Capítulo 17

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— O que você está fazendo aqui?

Me assustei com a frieza no tom de voz de meu irmão, mesmo que ele tenha tentado disfarçar, eu acabei percebendo. Eu o conhecia mesmo que não fôssemos próximos, ainda éramos irmãos e ele tinha as mesmas manias e costumes de meu pai. O porquê daquele tom eu não fazia ideia.

— Bem, deixe-me lembrá-lo que ainda sou dama de companhia da princesa de Aradaik. — falei em um tom firme, o olhando com um olhar duro, assim ele iria perceber que não gostei de seu tom. E me sentir um pouco magoada. — Onde ela for, eu irei. E como ela está aqui, eu também estou.

— Achei que você tinha largado esse trabalho depois... — Leon parou de falar antes de terminar, e ele nem precisava, eu sabia o que ele iria dizer.

Antes de ir embora de Aradaik, depois da morte de nossos pais, ele me disse que eu devia largar o emprego de dama de companhia e viver minha própria vida. Recusei totalmente sua opinião e continuei ao lado de minha amiga, eu estava feliz no castelo. Ele escolheu seu destino, eu escolhi o meu. E agora eu estava vivendo um novo onde ainda não sabia o que iria dá.

— Não larguei, se mandasse mais cartas e dissesse onde estava, você saberia. — eu disse em um tom irônico, abrindo um sorriso ainda mais irônico. — Mas vejo que também arrumou um emprego.

Sem querer ser intrometida — anunciou Lady Lorine, A Intrometida em pessoa. — Mas ainda estamos aqui, ouvindo tudo. Não é hora de intrigas.

Olhei ao redor, percebendo que todos estavam nos olhando, alguns com curiosidade e outros com aborrecimento. A única com um sorriso nos lábios era Makenna, feliz por eu ter reencontrado meu irmão, estava até sussurrando com Weynar que se encontrava no momento ao seu lado. Não me importava nem um pouco com os olhares, porém, a minha atitude não era certa para uma dama de companhia. Mas a acabei sendo pega de surpresa. Respirei fundo uma vez, me preparando para me desculpar quando outro alguém falou, um outro alguém com um tipo de voz que fazia as mulheres ficarem com a respiração entrecortada, e a minha quase ficou.

— Não me informou que tinha uma mulher aguardando seu retorno, Leon. Sua noiva? — o rei perguntou.

Fiquei incrédula com a suposição, já que quem nos olhasse iria perceber que somos parentes só pela cor da pele e dos olhos. Agora noiva já era algo demais. Me virei com as sobrancelhas arqueadas para o monarca de Hemort e percebi sua intenção, ele queria ser apresentado. A mim. Eu deveria me sentir honrada? Porque eu estava, e de todas as formas.

— Não, meu Rei. — informou Leon. — Essa é minha irmã, Allyria Wrenel.

— É um prazer, senhorita Wrenel. — disse o Rei, pegando minha mão esquerda, o que causou uma súbita surpresa em mim e um arrepio por todo o meu corpo. Mas o beijo no dorso que veio em seguida me deixou paralisada. — Leon não me disse que tinha uma irmã tão bela.

Assim que ele soltou minha mão, eu a trouxe para perto do corpo a segurando com a outra, para conter o formigamento que estava presente na mesma. Minha mão tinha sido beijada, por um Rei! Eu tinha motivos para esta impactada.

Respirei fundo para tentar voltar ao modo "dama de companhia" de sempre e disfarçar o quanto ele tinha me abalado. Certo, Allyria, não era nada mais. Ele é só o Rei, você não precisa ficar tão abalada.

— Só Allyria, Majestade. Não sou uma nobre. — informei, abrindo um pequeno sorriso e fazendo uma referência, afinal, ele ainda era um Rei. — E obrigada pelo elogio, fico muito honrada.

— Não é porque não é uma nobre que não merece respeito, que não é uma senhorita.

Pisquei os olhos de surpresa com tamanha gentileza no tom de sua voz, por suas palavras. Depois de tantas semanas com essa família, ouvindo arrogâncias de Henrik, era estranho ouvir um nobre sendo tão gentil. Ainda mais comigo, mesmo que Keeran sempre tenha sido. Mas Lorcan era um Rei. E meus pensamentos no momento estavam bem bagunçados.

A Veracidade das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora