Capítulo 15

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Não sei como uma tarde agradável com minha amiga se tornou uma tarde agradável com todos os filhos da família real de Mylathow, e lady Lorine.

Não sei como Makenna conseguiu convencer Henrik a vir para o riacho conosco. Henrik, o príncipe frio que prefere ficar afastado de tudo sempre que pode. Sei como ela convenceu Weymar e Keeran, é fácil chamar eles para fazer algo divertido. Mas Henrik? Que resolveu trazer Lorine junto? Argh.

Seria tão mais divertido sem esses dois. É o nosso último dia descontraído antes do castelo ficar inquieto com a chegada do Rei de Hemort.

Fico feliz que o plano de Makenna de aproximar os irmãos está em curso, mas é complicado. Para mim. E é horrível me sentir assim.

Não consigo entrar na água e me divertir com Henrik sem lembrar de como ele já me tratou mal. Não consigo olhar para Makenna e Keeran fazendo uma competição de quem nada mais rápido com Henrik sem revirar os olhos. Não consigo ver Makenna e Weynar ensinando Lorine a nadar sem revirar os olhos.

Ainda não consegui deixar nada para trás. Quem sabe um dia.

Graças aos céus tive a ideia de trazer meu caderno e meu kit de lápis junto comigo. Assim posso me distrair e não sentir que minha tarde foi estragada.

Comendo um sanduíche, continuo um desenho que tento terminar há muito tempo. A presença de Henrik me ajuda. Imaginar ele como um vilão de uma história me ajuda. É uma boa, e insuportável, inspiração.

— O que está desenhando?

Quase levo um tremendo susto quando Keeran se senta ao meu lado, respingando um pouco de água em mim. Estava tão concentrada no desenho, que não notei ele saindo da água.

Ergo o olhar para ele. É uma surpresa que ele tenha saído da água. Makenna entrou assim que chegamos e não saiu até agora, então Keeran estava lá, a acompanhando. Não sei como minha amiga ainda não notou a queda dele por ela.

Olho para o riacho. Weynar e Lorine estão do outro lado, sentadas em uma pedra e tendo conversa cheia de sorrisos e risos. Makenna está em uma briga inocente com Henrik, rindo, jogando água um no outro, tentando afundar um ao outro. Entendo agora porque Keeran saiu da água, foi deixado de lado. Não acredito que Makenna fez isso.

— É...como explicar? — franzo o cenho, tentando responder sua pergunta. Preciso ser gentil e não deixar que ele perceba que eu sei o motivo dele estar aqui, ao meu lado. — Uma cidade que as pessoas de Aradaik não sabem se existe ou não.

Ele fica confuso. Keeran é tão bonito. Confuso, sem camisa e molhado então...uau. Viemos ao riacho três vezes desde que eu e Makenna chegamos aqui e ele já não tem aquela palidez de quando nos conhecemos, ele está tomando mais sol e ficando bronzeado.

— Como assim?

— A chamam de Terrarick. — começo a contar para ele o que sei. — É um boato muito antigo de Aradaik. Dizem que todos os criminosos moram lá. Não tem como chegar lá a não ser de navio, e tem um código secreto para entrar na área. Se você não souber, seu navio é bombardeado.

Mostro para ele meu desenho. O oceano, os navios de guarda com uma bandeira preta — algo que eu imaginei —, o porto, os pequenos castelos que imagino os criminosos morando, um castelo maior para o líder de tudo aquilo, as torres de vigia e alguns prostíbulos. Estou tentando fazer algumas pessoas em outra folha, os criminosos na minha imaginação, mas está um pouco difícil. Hoje, nem tanto. Já consegui desenhar um homem de sorriso irônico e mortal, segurando uma pequena faca entre os dedos. Inspirado em Henrik.

— Isso é insano. — Keeran solta uma risada. — Como os criminosos iriam conseguir conviver todos juntos?

Isso é uma pergunta que sempre me faço. Pessoas ambiciosas morando juntas? Deve haver muitas brigas, e mortes.

A Veracidade das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora