Era uma vez... no sertão

23 - Justiça tardia

Às dez da manhã, do dia seguinte, Joaz reuniu todos para uma coletiva de imprensa. A cidade parou pra assistir o pronunciamento que seria transmitido em um canal do YouTube.

Ele estava com o rosto abatido e um olhar cansado de quem não dormia a dias... mas tudo era uma orquestração para despertar a piedade dos seus eleitores. Ele se posicionou, e começou o discurso.

- Meus queridos munícipes... estou aqui para expiar um pecado que cometi no passado, quando ainda era um moleque, e não tinha noção das coisas que fazia...

Ele fungou, e fingiu secar as lágrimas, antes de continuar.

- Há muito tempo atrás... mas muito tempo mesmo... eu e uns amigos estávamos bêbados... E encontramos uma criança. Uma criança aleatória, que eu nem sabia quem era, na época.

Ele fez uma pausa estratégica, pensando bem no que ia dizer a seguir.

- Essa criança nos viu fazendo algo que, na época, julguei que era errado... meu pai sempre me ameaçava para não ser pego dando escândalos... E o fato de estar bebendo com os amigos, na minha cabeça de moleque, me fez pensar que teria consequências... então resolvi fazer uma brincadeira com essa criança, e a levamos para um lugar escondido.

Joaz estava chorando... E a própria coletiva de imprensa já estava com um nó na garganta.

- Eu não tinha intenção de fazer mal a ela... só queria dar um susto, pra que ela se calasse... ficamos alguns dias mantendo essa criança escondida, até que descobri que era uma criança da família Mariano!

Houve um burburinho geral na audiência, e depois de fungar ruidosamente, ele prosseguiu.

- Quando soubemos que os Marianos estavam procurando a criança, eu decidi devolver... mas quando nos dirigimos ao barracão, ela não estava mais lá! Eu juro que não sei como ela sumiu... procurei por toda a parte, mas nunca mais soube nada dela!! Eu juro pela vida das minhas filhas... que nunca tive a intenção de fazer mal a ela... E nem a nenhum de seus familiares...

Todos estavam estupefatos com a revelação de que joaz era um sequestrador... algumas pessoas lembravam do caso, e as opiniões estavam divididas.

Joaz era tão carismático, que algumas pessoas justificavam sua atitude, dizendo que ele não teve culpa, que foi brincadeira, e irresponsabilidade de um jovem que não tinha noção de bem e mal...

Outros já julgavam a falta de limites que o antigo prefeito deu ao filho, e ficaram chocados com a historia.

Joaz decidiu terminar logo com aquilo, pois precisava de suas filhas de volta, sãs e salvas.

- Eu juro... por tudo que me é sagrado, que não fui eu que sumiu com a menina!! Eu ia devolver!!! Mas ela desapareceu! Até hoje não sei se ela fugiu... ou se alguém a tirou de lá... mas juro que não sumi com ela... Eu sinto muito pela família Mariano!! Hoje eu tenho noção do mal que fiz, e estou disposto a pagar pelo meu crime!!! Juro que se pudesse voltar atrás, eu voltava!! Lamentavelmente não posso!!! Estou arrependido do fundo do meu coração, mas não fiz nada de mal pra sua filha!!! Foi apenas uma brincadeira de mal gosto que não acabou como eu queria, e isso sempre vai me assombrar... sempre que eu deitar no travesseiro, vou me arrepender do que fiz! Sei que não mereço perdão, mas imploro que me perdoem!!

Joaz desmoronou, diante da plateia, e chorou copiosamente. Todos já estavam comovidos, quando ele olhou para a câmera e implorou.

- Eu não sei quem pegou minhas meninas... não sei se é da família Mariano, ou só está buscando vingança aleatória... mas por favor... não faça nada com minhas meninas! Elas não tem culpa de nada! Eu me entrego no lugar delas, pra fazer o que quiser de mim... mas por favor! Devolva minhas filhas pra mãe delas! Meu coração dói infinitamente quando vejo a mãe delas chorando! Ela não tem culpa de nada... nunca soube dos meus deslizes... E minhas filhas... são como anjos! Por favor! Me leve no lugar delas! Por favor!! Eu imploro de joelhos!!!