23 - A armadilha

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Aquela foi uma vaquejada para entrar para a historia.

Micaela se tornou rapidamente a heroina da cidade, e todos queriam comemorar... mas ela estava ferida e exausta, e ainda não se sentia bem do estômago. Só queria ir pra casa, tomar banho e descansar.

Jean veio examinar seu braço, e percebeu que estava bem inchado, então tirou ela daquela confusão e a levou pra casa.

No momento de descer do carro, Micaela sentiu uma fraqueza repentina. Jean percebeu o seu desmaio e a amparou antes que caísse.

Carregando Micaela nos braços, Jean foi recebido por vários olhares curiosos.

Clarice trouxe um frasco de álcool para ela cheirar e voltar a si. Jean checou seus sinais vitais, e estavam todos bem. Mediu sua pressão arterial, e percebeu que estava baixa, então lhe deu um comprimido para colocar embaixo da língua.

Clarice preparou uma canja de galinha, que Micaela devorou com gosto, e depois de ver a filha recuperar as forças, perguntou, preocupada.

– Por favor, doutor Jean! Não precisa me esconder nada... o que tem a minha filha?

Jean respondeu com convicção.

- Não é nada grave, dona Clarice! Essa mocinha andou abusando e está com estafa. Quando a pessoa é teimosa, e não sabe o limite do próprio corpo, ele dá sinais pra avisar. Ela teve uma queda de pressão, talvez por consequência das noites mal dormidas... E os enjoos, bem, quando estamos nervosos demais, ou preocupados, nosso estômago reage produzindo mais ácido gástrico. Uma pessoa muito ansiosa pode desenvolver até uma úlcera nervosa. Foram muitas pressões nos últimos dias... o conselho é que ela se desligue de tudo e pare de se preocupar.

Jean deu um beijo na testa de Micaela, e a colocou pra dormir.

Clarice encarava tudo aquilo com desconfiança. Ou Jean estava lhe escondendo a verdade para lhe poupar do desgosto, ou era mesmo muito ingênuo de acreditar que Micaela estava sofrendo de estafa... justo Micaela, que era mais bruta que um burro chucro!

Estafa era algo que não existia no dicionário dela. Clarice ia observar pelos próximos dias. Talvez fossem só paranoias de sua cabeça... de repente Micaela tivesse mesmo chegado ao seu limite... Clarice preferiu esperar pra saber.

***

Micaela descansou a tarde toda. Foi um sono pesado e sem sonhos, mas acordou restaurada.

A comitiva ia dar uma festa em comemoração à vitória deles, logo mais na bodega do seu Zezé, e todos faziam planos de comparecer à festa, mas Mariano chegou com novidades, alterando os planos de Micaela.

Ela foi formalmente convidada a comparecer ao coquetel do prefeito, para receber uma homenagem, e Micaela não podia recusar.

Micaela perguntou se Fernando ia à festa, mas ele surpreendeu, dizendo que já tinha prometido levar Melissa no forró do seu Zezé.

Micaela achou esquisito que nem Fernando e nem Melissa quisessem comparecer a uma festa tão importante, mas não viu nisso nada demais.

O fato de Melissa querer participar de um evento popular também não lhe causou estranheza num primeiro momento... só muito tempo depois é que Micaela ira entender.

***

A festa do prefeito era elegante. Mariano desfilava orgulhoso, levando Micaela pelo braço. Ela estava achando aquilo esquisito, e queria mesmo que acabasse logo pra ela ir ao forró do seu Zezé.

Mariano a apresentou a muitos nomes influentes, a maioria, homens de meia idade, solteiros ou viúvos, em busca de uma bela esposa jovem. Eles se aproximavam, animados, mas Micaela, ia rejeitando a todos.

Era uma vez... no sertão Onde histórias criam vida. Descubra agora