Parte IV

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Reki

Os últimos dias foram longos e difíceis, um borrão em minha memória. No entanto, comecei a visitar Langa quase todos os dias sob o pretexto de estudar para o final do semestre.

– Se não andarmos logo com isso, vamos reprovar nos exames – eu dizia.

Verdade seja dita, eram só desculpas para eu passar mais tempo com ele. Langa parecia ser feito de um material muito mais resistente que eu e sabia que chorar não resolveria as coisas. Mas estar com ele me fazia parecer forte também, e quando estávamos longe um do outro, eu odiava cada segundo do meu tempo e me sentia cansado até ossos.

Para ser sincero, eu raramente me incomodava com alguma coisa, não por falta de problemas (acredite, eu tinha muitos), mas meus pensamentos se distraiam com facilidade e geralmente estavam em outro lugar.

Entre reler nossas mensagens e tentar não vomitar, passei o sábado todo na cama, não porque estava doente e minha barriga doesse, mas porque Langa saiu com a mãe e eu não tinha aonde ir. Na verdade, eu tinha. Foi por isso que me senti estranho ao notar minha total falta de ânimo em saber que não o encontraria na pista esperando por mim, e só isso bastava para me fazer não querer sair da cama.

No domingo à noite, fui até sua casa como de costume. Langa teve a infeliz ideia de sugerir que jogássemos Genshin Impact por vinte minutinhos antes dos estudos. É claro que eu concordei, e o resultado disso: vinte minutos se transformaram em quatro horas.

Agora já se passava das dez da noite e resolvemos pedir um lanche do MC, mas não resolvemos o que assistir enquanto isso.

– Vai por mim, tenho certeza que você vai gostar – eu tentei convencê-lo, mergulhando minha batata frita numa piscina de katshup e sujando a pontinha dos dedos no processo.

– Mm, não sei – resmungou Langa, sentado ao meu lado no sofá de dois lugares. O sofá tinha espaço o suficiente para acomodar dois, mas eu me encolhia à simples ideia de encostar nossos joelhos – a gente não pode assistir à um filme de terror?

– Não! Você precisa assistir Horimiya e torcer pelos personagens junto comigo – levantei dois dedos – dois episódios, é só o que peço. Se depois de dois episódios você não gostar, a gente assiste à algum dos Jogos Mortais.

– Tá, me convenceu – ele se deu por vencido e eu abri um sorriso de aprovação. Mas, naquele momento, ele pareceu cansado e abatido sob os curativos no rosto.

Ele tem se esforçado tanto pra se sair bem.

Aposto isso está sugando toda a sua energia.

Provavelmente ele está tão focado no skate que mal lembra de si mesmo.

Vou convencê-lo a ir num lugar que ele vai gostar de conhecer.

_

Depois que devoramos a batata frita e o gelo em nossos copos derreteu, o tema final do último episódio de Horimiya tocou. Meus olhos foram dos créditos para Langa, que parecia imóvel, envolvendo uma almofada contra o peito.

– Então...? – perguntei, pousando o copo na mesinha de centro e desligando a TV.

Ele não deu um pio durante o anime todo.

Nadinha... Só comendo as batatas.

Talvez ele tenha odiado.

Ele parece indiferente, mas quase sempre parece assim.

– Ei, Langa? Você está pálido...

– Reki... – ele abriu a boca para continuar, mas as palavras lhe faltaram e não conseguiu forçá-las a sair, porque naquele momento, senti que ele ia explodir – é incrível!!

𝐒𝐊8 𝐓𝐇𝐄 𝐂𝐇𝐎𝐈𝐂𝐄𝐒 | 𝙇𝙖𝙣𝙜𝙖 × 𝙍𝙚𝙠𝙞 Onde histórias criam vida. Descubra agora