Capítulo 27

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Abrir os olhos lentamente por causa da claridade, me remexendo ao sentir tamanho calor, porém, braços fortes envolviam meu corpo deixando quase impossível de me mexer e me afastar. Com a mente confusa, me perguntava onde estava, o que aconteceu e de quem eram aqueles braços que me abraçavam de um jeito caloroso e protetor.

Até que tudo veio à tona.

A procura pelo assassino, a Rainha aparecendo e nós a seguindo, as masmorras, a sala escura, palavras em um idioma antigo sendo proferidas pela Rainha, um corpo morto e... Keeran sugando seu sangue.

Meu corpo ficou tenso ao lembrar dessa parte, como uma pessoa tão gentil e carinhosa podia fazer tamanha atrocidade? Nunca chegaria a imaginar ou desconfiar que Keeran era o assassino, simplesmente era impossível. Mas a cena que eu tinha presenciado era bem real.

Como isso era possível?

Voltei as lembranças do passado, lembrando de todas as cenas que tinha presenciado nos corredores após os assassinatos e daquele grito bestial que ouvir quando o fiz correr do cômodo, onde ele tinha atacado Lorine, com uma explosão de luz. Um humano não gritaria daquele jeito. Então...

Não podia ser Keeran. Bem, o corpo era o dele mas talvez a mente não fosse. Ele podia está...

Interrompi meus pensamentos quando a pessoa que me segurava se mexeu e me fez voltar ao mundo real. E outras lembranças surgiram, fazendo-me pensar com ainda mais clareza.

Volte para a estalagem, Leon. Tem trabalho a fazer, eu fico com ela e se acontecer algo eu mando lhe chamar.

As palavras de Lorcan na noite anterior apareceram em minha mente. Ele tinha dito isso após os protestos de Leon, onde meu irmão dizia que não sairia dali até eu ficar bem e explicar o que tinha acontecido, mas eu continuei calada sem conseguir proferir nenhuma palavra, me agarrando as roupas de Lorcan e escondendo meu rosto em seu peito enquanto escutava as batidas de seu coração. Se deixasse de me concentrar nessa tarefa, seu coração, as imagens horripilantes da sala escura voltava à tona.

Ele não me soltou em nenhum momento, ao contrário, quando Leon finalmente foi embora o jovem Rei me ergueu em seus braços e me sentou abaixo de uma árvore. Ficamos ali por um bom tempo, em silêncio e contemplando o jardim escuro, seus braços me protegendo do frio e de qualquer outra coisa ruim. Esgotada, dormir em algum momento, sem sonhos algum graças aos Deuses. Ou graças a presença de Lorcan.

— Lorcan? — murmurei ao erguer o rosto para observá-lo.

Seu rosto com uma expressão suave enquanto dormia, seus cabelos bagunçados — de um jeito bem bonito, como ele conseguia ficar ainda mais bonito assim?

Meu coração errou uma batida ao pensar no que ele tinha feito por mim, ficando ao meu lado sem fazer nenhuma pergunta, me deixando ficar em seus braços ao invés de me levar para meu quarto ou a ala médica.

Ele provavelmente percebeu que eu não queria voltar para dentro do castelo. Isso só me fez gostar ainda mais dele.

— Lorcan?

O chamei de novo tocando em seu rosto, o que fez ele despertar finalmente. Assim que suas pálpebras abriram, ele observou tudo ao redor, talvez se certificando se estávamos seguros ou tentando se lembrar o que aconteceu, como eu tinha feito.

O sol acabará de nascer, o azul da manhã tomava o céu, fazendo a mistura de roxo e laranja do nascer do sol sumir. Ainda não havia nenhum criado indo fazer suas tarefas no jardim, mas isso iria acontecer logo. E nos veriam ali, deitados, perto demais um do outro.

Pensariam besteiras.

Ao terminar sua inspeção, seu olhar veio até mim e avaliou cada parte do meu corpo até parar em meu rosto, seus olhos verdes acinzentados me observando intensamente. Abrir um sorriso no canto dos lábios para ele perceber que eu estava bem agora, graças a ele.

A Veracidade das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora