magoada, mas para mim, pouco importava. - A resposta certa é Rio São Francisco, por favor corrijam porque eu não quero ver esse erro horroroso novamente... Número 2. - Ela seguia berrando e assustando qualquer mosca que passasse ali. Em todas as questões ela humilhava alguém, e naquele dia em específico, ela decidiu que seria a Anne. Naquelas perguntas que a garota acertava, ela procurava outro aluno, mas naquelas que havia algum tipo de erro, ela aplicava a sua palestra de como éramos incompetentes.
Sua primeira aula passou com muita ansiedade e desespero. E apesar de já estar muito ruim, as coisas acabaram piorando, se é que era possível. Na última questão, uma das únicas que realmente retratou a matéria dada em sala, ela pediu para alguém responder no quadro. Eu torci tanto para não ser escolhida que acho que virou ao contrário. Quando ouvi meu nome, eu congelei e emudeci, não sabia o que fazer, o que pensar, o que falar... Só sabia que o mundo dentro de mim estava acabando, mas eu precisava manter a compostura, apesar de não ter nenhuma naquele momento.
- Charlotte, diga-me as classificações morfológicas e sintáticas da seguinte frase "Os garotos estão eufóricos com a notícia". Escreva no quadro a frase e as respostas para que seus colegas a acompanhem. - Ela pegou o giz amarelo e o apontou na minha direção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Emoções & Tempestades
Non-FictionSabe aquela sensação de que tudo vai cair em cima da sua cabeça, você está se afogando dentro do seu próprio eu, grita por socorro e ninguém te ajuda... Pois bem eu não sabia como era essa sensação, ou pelo menos achava que não. Emoções são traiçoei...