Não poderia confirmar quantas horas passei lendo as mensagens em que o Gabriel antes do coma teve com Mateus, mas tenho certeza de que ainda estava claro do lado de fora quando comecei. E agora o céu já escuro me dava certa indicação do tempo gasto.
Não havia tantas mensagens conforme imaginei que teriam. Mas claro, morávamos juntos, não haveria necessidade de conversarem por celular, certo ? Ainda assim, mesmo sabendo que era eu, me sentia como um intruso por meio daquelas palavras. Como se eu estivesse espiando através da abertura da porta. Esse era a sensação de toda a minha vida até aqui, eu estava vendo tudo através de uma pequena brecha do formato de uma chave.
Eu era um cara bem direto pelo jeito. Mesmo no início, minhas mensagens eram todas flertes bem construídos. Interessante saber disso. Ainda não tentei flertar com ninguém, não havia pensado nisso e muito menos com vontade para tal. E eu ainda acho que estava namorando Mateus, não havíamos finalizado nada em nossa conversa cara a cara.
A nossa última conversa foi exatamente oito dias antes do acidente. E Mateus havia me mandado uma foto da mesa de reunião após eu perguntar aonde ele estava, pois sentia saudades. Ele poderia ter ao menos mandado um' eu também ao invés da foto. Que grosso. No entanto, eu não podia negar que tinha um padrão em relação as minhas mensagens, depois do que imaginava ser o tempo em que começamos a namorar eu me tornei um pouco chato. Eram tantas perguntas sobre onde Mateus estava, quando voltaria, amenidades sem graças que não precisavam ser enviadas que me deixaram um pouco sem graça por mim mesmo.
Mateus sempre respondia. Cada uma das mensagens. Mas ele também tinha um padrão. Depois do que parece meses, quatro meses antes da data do acidente, suas respostas começaram a serem menos específicas e bem rudes. Tudo naquela troca de assuntos soava estranho e demostrava um casal desgastado. As palavras de Guia me cercam mais uma vez, então nessa época já estávamos tendo problemas?
Eu o enviei uma mensagem um dia antes do acidente.
- Estou bem, mas não estou bem. Eu sou fraco Mateus, você tem razão, não posso me controlar. Eu continuo me machucando por causa dos erros que repito 50 mil vezes. Me desculpe.
Não havia resposta de volta.
Posterguei as mensagens porque eu não queria saber. Foi decidido que enterraria o antigo Gabriel. Mas assim que tentei apagar, minha curiosidade falou mais alto. Me arrependo de ter feito isso.
- Eu não estava bem, não é?
O envio sem pensar muito sobre. Eu tinha dificuldades de pensar quando minha mente estava em Mateus. Era possível que meu inconsciente lembrasse dele, por isso eu me sentia tão inclinado a ele?
Não sabia se responderia e não esperava que o fizesse. Se ele pôs um fim em seu coração, não ficaria chateado. Era o direito dele.
- Não. Mas eu também não estava melhor.
Assim que a mensagem se formulou bem diante de meus olhos, por um momento achei que tinha sido deslocado geograficamente. Meu peito se sentia estranho. Me movimento na cama para afastar essa sensação.
- Você sabe quem está falando?
Reviro meus olhos para minha própria pergunta. Mas ainda assim fazia certo sentido. Talvez ele não fosse bom em decorar números e havia deletado o meu. Coisas simples que eu não sabia responder.
- E você sabe? O que procura aqui?
Mensagens não davam espaços para interpretações se não houvessem emojis. Mas de alguma forma, eu sabia que Mateus estava sendo irônico.
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Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)
RomanceGabriel acorda após um ano em coma. Sem memórias e aprendendo a lidar com uma realidade desconhecida, torna-se um desafio saber quem foi antes do acidente. Aos poucos vai descobrindo que nada parecia estar certo em sua vida antiga. De tal forma que...