O sol tinha decidido aparecer ao final do dia, iluminando as poças formadas pela chuva, criando pequenos arco-íris no chão.
A campainha em formato de sino colocado por cima da porta tilintou, informando a entrada de um cliente.
- Ele chegou.
- Nunca falha!
As vozes das duas empregadas do café eram sussurradas entre si e continham uma nota de entusiasmo.
O homem instalou-se numa mesa junto à grande janela de vidro e olhava distraidamente para as pingas que caiam do toldo enrolado. A empregada loira, com olhos azuis brilhantes e pele pálida aproximou-se.
- Boa tarde. Vai ser o costume ou hoje quer experimentar algo novo
? – A última parte da frase foi proferida com um duplo sentido e um abanar de anca, subtil, mas sugestivo.O homem virou os seus olhos azuis para ela e ofereceu-lhe um sorriso enviesado.
- Hoje não me sinto aventureiro. Vou ter que ficar pelo do costume.
- Um dia. – Soltou a loira antes de se encaminhar novamente para trás do balcão.
Ele varreu o interior do café com o seu olhar. Tudo estava normal. Ao serviço estava Maryanne, a empregada de 28 anos que desde a semana passada fazia pequenas insinuações, e Darcy, uma mulher na casa dos 40 anos, sempre com o seu cabelo loiro impecavelmente apanhado num carrapito, olhar maternal e pequenas sardas no nariz que se mexiam quando ela sorria.
Um casal de idosos ocupava a sua mesa de sempre a um canto da sala. O homem observava, através do vidro, as pessoas que saiam do seu trabalho e se encaminhavam para casa ou para o pub mais próximo, enquanto que a mulher tagarelava com uma senhora sentada numa mesa ao lado.
Um homem vestido com um macacão sarapintado de tintas de várias cores esperava pela esposa que trabalhava ali perto. Ele sempre aguardava que ela chegasse para beberem um café antes de prosseguirem com a sua vida em conjunto.
Mais duas mesas estavam ocupadas nesse final de tarde, com clientes que ele apenas vira uma ou duas vezes. Nenhuma dessas pessoas era a que ele esperava encontrar.
Maryanne trouxe o seu chá com leite e dois scones.
- Bom apetite. – Desejou e ele agradeceu com um leve sorriso.
Mais um dia perdido. A sua esperança estava a desvanecer-se e começava a acreditar que a sua premonição tinha sido afinal um sonho tolo. Nem sabia muito bem quem esperava encontrar, a sua visão não tinha sido clara, não tinha propriamente um rosto por quem procurar, mas tinha uma sensação. Suspirando virou a sua atenção para o chá na sua frente.
Uma das empregadas saiu de trás do balcão para ir servir o casal de idosos. Ele não levantou o olhar, não fosse ser Maryanne e ela confundisse a sua indagação com interesse. Ouviu o casal soltar um ar de admiração e alguém começou a bater palmas animadamente. A gargalhada sonora do homem de idade fez com que interrompesse a sua descarga de frustração no scone que desfazia entre o polegar e o indicador, levantou o olhar.
Uma terceira mulher, munida do mesmo polo de cor creme e avental preto estava junto à mesa do casal, de costas para ele. Carregava nas mãos um pequeno queque de noz com uma velinha de aniversário acesa que colocou em frente à mulher. A empregada e o homem de idade começaram a cantar os parabéns, ao que se lhes juntaram as vozes de todos os presentes. Ele também cantarolava baixinho enquanto observava o cabelo castanho ondulado, preso numa rabo de cavalo, a dançar ao ritmo dos movimentos das palmas. Quando a música terminou a mulher soprou a vela e agradeceu a todos os presentes. Agarrou na mão da empregada e agradeceu-lhe o gesto.
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Almas Nómadas
Fanfiction«James...Bucky! Ray encarava as mais altas patentes governamentais Americanas que aguardavam a sua resposta. Os pequenos movimentos corporais nas cadeiras, os dedos das mãos que agitavam as canetas ou batiam suavemente contra o tampo da imensa mesa...