9 - A mulher de branco.

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Após o jantar, Orfeu encontrou Mirela na varanda. Assim que o viu, Mirela exclamou:

- "Orfeu"!! Você finalmente criou coragem de sair daquela mansão assustadora... Dessa vez, veio pra ficar?

Orfeu respondeu:

- Acho que sim. Preciso ter certeza que não estou atrapalhando a vida deles... são todos como estranhos pra mim...

Mirela encarou Orfeu com seriedade.

- A Micaela nunca vai te aceitar... ela passou por muita coisa... muita coisa mesmo! Ela literalmente comeu o pão que o diabo amassou, e enfrentou tudo sozinha. Nathan aproveitou o momento e lhe estendeu a mão... E em gratidão, ela lhe entregou o coração. Você devia ter aproveitado o momento, quando me resgatou... ela estava vulnerável, e teria te aceitado, mesmo que parecesse um monstro.

Orfeu suspirou, frustrado.

- Eu sei... E não passa um dia que eu não me arrependa... mas quando lembro do olhar aterrorizado que ela me lançou... pensei em dar um tempo, ajeitar meu rosto primeiro, mas quando percebi, era tarde demais. Mas... E você? Está bem?? Voltar aqui, depois de tudo que passou...

Mirela sorriu triste.

- Não tive escolha... a vida só foi passando, tive que engolir o choro e prosseguir. Mas sou eternamente grata a você... não consigo imaginar o que seria de mim, se não aparecesse naquele dia.

Orfeu abraçou Mirela, e lhe deu um beijo na testa.

- Obrigado, pequena... por crescer tão bem... e por guardar meu segredo...

Mirela retribuiu o abraço

- Espero que fique bem... quero o melhor pra você. Eu era uma criança transtornada, e não consegui expressar na época... mas sofri mais que minha irmã com tudo o que aconteceu.

***

Enquanto isso, dois dias antes...

A polícia chegou na casa de dona Cláudia, procurando por seu marido, Gilvan. Eles vieram informar da prisão dos filhos deles, e dos custos que eles teriam com a fiança e os estragos que os garotos causaram à propriedade do jovem Montenegro.

Claudia suspirou com enfado, e mandou os policiais procurar pelo marido no barracão de ferramentas. Ele era um bêbado, imprestável, que vivia atormentado por algum remorso, e desde o incidente do vereador, o estado de espírito dele piorou.

Os policiais encontraram ele quase desacordado, com uma garrafa de aguardente na mão e o jornal com o incidente na outra. Ele murmurava sem parar:

- Isso é castigo... a gente merece queimar no inferno... ela finalmente veio nos cobrar... ela vai nos pegar, um por um...

Um policial tocou em seu ombro e perguntou o que estava falando, e com os olhos injetados, ele respondeu:

- O fantasma da menina... a menina... que a gente... ela voltou! E vai se vingar de nós todos!!

Os policiais queriam saber mais. Eles deduziram que o assunto estava relacionado com o caso do milharal, mas Gilvan estava delirante e infelizmente a conversa foi inconclusiva.

***

Já era tarde da noite, e Gilvan continuava bebendo, quando a mulher de branco apareceu.

Ele não sabia dizer se era real, ou delírio por causa da bebedeira. Ela lhe sorriu, e o cumprimentou.

- Olá Gilvan! Lembra de mim?

Gilvan olhou pra ela, já conformado.

- Tu cresceu... durante todos esses anos que me torturou, tu era apenas uma criança... mas agora cresceu... eu queria acreditar que é real, e está crescida... mas o louco do Joaz sumiu com teu corpo... E tu ficou todos esses anos, bem aqui, na minha consciência!

Era uma vez... no sertão Onde histórias criam vida. Descubra agora