talking cat

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Talvez você desconheça alguém mais idiota do que eu.

Estou enfeitiçado, os pelos de minha nuca subiram lentamente fazendo uma fricção boa e até relaxante, mas era descomunal, talvez a névoa não ajudasse minha visão, já que estava tudo em plena fumaça branca e fina.

— Jimin...— alguém continuava a me chamar, e se eu pudesse encarar meus olhos naquele instante, os veria em um puro branco reluzente, parecia que minha alma havia saído do meu corpo e simplesmente evaporou, e quem quer que seja tinha a minha outra parte de me corpo.

— Não tenha medo....Temas a quem quis ser superior a Deus, não a mim...— sua voz era grossa, ecoava por todos os lados me fazendo perdido, uma luta emocional crescia dentro do meu peito, ao mesmo tempo em que eu queria voltar correndo para casa, era na mesma intensidade de ir além.

— A onde está indo.?— meus olhos voltaram ao normal, agora girando meu corpo em 360°— aqui em baixo.— mirei o chão, encontrando pingo, andando elegantemente com seu rosto virado para mim, seus olhos caídos o deixavam sérios.

— Ótimo, agora estou ouvindo o gato falar.

— Eu sempre soube falar, só você que não ouvia.— Me assustei, porque era verdade, eu estava ouvindo ele falar, e por Deus! O que estava acontecendo?!

— I-isso é impossível.— mesmo assim não foi o suficiente para que meus pés parassem de se locomover, prestando atenção a pingo, meu gato agora falante, a densidade da névoa deixava quase estreito o olhar claramente, mas eu sabia que era ele.

Não é não— negou com a cabeça, sua voz parecia ser de um homem de quarenta anos, velho demais e sábio demais.— aqui nada é impossível, meramente distorcido.

— Mas, como você...?

— Sentido Coraline.— disse fino, franzi o cenho, em total transe e confusão— Você é esperto porém estúpido— o gato com que cuidei com tanto amor e devoção, cuspia as afrontas em minha face— isso só faz você um alvo mais fácil.

— Me diga o que está acontecendo Pingo.— disse sério, a ideia de que tinha o retorno de fala vindo de um bichano era metaforicamente monstruosa.

— A curiosidade matou o gato uma vez— virou sua pequena cabeça para frente— mas não serei eu que irei morrer por conta dela.

— Você não fala coisa com coisa. — neguei.

— De fato, meu dono. Você não vive no mundo que vive, e pouco quer continuar vivendo assim, por isso vai atrás do que não deveria, nada o impede, e cairá  na teia dele de modo ágil— era filosófico, inebriante. Afinal o que eu estava fazendo ali?

— ah, cuidado por onde pisa.

E antes que eu pudesse dizer alguma coisa, em dois passos cai em um incrível buraco de estrutura não muito grande, gritei enquanto meu corpo estava caindo, e olhando para cima vendo o resto da luz que habitava ali vi pingo olhando minha caída, tentei me segurar nas paredes mas eram tão deslizantes que não ajudou em nada, apenas esperei minha morte sentindo o frio na barriga alto e rude.

O que parecia um infinito buraco, chegou ao fim, e me preparei para o impacto, pude ver a passagem  de terra e fechei meus olhos caindo em seguida de costas para o chão, grunindo de dor mútua, minhas costelas doem como se tivessem sido esmagadas, tentei me recompor ficando de bruços olhando ao meu redor.

Havia voltado. O chão  não era mais de terra e sim de grama verde e viva, a floresta ao meu lado não estava escura e medonha, estava clara e o sol batia nas árvores as deixando maravilhosas, e a casa... De azul descascada virou límpida, a cor mais impactante e até sinistra, mas tão bela, meus olhos se encheram de devoção, era maravilhoso, por mais que eu não sabia que caralhos havia acontecido aqui, e o que antes era um buraco por cima de minha cabeça se transformou em um céu azul claro, mas sem nuvens.

— Bem vindo.— me assustei com a voz do meu lado, dando em conta que era longo novamente, e perguntei por onde ele havia passado já que não vi cair do buraco impiedoso

— Você. Como  viemos parar aqui?

— Você caiu do buraco e..— eu  o cortei

— Eu sei como viemos parar aqui, eu queria saber como, e porque tudo está— apontei para o lugar— assim.

— Já há um tempo, em que achei este lugar— começou a andar e o acompanhei, estávamos indo em direção direta para a casa silenciosa— vagando pela floresta, mas aquela é a saída, a entrada definitivamente está lá dentro— mirou a casa, e eu a vi  como um cubo a ser montado.— E você a encontrou.

— Eu não..— iria negar mas parei e pensei, certamente havia lugares demais em um só lugar, e minha mente parou em um específico— a portinha da sala— pingo confirmou— está trancada.

— Está mantida— corrigiu minha fala, seria o jeito mais fácil de vir para cá, mas a chave está com o homem alto.

— Jin?— a chave que eu admirei com tanto fervor, era a entrada.

— Não sei de muita coisa sobre este lugar, só sei que querendo ou não, sempre vai de encontro a ele.

— É nesse momento em que eu rezaria.— falei razoável, quase em um riso nasal, Deus não me salvaria, isso não fazia parte dele, eu mesmo me coloquei nisso, era improvável que sairia dessa, tão pouco gostaria, pois nunca teve emoção maior em minha vida do que está.

A áurea do desconhecido penetrou em meu peito, expandindo por todo o meu maldito corpo pecador, capaz de não conter os incríveis calafrios. 

— Bom, você tem dois lados, dois pontos, você pode temer ou amar, e em seus olhos não vejo resíduo algum sequer de medo.— Sua fala ficou distante, meus olhos prestavam atenção apenas a casa na minha frente

— Você pode ter razão— mas quando virei para olhar pingo, ja não estava mais lá, e o consumo de estar sozinho novamente me desabilitou.

No final, não foi preciso de ratos para me levarem ao meu destino, mas sim o maior rival deles.

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