14 - Velhos Amigos

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Quando Ray entrou no Complexo dos Vingadores não conseguiu conter o impulso de olhar em seu redor. Todos os locais onde tinha estado eram subterrâneos ou lugares discretos, quase sem janelas. Este edifício era tudo o contrário, era grande, branco, com janelas do telhado ao chão e tinha um enorme "A" para que não restassem dúvidas a quem pertencia. Fazia-a lembrar a Torre Stark onde tinha estado uma vez a falar com Steve.

Deixou a sua mochila num dos quartos e poucos minutos depois desceu as escadas à procura de Tony. Atravessou uma divisão ampla, com sofás, poltronas e aparelhos eletrónicos e seguiu as vozes em direção à zona da cozinha. Stark, Rhodes e Happy, que tinha conhecido um pouco antes no carro que os tinha trazido do aeroporto até ao complexo estavam sentados a uma mesa de refeições e falavam de um desporto que Ray não compreendia. Os homens ainda não tinham reparado na sua presença, deixou-se ficar perto da entrada.

Happy ouviu o som da torradeira disparar e levantou-se da cadeira, mas assim que o fez estacou. Tony e Rhodes viraram-se para lhe seguirem o olhar e depararam-se com Ray, a empunhar uma arma na direção do aparelho, as torradas à espera de serem recolhidas. Durante uns segundos fez-se silêncio enquanto todos permaneciam imóveis.

- Vais dar um tiro na minha torradeira? – Tony quebrou o silêncio. Levantou-se e caminhou na direção do aparelho.

- Assustou-me. – Ray ainda estava incerta acerca do aparelho. Ele pegou nas torradas que estavam prontas, tirou dois pedaços de pão de uma saca e colocou-os a torrar, empurrando a manivela da torradeira para baixo, reproduzindo novamente o som anteriormente ouvido. Encostou-se à bancada de frente para Ray e esticou uma mão na sua direção.

– Há uma política de "nada de armas à mesa". – Ela entregou-lhe a arma com alguma relutância à qual ele colocou junto da torradeira. – Vamos deixá-la aqui para fazerem as pazes enquanto almoçamos.

Havia mais comida na mesa que Ray alguma vez conseguiria comer, e tudo era delicioso, mesmo quando não sabia o que era. O seu estômago não estava habituado a grandes quantidades de comida pelo que ela terminou muito antes dos três homens. A conversa seguia animada entre eles, volta e meia Tony ou Rhodes olhavam Ray à espera que contribuísse, mas ela manteve-se calada durante toda a refeição. Sempre que surgia um novo barulho vindo do exterior da cozinha os seus olhos voavam expectantes para a porta.

- Ele não está aqui. – Confessou Tony em surdina quando Happy e Rhodes se levantaram para pousar os pratos no lava loiças.

- O quê? – Ray fingiu-se desentendida. Stark ergueu uma sobrancelha.

- Bucky. – Meteu mais uma uva à boca. – O Steve, o Sam e a Wanda também seguiram os seus caminhos depois da Sibéria. Estes malditos acordos fazem com que sejam procurados. – Trincou mais uma uva.

- Esta situação deve ser difícil para ti.

- Nós não vivemos todos juntos, sabes? Estou habituado a passar sem eles...

- Não... - Ray interrompeu-o abanando a cabeça - ...eu estar aqui. Depois do que a Hydra fez aos teus pais, teres que tirar uma deles de trás das grades e ainda dar abrigo. Imagino que não seja nada fácil.

- Tu não és uma deles...já não. – Tony apoiou os antebraços na mesa e inclinou-se na sua direção. – Existem vídeos teus ao longo destes anos. – Ray olhou-o com intensidade. – Eu vi a maneira como foste tratada, como te maltratavam e te deixavam a passar fome durante dias. Existem registos audiovisuais de quase tudo. Dos teus treinos, de algumas missões. Apenas eu e Emily Temple é que sabemos da sua existência. Tive que lhe mostrar para que ela pudesse conduzir o julgamento a nosso favor, embora tu não tivesses cooperado muito nessa situação. É a tua privacidade e vou respeitar. Mais ninguém os verá se não quiseres. – Tony remexeu-se na sua cadeira. – É verdade que não sou fã do teu amigo, mas no fundo, bem lá no fundo, tenho consciência que a culpa não foi dele.

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