Capítulo 17 - As coisas simples também importam

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Passei boa parte daquela noite observando o céu, era confortante e acolhedor. Voltei para a minha cama e adormeci com o coração quentinho. Acordei na manhã daquela sexta feira com muita saudade da escola, apesar de tudo eu sinto falta daquela balburdia, não pude nem assistir as apresentações dos trabalhos. Me trouxeram meu café da manhã e logo após fiz minha inalação, eu estava muito melhor, ainda sentia dor no peito, mas era algo bem fraco, segundo o médico era porque meus músculos estavam doloridos devido ao esforço para respirar. Já havia tirado os aparelhos e agora estava com o soro e o aparelho que mede a frequência cardíaca, a tarde eu teria alta se tudo corresse bem. Uma estagiária do hospital veio para me acompanhar na caminhada e no meu dia, ela me auxiliou e fomos até a área externa do andar, eles haviam feito um espaço para que os enfermos respirassem um pouco de ar fresco, então havia cadeira confortáveis, algumas plantinhas e quadros em uma das paredes, me sentei e apreciei aquela vista, não era das melhores mas já era melhor do que uma parede branca e aparelhos sem graça. Passei 10 minutos em silencio e de olhos fechado, sentindo o vento no meu rosto e ouvindo o barulho a minha volta, aquele momento era tão precioso que gostaria de morar naquela sensação. Voltamos para o meu leito e ao chegar me encostei na cabeceira, a estagiaria se sentou na poltrona e passou a me observar:

- Você é forte... - Dizia ela enquanto escrevia em um caderno.

- Como? - Eu olhei para ela e fiquei sem entender.

- Você é forte! Deve ter algo muito importante lá fora para que você lute dessa forma. - Ela tinha as bochechas rosadas e uma voz suave.

- Não sei se tenho, mas agradeço o elogio.

- Ouvi dizer que você chegou a esse ponto por causa da insensatez da sua família é verdade? - Eu me senti levemente desconfortável, mas era verdade.

- Os boatos por aqui se espalham rápido não? - Ela corou - Mas sim é verdade, fui exposta a uma grande quantidade de estresse e ansiedade, coisas que não tinham a menor necessidade, porém agora já foi e logo estarei 100%.

- Eu sinto muito!

- Tudo bem, eu não me importo. - Um silencio se estabeleceu.

- Você tem alguém muito importante que te move, no estado que você estava... É difícil ver um paciente lutar dessa forma, normalmente o quadro evolui para pneumonia e de tão grave o paciente falece... Não dizendo que esse é seu caso né até porque você não teve nada disso e agora está bem mas o que quero dizer é que você tem sorte, conseguiu superar uma barreira e tanto... - Ela parecia desconfortável e com vergonha.

- Talvez, se eu tenho alguém assim eu não percebi ainda, mas se eu sou um caso diferente eu fico feliz... - Sorri e ela retribuiu.

Aquele momento estava constrangedor, queria falar algo mas não sabia o que dizer. Não a conhecia e seria difícil saber o que teríamos em comum até que ela resolveu falar:

- Você me lembra a minha melhor amiga... - Ela olhou para o chão e parecia triste.

- Por que você acha isso? Somos parecidas? - Me virei para ela.

- De certa forma... Ela tem uma alma linda e bondosa, nunca vi ela maltratar alguém, é esperta, inteligente e é a pessoa mais resiliente que eu conheço... - Ela sorria e os olhos brilhavam mas com lágrimas quase transbordando.

- Imagino que ela deve te fazer muito bem, percebo o quão significativa ela é para você.

- Nós nos conhecemos no ultimo ano do ensino fundamental, ela era a garota inteligente, e eu a nova aluna da sala, ela me abordou para fazermos um trabalho em grupo e eu aceitei, a partir daquele dia nunca mais nos separamos... Quer dizer até então...

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