E eu espero

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Dois anos e meio depois

Reviro os olhos para a palestra desnecessária que meu superior decidiu dedicar aos funcionários por apenas fazer o trabalho deles. O homem era um filho da puta egocêntrico e mesquinho, o erro foi dele e a execução foi nossa. Mas decido guardar a minha opinião, não poderia ser demitido. Estava fazendo uma boa trajetória. Consegui emprego por conta própria, terminei a minha pós e atuava na área em que gostava. E ter um chefe idiota fazia parte da cena. 

- Ele falou por quase vinte horas! Eu juro que estava noite quando entrei na empresa! - Wanda comenta assim que saímos para almoçar. 

- Ele é tão desnecessário. - Saul murmura em resposta. 

Wanda e Saul foram os primeiros contatos que consegui afinidade na empresa, havia outros, mas como estávamos na mesma equipe, tornava a proximidade maior. 

- Ei, Gulf, vamos sair mais tarde? Ir naquele restaurante que abriu? Comida italiana parece bom para você? - Saul se aproxima de mim, fazendo com que nossos braços entrassem em contato. 

- Parece bom. Você vai pagar? - Saul sorri.

- Fala do seu chefe, mas é tão mesquinho quanto ele. - Murmura para mim. 

- Devo supor que eu não fui convidada e isso é um encontro? - Wanda se intromete, apenas levanto os meus ombros para ela e recebo um tapa. 

- Homens... - Sussurra não conseguindo esconder a risada.  

Saul e eu começamos a nos envolver por pura diversão, não o vejo nada além disso. Não sei sobre ele e, sinceramente, nunca escondi as minhas intenções, ele sabe que tem que se responsabilizar por si mesmo. 

Após um começo turbulento, consegui recuperar o trilho da minha vida. Era estranho pensar sobre tudo o que aconteceu dois anos atrás. A parte boa, não fui diagnosticado com Borderline, ainda não, Katy disse que essas coisas aconteciam. Mas como nada seria tão fácil, fui diagnosticado com ansiedade crônica, na época, também atuava junto a depressão.

Piorou depois que Mew me deixou. 

Foram meses e meses de medicamentos, psicoterapia e terapia cognitiva comportamental. Eu fiquei excessivamente preocupado com tudo, não conseguia me relacionar de forma saudável com outras pessoas e isso incluía a minha família. Por muito tempo não conseguia pensar sobre Mew, ele era um gatilho que tornava a situação difícil para mim. Agora eu estou melhor. Pensar nele ainda doí, mas não me leva a reagir como antes. 

Tudo se mantinha muito vívido em minha mente. Cada segundo. Às vezes, eu me permitia chorar. Ainda era difícil compartilhar isso com a terapeuta, me sentia envergonhado por, mesmo após quase três anos, não o ter superado ainda. Ela nunca disse que eu iria, mas deu a entender que seria possível. Pelo jeito não foi. 

Eu me envolvi com muitas pessoas depois que me recuperei. Homens e mulheres, no entanto, não conseguia me apegar a nenhum deles. Por mais legais que fossem, o sentimento não encaminhava. Talvez eu esteja esperando ele voltar, o que era idiota da minha parte. Senti muita raiva dele, cheguei a pensar que tal sentimento tomaria o lugar do amor e eu poderia esquece-lo, mas depois, eu me peguei concordando com sua decisão. Ele fez o que achou ser melhor para mim e para ele. No final, talvez ele estivesse correto. O único problema era que, provavelmente, ele estava vivendo bem e amando outra pessoa, enquanto que eu fui o único que não superou. 

Evitei segui-lo. Apenas fiquei sabendo por meio de Guia que ele se mudou de cidade. Um ano atrás eu fui até o apartamento, porque foi um dos dias em que eu não conseguia não pensar nele, mas estava alugado e no meu nome. O depósito era feito na minha conta, eu já sabia, mas quis ir e conferir mesmo depois de tempos. 

Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Onde histórias criam vida. Descubra agora