Langa
Aqui não é tão frio. Acho melhor eu tirar logo isso.
Abri o zíper, libertei os braços e descartei a blusa no banco de trás.
Minha mãe e eu dirigimos em silêncio por um bom tempo, somente o som do motor distraindo nossos ouvidos. Seguimos pela estrada até dobrarmos à direita numa via ladeada por árvores.
– Você parece inquieto – minha mãe, Nanako Hasegawa, comentou – algum problema?
– Não há nenhum traço de neve aqui – apoiei-me na porta do passageiro e observei a paisagem em movimentação, um rio extenso fluia pela margem da montanha crescente.
– Com o tempo você vai se acostumar.
Mesmo que eu me acostumasse, aqui eu nunca poderia sentir as rajadas cortantes de vento, trazendo consigo aquele delicioso arrepio gelado.
Não é tão ruim...
Mas de qualquer forma, vou sentir saudades do Canadá e do que ele me deixou para trás.
Apertei no bolso da calça a última foto que havia tirado com meu pai antes dele falecer.
Reki
Finalmente era o último ano daquela
droga de escolaSó eu parecia estar animado com isso?
Pelo visto, sim.
Na TV da sala estava passando um dorama idiota que minha irmã, Tsukihi, assistia. Ela ficou deitada ali por umas seis horas vendo casais gays se pegando. Os olhos congelados como se tivessem parado de funcionar.
Bizarro...
– Mãe, minha barriga tá falando de novo – resmungou Nanaka, minha outra irmã, estirada no tapete e indiferente aos gritos que Tsukihi dava quando via garotos se beijando.
O leve aroma de macarrão com molho de feijão preto vinha da cozinha e se espalhava pela casa. Claro, era domingo, e minha mãe tinha a mania infeliz de sempre fazer o mesmo prato em determinado dia da semana.
– Mas quanta pressa – sorriu minha mãe, balançando uma concha no ar. Ela tinha um rosto rosado e rechonchudo, um cheirinho de Nirá (alho japonês) que eu adorava. No entanto, seu olhar podia ser severo e impiedoso quando irritada. Ela estava diante do fogão, transferindo com um movimento ágil uma montanha de rabanetes para dentro da panela com molho preto – tá quase pronto. Diga pra sua barriga esperar mais um pouquinho.
– Ah, pelo amor de Deus – Nanaka voltou a resmungar, se esticando como uma estrela-do-mar decepcionada.
– E Reki, sem essa droga de skate dentro de casa!! – ela gritou com um poder dramático que me fez escorregar da prancha e estatelar a bunda no chão.
Era desse ar impiedoso que eu estava falando.
Nanaka soltou uma risada zombeteira, por um segundo, se esquecendo da fome.
– Foi mal, mãe – suspirei e peguei meu skate, tomando o caminho do quarto.
Eu acreditava de verdade que as coisas iam melhorar quando a maldita escola acabasse e eu me tornasse um dos maiores skatistas do país. Essa era uma das razões pelas quais eu acordava todos os dias.
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𝐒𝐊8 𝐓𝐇𝐄 𝐂𝐇𝐎𝐈𝐂𝐄𝐒 | 𝙇𝙖𝙣𝙜𝙖 × 𝙍𝙚𝙠𝙞
FanfictionA repetição é a forma ideal para alcançar a excelência - essa, sem dúvida, é a frase que Langa mais ouviu seu pai dizer, e assim o fez. Após deixar sua vida no Canadá para trás, ele volta para Okinawa, onde sua mãe cresceu. Eventualmente ele acaba c...