Prólogo

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O negrume no céu prenunciava uma intensa tempestade, nem por isso o indivíduo encapuzado deixou de andar pelas árvores. Andava com calma, sem nenhuma pressa, e sem tentar se esconder. Ninguém naquele bosque iria vê-lo mesmo. Há anos ninguém se arriscava naquele local, e por uma boa razão. A escuridão tomava conta de tudo, nem mesmo o sol conseguia detê-la. Nada podia.

O breu se tornava mais abundante a cada passo que o encapuzado dava, entretanto ele sabia o caminho que tinha que seguir mesmo sem enxergar nada, e não havia nenhum medo dentro de si. Ele era parte daquela escuridão há muitos anos. Ele podia senti-la com uma pontada dentro de si, batendo no ritmo de seu coração. Logo outros também iriam sentir.

Você demorou, o chamei a muito tempo.

Sua caminhada chegou ao fim após ouvir a voz. Uma voz inominada. Não conseguia distinguir se era feminina ou masculina, assim como o ser nunca apareceu à sua frente, desde que a ouviu pela primeira vez em seus sonhos. Ela era a escuridão. Um ser desconhecido por todos.

Na primeira vez em que a ouviu, sentiu um certo medo, mas, depois que sentiu o poder correndo em suas veias, soube que não precisava ter medo. Era um deleite. Eles eram o futuro.

— Perdão minha divindade — fez uma reverência em sinal de respeito, olhando para além das árvores já que não tinha uma figura exata para olhar. — Seu servo é um mero mortal, não consegui me esquivar até aqui com tanta rapidez. Tenho que manter as aparências.

Da próxima vez, tente ser ainda mais rápido.

Sibilou a voz em sua mente, fazendo uma rajada de vento frio atingi-lo no rosto, uma demonstração de sua raiva.

Estou aqui à tempos, preciso sair logo desse lugar, está a ficar entediante. É assim que se fala?

— Sim, entediante. Sentido de ficar parada sem fazer nada. Eu lhe entendo, logo logo estará se expandido ainda mais. Com mais rapidez. Ser a coisa mais poderosa do mundo.

Se você fizer tudo certo, estarei mesmo. Como está o andamento da minha liberdade?

— Progredindo muito bem. Está á caminho. — o encapuzado respondeu, deixando que um pequeno sorriso de satisfação crescesse em seus lábios. — Não haverá falhas dessa vez.

Ótimo. Pode sentir a alegria na voz do ser dentro de sua mente. Eu lhe dei uma segunda chance, não me decepcione de novo. Sabe o que acontecerá se falhar. E se for bem sucedido.

Assentiu, se lembrando do começo daquilo tudo, quando o ser disse que poderia ser o mortal mais forte deste mundo. Que nada poderia detê-lo. Algo que sempre buscava, e estava prestes a conseguir.

— Tudo dará certo — afirmou com convicção, não falharia uma segunda vez. — Eles estão quase prontos, e não tem idéia do que lhes espera.

Está errado, um mortal sabe. Ele esteve aqui por perto, por isso lhe chamei aqui.

Os olhos do encapuzado se arregalaram de surpresa, como alguém poderia saber do que estava por vir e tinha ido parar ali?

Ele não sabe de tudo, pelo o que percebi, mas uma parte que pode acabar com minha sobrevivência aqui aos poucos. Saia de sua zona de conforto, descubra-o e o elimine. Nada pode me atrapalhar.

— Eu irei descobrir quem é antes que ele consiga dar um passo à frente. Não deixarei que ele consiga levar-lá embora daqui.

Bom. Volte agora para sua atuação naquele lugarzinho. Não esqueça meu alimento, estou faminta. Preciso me alimentar para me expandir. E tome cuidado com minha preciosidade. Ajude-a a se descobrir logo.

— Seu alimento chegará em breve, o processo já está em andamento. Quanto a ajudar sua preciosidade, não irá demorar muito. Até logo, minha sublimidade.

Uma reverência de despedida foi feita antes do encapuzado se virar e caminhar pelo trajeto que tinha feito para chegar até ali, de volta a sua vida de fingimento para conseguir o que tanto ele e o ser queria. O poder supremo, que criaria um mundo novo. Que destruiria as Barreiras.

A escuridão iria se estender cada vez mais, até tomar conta de tudo e não restar mais luz do sol. O mundo no breu, sem vida e em sofrimento assim como elas tinham ficado por tanto tempo.

A Veracidade das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora