Mariano contou à cidade inteira que Melissa estava em tratamento de uma doença grave. Só não esperava que Melissa ficasse mesmo doente.
O doutor agora ficava de plantão na casa dos Marianos e Melissa, contraiu rubéola e tuberculose.
Ela já não era mais que um farrapo, em cima da cama, e apesar dos cuidados intensos, a família estava se preparando para o pior.
***
Micaela também não estava nos seus melhores dias. Seu bebê estava com 34 semanas, e ela sentia tantas dores na coluna que nem conseguia dormir.
Mas era orgulhosa demais pra contar que precisava de ajuda.
Os rapazes da comitiva viviam lhe fazendo favores, o que lhe dava um pouco de alento, mas ela não gostava de depender deles, e os colocava pra fora de maneira exasperada.
– Deixa de frescagem, cambada! Gravidez não é doença! Já agarrei tanto boi brabo pelo rabo, acha que não vou lidar bem com uma coisa dessas?
Os rapazes, ainda assim, estavam todos solícitos e alertas. Micaela se sentia agradecida, mas um bloqueio dentro dela a impedia de demonstrar fraqueza, e aguentava todas as dores sozinha.
Naquela manhã, começou a sentir dores nas costas. A princípio foi uma fisgada intensa, que a fez perder o fôlego, mas segurou a dor, até que passou.
Micaela não contou pra ninguém, pois não os queria preocupar. Ainda faltavam seis semanas para a data prevista, então, provavelmente eram só gases.
Micaela desceu ao rio, para lavar roupas, e então, quando estava no meio da tarefa, foi acometida novamente pela dor. A onda de dor passou, mas dez minutos depois, nova dor, agora mais forte e mais prolongada. Micaela queria terminar sua tarefa, mas a cada dez minutos era paralisada por aquela dor.
Ela pediu que Mirela corresse até o rancho em busca de ajuda, enquanto isso, segurou nova onda de dor. Estava sozinha, e o medo a dominou.
Ainda faltava muito tempo para concluir sua gestação, e aquelas dores só podiam significar problemas a vista.
Adivinhando seus pensamentos, sua bolsa se rompeu. Micaela estava alucinada pelas dores, que agora vinham sem intervalos. Estava em pânico, e hiperventilando, foi então que sentiu alguém lhe segurando por trás, e posicionando suas pernas apoiadas na pedra do rio.
Micaela não conseguia ver quem era, e simplesmente se deixou conduzir.
Depois de outras três ondas de dor, Micaela sentiu seu filho descer viscosamente por suas pernas.
Ela o apanhou, e o retirou da água. A pessoa que estava atrás de suas costas, a apanhou nos braços, e a levou até a margem, e só então ela se deu conta que era o mesmo ser do rosto descarnado.
Ele a colocou debaixo de uma árvore na sombra, e ajeitou suas roupas, colocando o bebê, ainda conectado ao cordão umbilical, sobre o peito dela. Ela agarrou o braço dele, e perguntou quem ele era, mas não obteve resposta.
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Era uma vez... no sertão
Romance"Não é preciso ter colhões pra ser macho de verdade!" Micaela é a filha mais velha de uma grande família, e assume a responsabilidade pelos negócios da Fazenda... mas sua destreza, habilidade, e falta de atributos femininos, lhe rendem a fama de mar...