(Dá um play no vídeo, e curte a viagem...)
A comitiva esperança estava de volta à cidade depois de muitos dias de viagem, levando o gado até outro estado.
Para comemorar o sucesso da viagem, e os bons negócios fechados, a bodega do seu Zezé era parada obrigatória.
Os oito integrantes da comitiva amarraram suas imponentes cavalgaduras na armação da frente da bodega, e entraram pomposos, com seus gibões surrados, as esporas reluzentes, laço, berrante, e todos os aparatos de peão boiadeiro.
Os oito se assentaram nas banquetas do balcão, e o comissário deles pediu que trouxesse a melhor bebida pra todos. A primeira dose, claro, foi servida a ele, que bebeu tudo num gole rápido, e bateu o copo no balcão.
Os demais levantaram um brinde e continuaram bebendo, enquanto a esposa de seu Zezé preparava uma porção de carne acebolada para acompanhar as biritas.
Eles formavam um bando interesante. O mais velho, seu Chico, aparentava ter cerca de sessenta anos, rosto sofrido e curtido pelo sol, era com certeza o mais sábio deles, e todos o tratavam com uma reverência respeitosa. Ele era o cozinheiro da comitiva, e um experiente "queimador de alho".
Gilberto, ou "Gil" como era conhecido, levava o berrante. Ele era o ponteiro que ia na frente da tropa, mostrando o caminho, e tocando o berrante de acordo com a marcha.
Outros três, na faixa dos quarenta anos, contavam o sucesso da missão, e planejavam o encontro com suas famílias logo mais... Eram eles: seu Nonato, seu Joda e seu Lino. Eles eram os peões da culatra, que vinham na retaguarda do rebanho.
Os rebatedores, Bina e Zinho, eram ainda muito jovens, deveriam estar na faixa dos vinte anos, e apesar da imponência dos trajes, bem dava pra perceber que ainda não tinham toda a sabedoria dos outros peões, mas eram ágeis e destemidos... Eram responsáveis por não deixar o gado dispersar e eram os que mais estavam arrancando suspiro das mocinhas apaixonadas.
Mas o mais intrigante de todos eles era justamente o comissário da comitiva.
Um rosto moreno, olhos negros e extremamente penetrantes, e um maxilar decidido, embora um tanto delicado.
O chapéu enterrado na cabeça, escondia-lhe as feições, mas quando tirou o chapéu, em respeito ao alimento que era servido, revelou o enorme cabelo, preto e liso, preso num rabo de cavalo, dando-lhe um ar indianista.
Apesar de não ser muito alto, cerca de 1,70 de altura, e corpo franzino, o sujeito era muito sério, do tipo que era melhor tomar cuidado ao esbarrar com ele, mas algo naquelas feições, intrigava a quem o olhava: seu rosto, desprovido de barba, sua boca delicada... fazia-o parecer um garoto de não mais de 15 anos.
Jean, o jovem médico recém formado, que estava de passagem pela cidade, teve sua atenção presa pelo interessante grupo, enquanto terminava tranquilamente sua refeição.
Um bando de rapazes ruidosos estavam numa mesa, à um canto, e um deles resolveu provocar. O rapaz em questão era o filho do prefeito da cidade, seu nome era Joaz.
- Ora, ora... Senhora Mariano e suas donzelas indefesas!! Fiquei sabendo que tua comitiva ainda não se inscreveu pra vaquejada desse ano!
Zinho colocou a mão na cintura, pronto pra puxar o punhal, mas Mariano o conteve, encarando-o, e deixando claro que ninguém deveria reagir à provocação.
Depois de encarar o sujeito à sua frente, com um olhar glacial, o comissário respondeu ríspido:
- Tu sabe que nossa comitiva trabalha de verdade, não fica só fantasiado, por aí, se exibindo pela cidade.
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Era uma vez... no sertão
Romance"Não é preciso ter colhões pra ser macho de verdade!" Micaela é a filha mais velha de uma grande família, e assume a responsabilidade pelos negócios da Fazenda... mas sua destreza, habilidade, e falta de atributos femininos, lhe rendem a fama de mar...