Capítulo 20

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— Eu acho que estou ficando maluca.

Fale pela primeira vez em voz alta o que estive pensando pelas últimas horas.

Certo que falar isso com o Duque Alik talvez fosse um erro, ainda mais quando ele não gostava de ser incomodado e nem que eu parasse a leitura — com a qual não estava conseguindo me concentrar e estava relendo o primeiro parágrafo umas mil vezes —, porém, ele era um homem inteligente e gostava de ensinar. Ele talvez pudesse me ajudar com isso.

— Como assim?

Não podia negar que fiquei surpresa por ele ter me respondido — com educação! —, ao invés de me ignorar. Eu queria falar com alguém sobre isso ao mesmo tempo que não queria, ainda mais com o Lorde Alik, mas ficar remoendo isso só me deixaria ainda mais louca. Preciso colocar para fora.

— Acho que estou vendo coisas. — declarei, meio insegura. — Acho que minha mente está brincando comigo.

Penso que talvez ele não estivesse tão assim interessado já que não estava olhando para mim e sim para seus documentos. Ele nunca me olhava por mais de um minuto, sempre evitava isso o máximo que conseguia. Como falar com uma pessoa assim? Que não te olha nos olhos? Qual o problema dele?

— Você acha ou tem certeza? — ele perguntou, sério.

— Certeza, é a segunda vez que acontece.

— Conte mais. — o duque pediu, erguendo o olhar por alguns segundos para me observar, esperava que ele não ficasse bravo por eu estar com o livro fechado. — Talvez eu possa te ajudar e nem seja assim tão grave.

Mordi o canto dos lábios enquanto pensava de por onde começar e como explicar o que tinha que explicar sem parecer uma doida. Bem, mas eu não era uma doida. Minha mente que estava me pregando peças. Tudo culpa desse reino e seu povo com poderes mentais. Tá subindo para minha cabeça.

— Há algumas semanas tive um sonho, era mais uma lembrança ruim, não lembro muito bem o que acontecia. Lembro da sensação de ter insetos andando por meus braços e, quando acordei, havia várias baratas na minha cama. Mas não eram baratas quando as vi pela primeira vez. Era algo mais grotesco. Eu esqueci isso achando que era só um efeito do pesadelo, mas hoje uma senhora de meia idade me abordou e falou umas coisas estranhas. Seus olhos ficaram pretos e, enquanto ela me tocava, sentia a mesma sensação de insetos andando por meus braços, até cheguei a cair no chão, mas quando meu irmão apareceu e chamou meu nome a senhora estava normal e me estendendo a mão. Como se nada tivesse acontecido.

Terminei de falar, erguendo o olhar para ver que o Duque estava me olhando com curiosidade, tinha até deixado seus documentos de lado. Ele estava pensando que eu era louca? Ou muito fantasiosa? Ele nunca demonstrava suas emoções e sentimentos nas expressões faciais, era bem difícil compreendê-lo.

— Essa mulher devia estar brincando com você com o poder dela. — ele esclareceu por fim, me fazendo arregalar os olhos por alguém concordar comigo e não me achar louca. — Pegou uma lembrança do pesadelo e usou contra você. Então não, não está louca.

Eu devia estar muito paranóica mesmo, as recentes emoções turbulentas deviam ter me deixado assim. Eu precisava era relaxar, e, agora começando uma boa relação com meu irmão, eu podia fazer isso.

— É, você tem razão. Deve ser isso mesmo. — comentei, dando de ombros, dando assunto por encerrado e me sentindo muito mais aliviada.

— Venha cá, tenho algo para você.

Me levantei animada e fui até sua mesa onde o duque já me estendia um colar prateado com um belo pingente. O peguei e examinei melhor, radiante com o pingente em forma de árvore e seus galhos feito com pedra ametista. Era lindo.

A Veracidade das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora