Reki
– Primeiro minha irmã disse que ela queria ter uma conversa em família – contei para Langa, esticado em sua cama.
Estávamos sozinhos na casa dele, em seu quarto, mas isso porque sua mãe avisou que tinha um encontro marcado com Akari.
Já era quase meia noite e a janela estava aberta, dando lugar à uma brisa gelada que sobrou da chuva de minutos antes. Eu estava com frio. Langa parecia gostar de me ver com frio porque sentia que era sua obrigação me aquecer. Tirava a própria blusa e me cobria. Ele era esse tipo de pessoa.
Nas últimas semanas, passei mais noites na casa dele que em minha própria casa; estudando, jogando Genshin Impact, passando o fim de tarde, à luz morna, sentados no mesmo skate, falando sobre tudo o que vinha à cabeça, dando gargalhadas de doer a barriga. Mesmo assim, não consegui encontrar com Akari e agradecer por suas mãos abençoadas prepararem bolos tão macios.
– E aí, enquanto comíamos – continuei – minha mãe contou que verificou os dados de nossa conta e começaram a surgir dívidas de quinze anos atrás, dívidas com juros altíssimos de vários meses acumulados que constam como ativas. Nós não temos todo esse dinheiro – esperei um minuto, então disse – parece que vamos ter que vender a casa.
– Heeh? Mas o que são essas dívidas?
– Meu pai, antes de morrer, estava investindo em alguma coisa grande.
– E o que isso significa? – Langa se ajeitou na cama, coçando os olhos.
– Bem... o emprego de minha mãe no café é temporário, só até a funcionária se recuperar do acidente. Meu emprego na Dope Sketch não dá pra cobrir todos os gastos. Ainda mais agora que Tsukihi está tentando entrar em uma escola de elite, são muitas apostilas e guias de estudos – respirei com força, profundamente, mas continuei, com a voz baixa: – se não conseguirmos esse dinheiro em poucos meses, acho que vamos ter que nos mudar pra um bairro mais barato.
– Mas e se vocês não encontrarem uma casa em um bairro mais barato?
Baixei os olhos.
– Vamos ter que ir morar com a vovó.
Langa
Não muito depois, eu o convenci a dormir comigo. Eu sugeri a parede de travesseiros, mas ele disse que não precisava daquilo.
A noite esfriou e o céu pré-trovoada escondia a lua em sua cor. Dei a ele um moletom para vestir, que engoliu seu corpo magro.
Percebendo que eu estava mais calado que de costume, Reki teve uma ideia. Ficamos assistindo à vídeos de manobras no celular dele enquanto o meu carregava. Um garoto descia da rampa e deslizava pela pista com alguns empurrões. No fim, com a velocidade essencial, posicionou um pé atrás e fez um ollie.
– Como ele fez isso? – perguntei, surpreso.
– Eu sei, é incrível, não é?! – seus olhos brilharam entusiasmados.
– Quanto tempo você demorou pra conseguir dar um ollie?
– Eu?! – ele coçou o canto da bochecha, seu rosto pensativo, então levantou dois dedos – dois meses.
Ele parecia confiante ao dizer aquilo.
– Só isso?!
– Ei, você é meu aluno – Reki envolveu um braço em volta do meu ombro, pressionando sua testa contra minha bochecha – por isso vai conseguir aprender bem cedo. Logo você vai ser capaz de fazer isso.
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𝐒𝐊8 𝐓𝐇𝐄 𝐂𝐇𝐎𝐈𝐂𝐄𝐒 | 𝙇𝙖𝙣𝙜𝙖 × 𝙍𝙚𝙠𝙞
FanfictionA repetição é a forma ideal para alcançar a excelência - essa, sem dúvida, é a frase que Langa mais ouviu seu pai dizer, e assim o fez. Após deixar sua vida no Canadá para trás, ele volta para Okinawa, onde sua mãe cresceu. Eventualmente ele acaba c...