3 - James

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Natasha Romanoff entrou de rompante na sala anexa à sala de operações onde se encontrava Nick Fury a lutar pela vida e posicionou-se ao lado de Steve Rogers observando o trabalho médico.

- Vai sobreviver?

- Não sei. – Respondeu-lhe o homem.

- Fala-me do atirador. – Pediu.

- É rápido, forte. – Steve encarou o chão como se não acreditasse no que ia dizer a seguir. – Tinha um braço de metal. – Uma pausa. – Não estava sozinho. Havia uma mulher também, não no local dos disparos, mas num edifício perto.

- Como sabes que estão relacionados? – A cara de Natasha revelava um sinal de reconhecimento.

- A mesma máscara a cobrir o rosto, as mesmas cores nos fatos que envergavam, a mesma postura corporal...o mesmo olhar vazio. – A sua mente foi assaltada pela imagem dos olhos castanhos que o fitavam com tamanha intensidade, um tanto felino, no entanto sem brilho. O típico olhar que costumava ver nos soldados que serviram tempo demais, prontos a obedecer e quase como se se tivessem esquecido do que era viver.

***

O Soldado de Inverno encontrava-se deitado de costas no chão do seu espaço exíguo decorado de pequenos cofres, com a mão direita debaixo da cabeça, a de metal pousada sobre a sua barriga, fitava o teto analisando quase ao detalhe a missão desse dia.

- Sabes que tens uma almofada mesmo ao teu lado, não sabes? – A voz feminina sobressaltou-o de quão perto lhe soou, desceu o olhar do teto para a figura sentada na sua "cela", no canto afastado no seguimento da porta de grades, longe da vista de quem passasse no corredor.

- Eles sabem desse teu novo meio de transporte? – As últimas palavras saíram com ironia.

- Não lhe chamaria de novo – Ray reposicionou-se de maneira a ficar de frente para o Soldado – e além disso, uma mulher tem que ter os seus segredos.

Realmente esta situação não era nova, na primeira vez que aconteceu Ray tinha assustado tanto o Soldado com o seu súbito aparecimento na sua cela trancada a meio de noite que este ficou feliz por não ter a sua arma consigo ou teria alvejado a rapariga com, na altura, cerca de 11 anos de idade. Uma morte que nunca se perdoaria, pois, gostava dela como se de uma irmã mais nova se tratasse.

- Lamento, mas não tenho comida. – E ele lamentava-se mesmo, sabia o quanto os agentes da Hydra podiam ser cruéis quanto se tratava de alimentar Ray. Tinham tanto receio que ela se virasse contra eles que deixá-la passar fome ao ponto de quase não ter energia para se movimentar se tinha tornado no meio de controlo mais utilizado.

- É isso que pensas de mim, que só te procuro para comida? – Fingiu-se de ofendida. – Partes-me o coração James. – Colocou uma mão sobre o peito com demasiada teatralidade. Um sorriso pairou sobre os lábios do Soldado.

Ray só o chamava de James quando se encontravam sozinhos, afinal era esse o nome que estava gravado nas placas de metal que o seu amigo trazia ao peito, «Sargento James Buchanan Barnes» fosse lá quem tivesse sido esse homem. Mesmo o tom de brincadeira, ou conversa leve, era usada apenas quando estavam a sós.

- O que sabes sobre o homem que te perseguiu?

James sentou-se e apoiou-se sobre o braço robótico, ali estava a razão porque Ray o tinha ido visitar. Ao contrário dele, que tentava não se focar em quem conhecia pois mais cedo ou mais tarde a sua memória seria novamente reiniciada e toda a informação esquecida, a sua amiga tinha uma curiosidade natural por tudo o que era novidade.

- Gostava de te poder dar algum tipo de informação, mas, não sei. – A sensação de inutilidade voltou a assombra-lo. O Soldado de Inverno apenas existia para cumprir ordens, não precisava de ter mais informações do que as que diziam respeito às suas vítimas.

- É impossível que aquele homem seja apenas um humano. Nenhum ser comum alguma vez atravessaria uma janela e saltava uma distância de dez metros entre edifícios.

- E também é veloz. Ele acompanhou a minha corrida mesmo estando dentro de um edifício com todos os obstáculos inerentes. – Acrescentou James.

- Com quem é que estás a falar? – Rumlow apareceu de repente no corredor exterior, seguido de Rollins, desviando a atenção do Soldado de Ray para si.

James nada disse, sabia que o silêncio era uma arma poderosa, principalmente quando se tratava dos agentes da Hydra, desviou o olhar para o fundo da sua "cela" e constatou que se encontrava sozinho no espaço. Rumlow apercebeu-se que não iria ter resposta pelo que prosseguiu. – Desta vez a tua missão teve sucesso. Nick Fury foi declarado morto, no hospital, à cerca de uma hora. – Mais uma vez não houve qualquer reação por parte do Soldado.

O agente virou costas e dirigiu-se à outra "cela", colocou as duas mãos nas grades e espreitou lá para dentro. O Soldado de Inverno sabia que não tinha razões para isso, mas não conseguia evitar ficar tenso. O corpo de Ray estava deitado no chão, de costas para a porta, o fino cobertor cobria-a até aos ombros e o seu cabelo castanho estava espraiado na almofada. A respiração era regular como se a voz dos homens não a tivesse acordado. Rumlow fez sinal a Rollins e ambos abandonaram o local. James sentiu-se descomprimir, levantou-se e aproximou-se das grades tentando ter uma melhor visão de Ray, mas tudo o que conseguia ver era um pouco de cobertor e o que seriam uns pés por baixo dele.

Ray não se queria mexer, caso Rumlow ou Rollins continuassem à escuta e mesmo James não tinha mais informações para lhe dar pelo que não valia o risco de voltarem a ter uma conversa e serem apanhados. Fury estava morto, missão cumprida, mas o que é que isso significava? Iriam abandonar Nova York e regressar à Rússia? Partiriam para um novo local, uma nova missão? Se isso acontecesse Ray poderia perder a oportunidade de saber mais acerca do homem misterioso. Depois algo lhe ocorreu, se a missão tinha sido apenas eliminar Nick Fury o Soldado de Inverno era mais que suficiente para a levar a cabo, teria que haver uma razão para Ray estar ali. A Hydra tinha conhecimento deste Inumano, ele bem que podia pertencer à SHIELD tanto quanto ela sabia, não podia ser apenas coincidência dele se encontrar junto de Fury naquela noite. Tinha que haver mais...e Ray tinha que descobrir o que era.

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