A Lua está bonita hoje

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O sol se punha na frente dos olhos curiosos, a coloração alaranjada permeava o cenário, criando um clima ameno. O universo parecia em harmonia. Essa era a sensação em Mateus.  

Observa como Gabriel parecia tranquilo, como se não houvessem preocupações em seu mundo. Os cabelos escuros curtos se moviam com a indicação do vento, seus olhos se mantinham semicerrados para o horizonte onde o sol ainda se fazia presente, dando seu último adeus.

Os últimos meses tinham sido interessantes. Em algum momento notou que Gabriel era a primeira pessoa em seus pensamentos quando tinha algo para contar. Ele parecia estar sempre ali. A questão em seu coração era que ele era uma pessoa descaradamente egoísta. Isso era visível e o rapaz não fazia questão de esconder, no entanto, quando Mateuw se permitiu conhece-lo um pouco melhor, viu que por detrás de toda aquela formação altiva havia vulnerabilidade. 

Os sorrisos alegres, as falas que geralmente fluíam entre ironia e cortejo, até mesmo o modo como seus olhos nunca esconderam as reais intenções, tudo o que Gabriel mostrava não foi o responsável pelo interesse de Mateus.  

A beleza inquestionável do mais novo podia ser considerado bônus, mas os sentimentos de Mateus partiram de outro lugar. Ele não saberia denominar, mas poderia pontuar alguns como: a forma atenciosa que Gabriel se dirigia a ele, o jeito despreocupado que tentava miseravelmente esconder a ansiedade quando alguma coisa não estava certa, sua habilidade para reparar em detalhes que passariam despercebidos por qualquer outro, os devaneios que sempre faziam Mateus ter que se forçar a acompanha-lo pois eram sempre questões difíceis demais para serem tratados com superficialidade. 

Gabriel era como uma matrioska, as bonecas russas, de modo decrescente Mateus ia lendo as camadas dele. 

Mas talvez ele tenha parado de lê-lo antes de alcançar a última camada. 

°°°°

- A lua está bonita hoje, não acha? - Gabriel sorri, do tipo que mobiliza todo o seu rosto. Mateus olha para lua, não via nada demais. Ele realmente não era um cara metafórico. 

- Acho que sim. Ela parece a mesma. - O sorriso de Gabriel não diminui, pelo contrário, aumenta, agora mostrando seus dentes perfeitamente alinhados. Mateus gostava quando ele sorria daquele jeito, não se importaria de olha-lo e acompanhar as futuras mudanças que teriam na face jovem. 

- Como você é direto, Mateus.  - Gabriel se inclina, passando a mão entre os fios que voltam organizadamente para o mesmo lugar. - A vida é pura poesia, uma lua não é somente um astro. Depende da forma como vemos as coisas. 

Mateus se propõe a pensar. Se fosse com qualquer outra pessoa, ele teria deixado o assunto para lá. Mas era Gabriel, e sabia que não teria coragem de ignora-lo quando ele se mostrava tão receptivo. 

Mesmo que Gabriel sempre tenha sido receptivo com ele, não gostava da ideia de um possível dia ele deixasse de ser.

- A lua é um astro iluminado, ela não tem luz própria então reflete a luz solar. É isso? - O mais novo acena, visivelmente gostando da resposta. 

- Não. Mas eu vou dar pontos pelo seu esforço. - Mateus revira os olhos. 

- Eu sou da área de exatas, tenho total de zero comprometimento com a literatura e suas metalinguagens. - Gabriel franze o nariz no movimento que Mateus achou a coisa mais adorável. Sem se importar onde estavam se inclina e segura a face redonda de Gabriel, aproximando de si. 

Os olhos castanhos claros brilhavam para ele. Ou talvez fosse o efeito reflexivo das luzes dos postes. 

- A lua é linda todos os dias enquanto o sol está lá para ilumina-la. O sol é o motivo da lua continuar a mostrar-se tão reluzente em noites como essa. - Gabriel segura os pulsos de Mateus, e era em momentos como esses, quando ele se deixava tão sensível, que Mateus poderia ler tantos sentimentos dentro dele que o confundia. 

- Quem é a lua? - Murmura. Poderia não saber fazer metáforas, mas conseguia em algum nível, lê-las. 

Deposita um breve selar na testa de Gabriel. 

- Vou deixar você pensando. - Gabriel se inclina e o beija primeiro. 

Mateus era todo sobre contato físico. Sua vida sexual não era nem um pouco estagnada. Mas desde que Gabriel se tornou o centro de seu interesse, seja por causa de seus crescentes sentimentos, seja porque a atração física entre eles era mais forte do que já sentiu por outras pessoas, Mateus se sentia extremamente conectado a ele. 

E Gabriel era excepcionalmente bom no que fazia, além de ter uma áurea dominante toda vez que eles se beijavam. E Mateus deixava. Cedia para ele em tudo. 

- Você é tão ingênuo. - Gabriel acaricia o rosto de Mateus, traçando levemente o contorno dos lábios dele. 

- Sério? Não é você que é malicioso? - A face de Gabriel se torna irônica, e seus dedos rumam em direção ao pescoço de Mateus. 

Muito rápido para que conseguisse analisar as expressões do outro, Gabriel sorri de maneira culposa, apoiando sua mão na nuca de Mateus o puxando num movimento bruto. 

- Eu sou completamente degenerado. - O tom cru não passou despercebido. 

Colocando seus lábios no lóbulo da orelha de Mateus, planta um beijo calmo antes de sugar a pele entre seus lábios, sua língua massageando a área desavergonhadamente. Mateus pressiona a perna de Gabriel onde sua mão estava apoiada, sentindo o calor descer pelo o seu corpo.

- Você é meu bebê. - Mateus queria se recusar a acreditar que ficou realmente excitado com aquela fala. Julgava o fato de Gabriel estar tão perto e sua boca maligna estarem o tentando e o deixando animado o motivo. 

- Vou considerar isso como um termo honorífico. - Gabriel ri de sua fala, se afastando lentamente. - Você só tem cara de bonzinho. 

Mateus agarra a mandíbula de Gabriel num toque rude.

 A expressão do mais novo agora retida. Era surreal como aquele menino o atraia de todas as formas. Ao mesmo tempo em que tinha uma incessante necessidade de o dominar não hesitava em deixa-lo fazer o mesmo consigo. Não era apenas fisicamente, era o tipo de controle que não deveria ser possível estar nas mãos de ninguém. 

- Não gosta quando eu não sou bonzinho? - A incerteza nos olhos de Gabriel não fez com que Mateus titubeasse. 

- Eu gosto de você de qualquer jeito, Gabriel. Principalmente de costas na minha cama. - Agora a imagem mental de Gabriel em sua cama se tornou real e ele queria muito poder alcança-la. E o indicativo da tentação estava em suas partes inferiores.

- Eu gosto de ser do jeito que você quer que eu seja. - Alguma parte da mente de Mateus o dizia que deveria corrigir aquela fala. Modifica-la. Mas seu pau sentiu cada palavra e ele desistiu de lutar com sua consciência.  




Nota: * "A lua está bonita"  carrega o significado de "Eu te amo" ;  A escrita em japonês é bem reconhecida nos meios filosóficos. Logo, passou a ser um eufemismo para o ditado acima. 






Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Onde histórias criam vida. Descubra agora