Capítulo 29

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O quarto ficou transparente e começou a desaparecer aos poucos, nos deixando em um tipo de vazio, e ao nosso redor tudo ficou branco. Como se estivéssemos no meio de uma gigantesca neblina. Leon e eu ainda agachados perto um do outro. Eu com certeza iria pensar que estava alucinando se meu irmão não tivesse xingado e se levantado, segurando minha mão com certa firmeza, e me erguendo junto.

— Não solte minha mão, não importa o que veja ou ouça, entendeu?

Assenti em concordância a suas palavras, confusa e ao mesmo tempo curiosa. O observei por um instante, chocada por ele não está indo a loucura como eu, até perceber que aquilo já tinha acontecido antes e ele não estava com medo. Se ele não estava, por que eu iria ficar? Acho que sua confiança e sua presença estava me ajudando a não ficar assustada com algo tão maluco.

Voltei meu olhar para a frente ao ouvir uma risada, cheia de diversão, e arregalei os olhos quando um local se formou ao nosso redor. Estávamos agora em um campo, árvores altas e floridas mostrando que era primavera e o céu limpo anunciando que logo o Sol iria nascer.

Você está noivo, não pode me pedir em casamento.

Uma voz de mulher proferiu fazendo com que meu olhar a procurasse pelo campo e a achasse abaixo de uma laranjeira, os braços de um homem de pele escura e cabelos castanhos envolvendo seu corpo pequeno. Arregalei os olhos ao reconhecer ambos. Uma era minha mãe, Jazmin, em uma idade mais jovem, seu cabelo loiro escuro caindo em ondas sobre seus ombros e um lindo e feliz sorriso estampado em seus lábios. Eu não estava assustada ao vê-la em uma época tão jovem, estava assustada ao ver quem era o homem que a protegia em seus braços. Eu imaginaria mil possibilidades, sabendo que ela tinha namorado alguns homens antes de casar com meu pai, mas nunca chegaria a imaginar que ela fora tão próxima daquele homem. Do pai de Makenna, do Rei Terlock.

Eu o reconheceria em qualquer lugar, mesmo em suas feições mais jovem.

Apertei a mão de Leon ao observá-los tão felizes e apaixonados, o Rei de Aradaik depositando beijos sobre o pescoço e rosto de minha mãe.

Estou noivo, mas apaixonado por você. Meu coração é seu e não dela, você sabe. Sempre.

Eu te amo, Terlock, mas saber que não poderemos viver juntos machuca o meu coração.

Eu sei, meu amor, o meu também. Mas podemos dá um jeito, o amor tem dessas coisas.

Promete que sempre daremos um jeito para ficarmos juntos?

Eu prometo, meu amor.

Jazmin levantou seu rosto para olhar para Terlock, o sorriso ainda em seus lábios enquanto compartilhava juras de amor com o rapaz ao nascer do Sol.

A cena mudou. Dessa vez Jazmin estava em um campo florido, fora levada até ali por um rapaz que sempre a cortejava quando se encontravam, mas ela nunca lhe dera falsas esperanças já que seu coração já tinha dono. Era um amor impossível, mas ainda sim amor.

Todos os detalhes apareciam em minha mente enquanto a cena surgia, onde eu conseguia identificar o rapaz que estava ajoelhado à frente de minha mãe. Meu pai. Com seus cachos castanhos claros, a pele amarronzada e os olhos escuros. Encantador como eu me lembrava.

Case-se comigo, Jazmin. Eu posso te fazer feliz, posso cuidar de você e te proteger. Não se arrependerá se dizer sim, pode tentar esquecer esse idiota que não te dá valor, eu espero.

A mulher fechou os olhos soltando um suspiro. Seu romance com Terlock sempre fora algo escondido por conta de seu título de príncipe e por ela ser uma mera curandeira, os pais do rapaz não aceitaria tão romance, mas ela tinha esperanças de um dia se casar com ele. A esperança se acabou quando ele foi obrigado a casar com Lady Lyenna Raskted, o romance tendo que ser ainda mais secreto depois disso. Ela o amava, não conseguia viver longe dele, e por isso aproveitava cada momento ao seu lado. Não se importando de viver escondida. Claro que essa época chegaria, a época em que ela também em algum momento seria pedida em casamento, sua mãe ansiava por isso.

A Veracidade das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora