18 - Pedido oficial

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Mariano ordenou que Renata levasse as crianças dali, pois precisava conversar com Jean. Assim que os dois ficaram sozinhos, ele foi logo falando:

- Doutor Jean! Tem certeza do que está sentindo? Por que escolheu justamente a Micaela? Entenda... Ela é uma menina honrada... Mas foi criada como bicho do mato, não tem preparo para ser dona de casa! Muito menos pra ser esposa de médico! Ela é xucra, não vai saber criar seus filhos... E talvez ela nem tenha filhos!

O juiz fez uma pausa, para organizar os pensamentos. Jean tinha vontade de socar a cara dele, mas sabia que precisava manter a calma pra não perder a oportunidade.

Depois de um meio sorriso, o juiz contemplou a foto de Melissa, em cima do aparador, e exclamou:

- O senhor não vai fazer sucesso exibindo ela por aí, ela só vai te fazer vergonha... Micaela é feia, não sabe conversar, nem recepcionar convidados importantes... Melissa, por outro lado, além de linda, se sairia muito bem numa reunião de negócios... Ela foi treinada pra isso. Eu sou um homem com conexões importantes, e sei da importância de se ter uma mulher fina ao lado. Clarice, pode parecer simples, mas quando está arrumada, sabe ser elegante e manter uma boa conversa... Já a Micaela, não puxou nada a mãe! Ela vive arrumando confusão feito um jagunço e me fazendo passar vergonha! Você vai se arrepender de escolhê-la.

Jean explicou com calma, mas por dentro, tinha vontade de socar aquele homem.

- A gente não manda no coração. Além do mais... Terei tempo de ensinar a ela como se comportar, mas esse é o tipo de coisa que ela vai aprender sozinha. Ela é esperta e aprende rápido. Quanto a sua beleza, sua filha é um diamante bruto! Não viu na festa? Como estava linda? Ela só precisa de uma boa consultora de modas, e uma assistente que lhe ensine o que fazer... E pode ter certeza que isso é algo que meu dinheiro pode comprar.

Jean sorriu, mas Mariano não estava nem um pouco contente. Tinha que convencer o rapaz a desistir de Micaela. Se ele não queria Melissa, não era bom o suficiente pra ser seu genro...

Pensou então em colocar a prova o amor de Jean. Ia testar seus limites.

- Sabe, Jean... O pedido que me faz é deveras difícil. Se fosse qualquer uma das outras filhas, eu lhe cederia de bom grado... Mas a Micaela é o esteio da casa! Quando percebi que Micaela não gostava de homens, decidi treiná-la pra ser minha substituta. Ela sabe tudo sobre a fazenda... O dia que eu faltar, ela vai assumir tudo, e cuidar da mãe e das irmãs... Não quero incutir esse fardo em você!

O sorriso de Jean se iluminou. Estava decidido a não perder sua amada, seja lá quais fossem os argumentos.

- Excelência, meu avô é dono de um complexo hospitalar, e eu sou seu único herdeiro. Vai ser um prazer cuidar da família da minha esposa caso viessem precisar... E não se preocupe! Micaela vai ter todo o tempo do mundo para administrar a fazenda... A vida de uma esposa de médico pode ser bem entediante as vezes, e a fazenda vai mantê-la ocupada.

Mariano percebeu que não estava argumentando de maneira adequada e resolveu pegar pesado.

- Você não está entendendo! Micaela é muito preciosa pra mim... Não da maneira que todos esperam, mas ela tem um grande valor! E não posso perdê-la sem uma compensação razoável.

Jean o encarou com surpresa. Era impressão dele, ou Mariano estava sugerindo vender a filha?

- E qual seria o tipo de compensação?

Mariano coçou o queixo, pensou bem no que ia falar, e disparou.

- Preciso que trabalhe pra mim! Quero firmar um acordo, durante um ano, tu trabalha na fazenda, de graça, só para aprender o serviço e no futuro, poder ajudar efetivamente a Micaela assumir os negócios. Se disser que não pode, vou entender como uma recusa.

Era uma vez... no sertão Onde histórias criam vida. Descubra agora