Voltar a viver

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Mateus

- Ok, não sei se isso é saudável. - A voz da minha irmã mais nova estava se tornando extremamente irritante nos últimos dias. Respirando fundo, levanto minha cabeça lentamente, me rodeando de paciência, antes de olha-la. 

- O que você quer dizer. 

- Mateus, você está há duas semanas, 24/7 focado no serviço. Quando não está na sede, fica em casa preso nesse escritório. Você tem dormido? Por que quando eu vou dormir você está aqui, quando eu acordo você está aqui! Pelo amor de Deus! Estou preocupada. 

Era visível sua preocupação, podia ver que era genuína. Minha irmã mais nova, de alguma forma, estava encarregada de me manter seguro, tinha quase certeza que foi a mandado de nossa mãe. Naila disse que queria ficar comigo por pelo menos um mês, isso aconteceu meses depois de Gabriel ser internado, então era meio óbvio que minha família estava com medo de que eu voltasse ao meu estágio antigo. 

- Eu estou bem Na. Na verdade, eu e Ran estamos lidando com uma transição bem complicada, preciso checar tudo pelo menos três vezes, não posso perder dinheiro nisso. - Não menti, apesar da expressão que ela me dirigiu ser de descrença. 

Qualquer fala minha seria levada em descredito, logo, resolvi voltar aos meus afazeres, ainda faltavam mais treze parágrafos. Seria mais rápido se Naila não estivesse andando de ponta a ponta em meu escritório. 

- Você não está preocupado que ele não queira saber mais de você, já que não lembra de nada? - Seu tom soou tranquilo ao chegar aos meus ouvidos. 

- Sim, claro que estou. 

- Então porquê não foi o ver? Aquela vaca está te impedindo? - A encaro repreendendo seu vocabulário, ela revira os olhos para mim. - É isso não é ? A mãe dele não quer que você o veja, certo? Mas você já é adulto, ele também e, além disso, vocês são namorados, ele ao menos tem que vir até você e terminar tudo, se for isso que quer. 

Agora minha pequena irmã parecia brava, seu rosto jovem emburrado, seu semblante sério e carregado. Era fofa.

Eu realmente entendia a frustração dela, pois tinha certeza que não superava a minha. Na verdade, Gloria Almeida me pediu um tempo, tanto que já se passaram três meses e meio. Eu não sabia como chegar perto dele sem aparentar invasivo, afinal, ele não se lembrava de mim. No momento, ele precisava se recuperar. Gloria deixou bem claro que eu não fazia parte da família dela, do modo dissimulado que sempre se direcionou a mim. 

Antes, eu tentaria a confrontar, mas não queria esse tipo de abordagem, assim como ela, desejava a melhora de Gabriel acima de tudo. E, com o único vislumbre que tive dele, foi animador e deteriorante ao mesmo tempo. Era como estar preso em um pesadelo pessoal e egoísta. A minha dor não precisava ser amostrada para ele, eu pedi tanto para que esse momento chegasse e chegou. Não tinha direito de reclamar. 

Meus pais e Naila estavam preocupados com minha reação, mas eu estou a mesma coisa desde que ele estava em coma, a diferença é que agora, meu coração voltou a sangrar. Mas reconheço que desenvolvi um comportamento um tanto quanto abusivo comigo mesmo, trabalhar agora fazia mais sentido que tudo. 

Eu não podia alcançar o homem que amava e nunca tivemos uma conclusão. As noites voltaram a ser as piores de novo, olhar para a foto dele me devolvia as lágrimas, me assolava em medo. Era como me assistir em uma tv plana em full hd, tudo se repetia. E para parar esse ato lastimoso, preferia me infiltrar em trabalho. Tudo bem não dormir, portanto que eu não pense sobre o que não existia mais, tudo estaria bem. 

Conseguia perceber o parâmetro de fuga da realidade e era isso que eu queria, fugir. Se pensasse muito sobre isso, talvez as conclusões acelere a destruição de mim mesmo. 

Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Onde histórias criam vida. Descubra agora