Não seja um covarde

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Assim que abro os meus olhos sou recebido com muita luz e extrema enxaqueca. Demoro-me na cama que não se parecia a minha. O cheiro do local era identificável. Mew. Noto ao redor, mas ele não estava por perto. 

Aos poucos, enquanto fazia o meu caminho para o banheiro, algumas lembranças acudiam minha mente confusa. Preferia não ter lembrado. Não acredito que me droguei. Provavelmente a parte da droga não foi a pior parte, eu quis saber como seria a sensação. Não sei se posso dizer que me arrependo. Mas a sensação era um misto entre alívio e vergonha. 

Encontrar o meu reflexo me fez repensar acerca do arrependimento. Meus olhos estavam ridicularmente fundos, minha face inchada e havia um chupão no meu pescoço. Abaixo a cabeça, não sabendo lidar comigo mesmo. 

Mew deve ter visto tudo. Eu não lembro de tê-lo traído. Talvez eu não consiga me lembrar dos detalhes. 

- Droga Gulf. Merda, merda, merda. - Me jogo no chão, sentindo o gélido piso sob os meus pés descalços. Noto que não estava com as minhas roupas. Aproximo a blusa do meu nariz, o cheiro característico do perfume de Mew invadindo meus sensores. 

Dou-me tempo para pensar sobre a noite passada. Lembro-me de Luke, de Guia bêbada, de uma garota desconhecida, ela deve ter sido a responsável pelo chupão. E então, Mew. Acho que eu disse algumas coisas para ele. 

Toco a minha testa, uma latente onda de dor interrompe o fluxo dos meus pensamentos. Precisava de algum remédio. Me levanto lentamente, movimentando-me em passos vagarentos. 

Por causa de uma maldita noite eu teria que ouvir Katy falando por uma hora sobre o meu processo e bla, bla, bla. Imagino que o que fiz foi errado, mas não fiz nada demais. A droga era ridícula, o efeito era basicamente algumas garrafas de tequila, talvez menos. Ou era isso que eu ouvi falar. 

A cada passo eu me sentia mais um idiota. A ausência de arrependimento se quebrando aos poucos conforme a realidade invade a minha perspectiva. 

Assem que adentrei na cozinha, encontro Mew sentado na mesa. Seus olhos gentis repousam em mim. Mas o seu sorriso, mesmo que estivesse ali, pareciam estranhos. Distante.

- Deixei para você um remédio, o café e panquecas. Vai precisar. - Mew aponta para o lugar a sua frente. 

Assim que me sento e me permito tomar algo para sanar a minha dor de cabeça, me aquieto. Mew não olha de novo, focava em seu tablet ao lado do seu prato vazio.  Após alguns minutos, sentindo minha mente voltar a raciocinar, me atenho a tomar o café e tentar lembrar do que eu disse para ele. A lembrança parecia longe demais, mas eu recuperei um sentimento, frustração. 

- Está melhor? - Pergunta, desligando o objeto e dedicando sua atenção a mim. 

Aceno, receoso do que ele queria dizer. Eu não estava me sentindo bem, apenas menos pior. 

- Podemos conversar sobre ontem? 

Aceno mais uma vez, agora completamente incerto. 

- Eu não me lembro de muita coisa, eu sei que fiz merda. Não deveria ter tomado aquela droga, eu sei. Mas eu quis. Não vou me explicar, apenas quis. 

Mew não parecia me julgar, no entanto, os seus olhos demonstram uma tristeza que me força parar de comer. 

- Você explicou, ontem. - Mew suspira. 

Ele também não parecia muito bem, reparando-o melhor, havia olheiras escuras abaixo de seus olhos e uma tensão tão visível que me pergunto como não vi antes. 

- Você não é mais criança, como você mesmo disse, você sabe o que fez. Eu só posso te dizer, que eu também não sou uma criança e sei o que faço. 

Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Onde histórias criam vida. Descubra agora