Mais um dia de inferno, mais um dia que a vontade de morrer foi vencida.
— Jordan é voxe?
— É pai, sou eu! — Falei ao entrar na porta e encontrar meu pai bêbado no chão.
Desde que minha mãe nos abandonou ele só sabe beber e eu comer. Que vida de merda, se é que dá pra se chamar isso de vida.
— Filho... Xua mãe volto?
— Não pai, é você sabe que ela não vai voltar!
O levantei e o levei pra cama. Meu pai é o tipo do cara que bebe e fica chorando pelos cantos, tenho sorte dele não ser agressivo, mas toda a vez que eu o encontro nesse estado é como se eu levasse uma surra no meu coração, nada é pior do que isso, nem mesmo aqueles babacas da escola me machucam tanto quanto esta cena. Lá pode ser um inferno, mas nem sempre tenho vontade de voltar pra casa. Peguei o carro e fui no trivetru, comi no estacionamento até meu estômago ficar doendo, mas peguei mais comida pra levar pra casa. O pior é o efeito que a comida me causa. Eu como me sentindo feliz a ponto de "dançar" enquanto como, esqueço os problemas e o mundo, mas quando a comida acaba, meu estômago começa a doer, eu me sinto sufocado, com vergonha e culpado por estar me matando dessa maneira. Hoje na escola fiquei frustrado por não poder fazer nada pra defender aquela garota, mas como eu ia defender ela se nem ao menos consigo me defender, eu tenho pena de mim mesmo, o que ao mesmo tempo acho deprimente e horrível esse alto sentimento. Já pensei em suicídio, já pensei em parar de comer, até vomitar depois de comer eu tentei uma vez e... Enfiei a escova de dentes na garganta e nada.
— Filho... Pode vir aqui? — Perguntou meu pai já mais sobreo.
— Claro!
Ele estava sentado na beira da cama, o estado decadente dele me faz querer sair pela porta e não voltar mais.
— Fui demitido! — Disse ele começando a chorar.
— Pai... Como... Como pode...
— Eu não aguento mais, tenho vontade de morrer.
— Pai, não pode me abandonar, não agora, ano que vem eu ia pra faculdade... Eu precisava de você.
— Eu sei filho, sei que tô errando com você.
— Está fazendo comigo o mesmo que a mãe fez com você!
Falei pegando a chave do carro e saindo daquele momento sufocante, vou ter que procurar um emprego, mas... Quem me contrataria?
— Que ótimo! — Uma sorveteira vazia. Desci do carro e já comecei a pensar nos sabores que eu encontraria e comecei a esquecer dos problemas, tudo o que eu queria era um enorme sorvete de chocolate com avelã. Só pensei direito no que tinha feito quando saí da sorveteira abraçado a um balde de 10L de sorvete e me dou de cara com a garota. Afrodite me olhou e meu rosto deve ter ficado muito vermelho, pelo calor que a vergonha fez espalhar. Um cara segurava a mão dela, ele era bonito e forte, parecia ser pouca coisa mais velho que ela, claro que ela teria um namorado, ela é linda. Corri pro carro fugindo daquele constrangimento ao qual me meti. Joguei o pote de sorvete no acento do lado e comecei a chorar assim que fechei a porta.
♥️ ♥️ ♥️ ♥️
Afrodite
— Vamos Dite, precisamos comemorar.
— Tio sabe que não gosto de lugares com gente.
— Vamos procurar um lugar sem muita gente.
Depois de rodar um monte achamos uma sorveteira. Meu tio estacionou e saímos, na porta da sorveteira nos damos de cara com o garoto cujo não sei o nome porque não prestei atenção na chamada da escola . Ele ficou muito constrangido e praticamente fugiu. Meu tio apertou minha mão pra chamar minha atenção que ficou toda no garoto.
— Você o conhece?
— Não... Digo, sim da escola, mas não fomos apresentados.
— Por que será que ele saiu daquela maneira?
— Não sei.
— Vem vamos comprar um sorvete pra comemorar.
Compramos e voltamos pro carro no estacionamento, o garoto estava abraçado ao volante chorando. Me deu uma angústia tão grande, eu queria abraçá-lo e reconfortá-lo.
— Preciso ajudá-lo! — Murmurei.
— Você gostaria? — Cortou-me meu tio segurando meu braço quando fiz menção de sair.
Pensei por um momento olhando nos olhos do meu tio, eu não sei se eu gostaria que me encontrassem daquela maneira, mas sei que eu preciso de ajuda... E ele também, mas talvez não seja o momento certo. Tirei a mão da maçaneta, suspirei.
— Porque se você precisa de ajuda meu amor, eu posso lhe oferecer quando você precisar!
— Estou bem tio!
— Tanto quanto ele!
— Não entendi... Esquece.
— Entendeu sim, precisa de ajuda meu bem, tanto quanto aquele garoto precisa, e nenhum vai dar o braço a torcer, talvez ele não tenha ninguém por ele, mas eu quero que você saiba que você tem.
— Obrigado tio, mas eu não conseguiria virar a rainha do baile em tão poucos meses! — Falei debochada.
— Quem disse que não? — Disse ele enchendo a boca de sorvete e com o próprio apontou pro garoto. — E posso transformar ele no rei, é só dizer eu quero e eu viro a fada madrinha de vocês.
O olhei desconfiada que aquilo fosse uma brincadeira dele, mas ele pareceu sério. Então a ficha me caiu.
— Tio você é gay?
— Não! — Disse ele corando forte. — Lembrei que tenho uma reunião. — Ele ligou o carro. — Preciso contratar um assistente pra me lembrar dessas coisas.
— Tio não muda de assunto.
— Não estou mudando, já falei que não sou.
— Que pena.
Ele me olhou.
— Por quê?
— Eu ia amar ter outro tio.
— E porque não uma tia?
— Porque ela pode ter ciúmes de nós e outro tio me adotaria.
— Humm... Tem lógica.
— Você é?
— Não!
— Vou te amar do mesmo jeito que antes, vou estar ao seu lado também caso você seja.
Ele desviou o olhar prestando atenção no trânsito. Aquilo foi mais que uma resposta de confirmação. Não sou a única que precisa de ajuda.
— Sabe tio, você disse que eu tenho alguém, que eu tenho você quando eu precisar e eu quero dizer a você que o sentimento é recíproco, e que você não tá sozinho também e se precisar de mim pra sempre, pra sempre estarei contigo.
Ele fungou disfarçando entre olhar pra lateral da janela dele e para o trânsito a frente.
— Obrigada! — Disse ele com a voz embargada.
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Amor e subversão
RomancePra muitos o amor é subversão, é raro a pessoa que não tenha que quebrar regras para poder amar livremente. Amar a si ou a qualquer outro, aliás amar a si é um dos maiores desafios, é preciso coragem... não... a palavra é ''subversão'' Regras fora...