Oito dias antes do acidente
Gabriel batia a caneta nervosamente contra a mesa. O batuque descompensado era o único som ressoando no escritório. O relógio marcava 00:47. O som da porta se abrindo o forçou a se levantar. Mateus tirava os sapatos na entrada, o semblante visivelmente cansado.
- Ei, não sabia que ainda estava acordado. - Mateus se aproxima e deposita um beijo na testa do amado. Gabriel não retribui o sorriso que lhe era oferecido. Vendo a impaciência nos olhos dele, Mateus recua com um suspiro cansado. Sem dizer mais nada se afasta e vai em direção ao banheiro. Tudo o que queria era descansar e não ter de lidar com o que fosse que se passasse na cabeça de Gabriel naquele momento.
Nos últimos meses Mateus sentia que sua relação estava passando por um novo momento. Gabriel havia se tornava mais intenso do que já era. Quando sentia raiva, era duas vezes pior, assim funcionava para qualquer outro sentimento. Por mais que ele quisesse ignorar e pôr na conta dos processos os quais os dois estavam passando em seus trabalhos, a pós de Gabriel o estava deixando mais ansioso, Mateus tinha de lidar com um dos acionistas sendo acusado de assédio por uma das funcionárias, além de tentar ao máximo controlar para que isso não ferisse a dignidade da moça e nem da empresa; Ele não se sentia capaz de administrar a crise interna. Não há como ignorar o elefante na sala.
Mateus já tinha reparado que as mudanças de humor de Gabriel não eram normais ou não aconteciam da maneira apropriada para um sujeito em condições usuais. Pensava que Gabriel talvez fosse depressivo. Ou estivesse em algum quadro clínico que impulsionava suas emoções ao máximo. No entanto, nada indicava ser isso de fato, Mateus tinha em sua cabeça que Gabriel foi mimado de todas as formas possíveis, antes mesmo deles começarem a namorar, a atitude altiva de quem poderia ter o mundo era um indicativo de que Gabriel não gostava de ser contrariado.
Mas aquela situação estava começando a cansa-lo.
Ao entrar no quarto o encontra sentado, pernas cruzadas, uma de suas mãos movia-se contra o tecido de sua calça. Já conhecia aquele gesto. Ele estava ansioso. Hoje seria um dos dias ruins?
- Me desculpe chegar atrasado. Eu tive de ficar para ajustar o contrato sobre o James. A funcionária quer ir a julgamento e quer afundar a empresa junto a James. - Se sentando ao lado dele, Mateus segura sua mão. Calmamente, passeia seus dedos na parte interna da mão de Gabriel, acariciando a pele macia. - Me desculpa?
Ele estava cansado de se desculpar. Mas não parava de dizer as mesmas palavras, pois o amava e era a única coisa que ele poderia fazer .
- Você demorou muito. Eu preparei o jantar para você. - Havia um certo pânico em sua voz. Era sempre assim, como se Gabriel fosse impossibilitado de escuta-lo. E Mew tinha de reforçar cada palavra.
- Eu agradeço, mas eu realmente estava ocupado. Não foi algo proposital. - Mateus solta a mão dele. Não repara quando Gabriel o olha angustiado. - Sabe, Gabriel, estou cansado.
Ele queria ser verdadeiro com o homem que amava. Sentimentos não sustentavam um relacionamento, Mateus não queria se separar dele, mas não conseguia mais ignorar que aquilo estava começando a sufoca-lo.
Gabriel fecha sua mão ao lado de sua perna, as unhas curtas penetrando a carne de sua palma enquanto a sensação invasiva de medo se instalava dentro de si. Mateus irá me abandonar.
- Eu não sei o porque você está tão cismado. Eu nunca te trairia. Você sabe que me importo com você, se pudesse eu te daria as drogas das estrelas. Mas isso aqui está começando a me deixar mal, Gabriel. - As palavras saiam difíceis da boca de Mateus, ele se forçava a dize-las de modo que não o machucasse.
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Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)
RomanceGabriel acorda após um ano em coma. Sem memórias e aprendendo a lidar com uma realidade desconhecida, torna-se um desafio saber quem foi antes do acidente. Aos poucos vai descobrindo que nada parecia estar certo em sua vida antiga. De tal forma que...