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Jordan

Entrei de cabeça baixa, envergonhado por minha fraqueza. Brian pegou algumas sacolas e me levou a cozinha dos funcionários, colocou tudo espalhado na mesa. Gesticulou pra que eu me sentasse. Não disse uma palavra até se sentar.

— Coma J!

— Vai comer?

— Vou!

Então comecei a comer, aquelas batatas deliciosas, aquele molho do Hambúrguer derretendo na minha boca, quando levantei os olhos ele estava destruindo uma batatinha entre os dedos a olhando. Parei para ver se ele estava mesmo comendo.

— Já volto! — Disse ele saindo da cozinha e eu aproveitei pra encher a boca com o resto do Hambúrguer delicioso que levava minha mente a vagar num misto de prazer e esquecimento, estava bebendo o meu refri quando Brian entrou com uma caixa e saiu de novo, voltou com um microscópio. Parei de comer e ele entrou com outra caixa. Fiquei quieto sentindo meu estômago doer mesmo eu tendo comido menos do que eu comeria. Juntei os pacotes vazios e limpando a mesa com os guardanapos que estavam no centro. A comida dele estava intocada.

— Terminou?

— Hurum!

— Ok! — Ele pegou o refri que estava na minha frente e um copo de vidro menor que o do refri, colocando-o do lado pegou um pode de açúcar do armário e despejou dentro quase até a boca do copo. — Você acabou de por dentro do seu corpo essa mesma quantidade de açúcar.

Eu fiquei quieto e chocado com àquilo.

— Nessas batatas e o seu hambúrguer você colocou de óleo o equivale te a isso aqui! — Disse ele colocando óleo em outro copo e assim ele fez com o resto até que ele pegou o microscópio colocando-o na minha frente pegou um pedaço do hambúrguer dele e o colocou em um vidrinho e mandou eu olhar. Depois um pedaço do pão tinha coisas microscópicas se movimentando, pegou mais alguma coisa e tinha pelo e encontrei a pata de um inseto e meu estômago começou a revirar, então a última imagem veio e senti o gosto amargo do vômito e Brian estava com um saco do próprio lanche estendido o peguei e vomitei, as imagens vinham a minha mente e eu vomitei mais e mais, meu peito doía, minha garganta ardia, meu nariz queimava, meus olhos lacrimejavam, no final eu já estava fazendo apenas arcada e nada saia, Brian pegou o saco da minha mão e me entregou um copo com um efervescente na água. O bebi sem pestanejar.

— Como você está?

— Mal! — Minha voz saiu rouca.

— Peço desculpa pelo que eu fiz com você.

— Não. Não se desculpe, mas podia ter me avisado antes.

— Por que se você ta acostumado a comer isso sempre Jordan, ou eu estou errado?

— Está certo, Deus, que nojo!

— Isso é o mínimo, tem coisas que você viu ali que nem sabe o que é, mas eu sei, tem até coliformes fecais ali.  — Veio outra ânsia. Ele me estendeu outro saco de papel menor.— Já encontrei até unha...

— Para por favor! — Implorei fazendo mais uma arcada, mas nada saiu. Ele se calou. E eu respirei fundo, como vou fazer agora sem nada pra me confortar, comecei a chorar a última coisa que eu tinha que me dava alívio foi tirada de mim.

— Jordan. . .  — Murmurou ele abaixando na minha frente — Olha pra mim.

— Eu sou um fracasso. . . nem minha mãe me quis... — Eu soluçava entre as palavras. — Tem dias que eu tenho vontade de . . .

— Diga!

— Morrer.

Ele me abraçou e eu não me importei que ele fosse homem ou namorado da garota que eu to gostando, eu só consegui sentir conforto no seu abraço.

— Não vou deixar que você morra Jordan. — Ele suspirou. — Eu sei que eu lhe tirei uma coisa que você achava que era bom pra você, mas vou lhe dar algo em troca.

Ele pegou meu rosto nas mãos e limpou minhas lágrimas com os polegares.

— Você é lindo Jordan e vai ficar saudável e forte pra enfrentar seus monstros ok? — Assenti. — Vamos começar com uma caminhada leve, vem comigo.

O acompanhei e ele me levou pra área da academia, ligou algumas luzes. Eu o acompanhei respirando fundo pra ainda tentar me acalmar. Ele ligou duas esteiras e eu subi em uma e ele na da minha frente. Era até engraçado era como se nós dois caminhássemos pra nos encontrar e o encontro nunca chegava. Brian saiu da esteira e ligou o som, voltou correndo e seguiu.

— Consegue aumentar um pouco a velocidade?

— Consigo. — Falei aumentando.

Eu comecei a suar. Ele buscou uma garrafa de água pra cada e bebi sem parar de caminhar. Eu conhecia as músicas e enquanto eu caminhava as cantava na cabeça pra passar o tempo, minhas pernas estavam doloridas, mas eu queria continuar ali.

— Acho que já está bom pro primeiro dia.

— Eu aguento mais. . .

— Eu sei, mas amanhã você tem que estar com as pernas boas pra ir pra escola.

— Eu sei. . .

— Vem, vou te levar pra ceiar comigo. — Disse ele olhando o relógio.

— Não precisa, acho que não vou conseguir comer tão cedo.

— Mas esse você vai gostar e vai comer comigo.

— Estou todo suado, não. . .

— Vamos comer no carro, vim de táxi pra poder ir com você.

— Está bem.

O acompanhei até meu carro depois de ajuda-lo a limpar a cozinha. Paramos em frente a uma casa normal ele desceu e voltou com uma sacola.

— Agora vamos arranjar um lugar legal pra gente comer.

Fomos até a Orla. Onde sentamos no pasto, olhando a luz reluzir na água do rio Charles Rive. Ele tirou uma embalagem quadrada de isopor e me entregou com um garfo e faca descartáveis e outra pra ele. Estava meio escuro pra ver direito o que eu estava comendo, mas deu pra sentir o gosto de uma salada temperada, peito de frango grelhado com um molho ralo, não reconheci, mas estava delicioso. Meu estômago que estava dolorido ficou mais calmo. Brian me estendeu uma garrafinha d'água e bebi metade dela. Eu não estava cheio, mas também não estava vazio.

— Desde que me mudei pra cá este é meu lugar preferido! — Comentou ele.

— Por quê?

— Me faz pensar, refletir sobre minhas escolhas e fora que tem um ponto mais a frente que da pra ver melhor as estrelas.

— Nunca vim aqui, mesmo tendo nascido aqui.

— Precisa sair mais J.— Disse ele sorrindo. — O mundo é enorme.

— É, tens razão. — Coloquei os braços pra trás me apoiando. — Pode me levar pra ver o tal ponto. . . das estrelas?

— Claro! — Disse ele se pondo rapidamente de pé e estendendo as mãos pra mim.

— Acho que consigo. . .

— Vamos, não seja bobo, me de suas mãos.

Estendi as mãos e ele conseguiu me puxar com facilidade. Fiquei corado e agradeci por estar escuro e ele não ver. Brian juntou nosso lixo e no caminho colocou em uma lixeira de reciclados. Caminhamos pra mais afastado dali e enfim ele chegou numa parte que não tinha nem luz.

— Bom, acho que daqui em diante vai ter que me dar a mão, conheço cada ponto, mas você pode cair.

Deixei que ele pegasse minha mão sentindo um calor de vergonha se espalhar. Ele me guiou não pra muito longe.

— Acho que aqui já está bom, pode sentar.

Soltei sua mão e sentei no pasto, o senti ao meu lado, mal o via.

— Se não se deitar não vai ver as estrelas.

— Ah.

Senti os ossos da minha coluna estalando entrando no lugar.

— Precisa se alongar mais! — Comentou ele.

— É, acho que preciso de muita coisa. — Levantei o olhar e lá estava um espetáculo quê.— Nunca parei pra olhar

Amor e subversãoOnde histórias criam vida. Descubra agora