16 - O príncipe e a rosa

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Micaela dormiu um sono perturbado. Quando acordou, sentia pequenas fisgadas nas costas, mas o pior tinha passado.

Renata e Maurício vieram ver como ela estava, e Maurício aproveitou pra pedir explicação sobre o que estava acontecendo.

– Arriégua maninha! Que confusão! A facada do Joaz virou balela perto do resto. Primeiro o Fernando na festa... depois... o Jean! O que deu na tua cabeça de se meter justo com ele?

Micaela soltou um suspiro...

– Não foi de propósito, mano... Ele simplesmente apareceu aqui, um belo dia, e decidiu ficar. Eu me apaixonei por ele... tentei lutar contra isso... Mas a gente não manda no coração! O pai também se apaixonou, e acha que só a Melissa é digna dele, mas Jean já confessou que não sente nada por ela, e está apaixonado por mim. Eu vou tentar convencer o pai aos poucos, mas se o pai quiser impedir, eu vou fugir com ele!!

Maurício conhecia bem o pai, e sabia da batalha que teria pela frente... Mas amava a irmã, e lhe desejava toda felicidade do mundo. Micaela era sua irmã favorita.

– Eu deveria impedir essa sandice! O mais acertado era Jean voltar pro lugar de onde veio e deixar as duas em paz, mas sei que já estão apaixonados, e nada do que eu disser, vai te fazer desistir. No que eu puder ajudar, pode contar comigo!

Maurício deu um abraço delicado em Micaela... Ajeitou seus cabelos e acrescentou.

– Quando estiver pronta pra fugir, me procure... faço questão de arrumar um canto pra vocês. Mas olha... Antes de tomar qualquer atitude, tenha certeza que Jean está comprometido com isso. Antes de rolar qualquer intimidade, façam um casamento secreto. Só isso dará respaldo pra lutar contra o papai. Tu sabe como as coisas funcionam por aqui, né... Crime em nome da honra... Se não tiver respaldo legal, o papai é capaz de qualquer coisa!

Micaela encarou o irmão com perplexidade.

– Não exagera, Maurício! O papai nunca seria capaz de fazer isso!

Renata, que ouvia tudo calada, resolveu se manifestar.

– Amiga! Teu pai viu a filha tomar uma facada, e foi pessoalmente cuidar da absolvição do culpado! Ele é cruel! E é juiz! Se decidir ser cruel com os dois, Jean se lasca, mesmo recorrendo às leis... Depois do que vi hoje, acho que Maurício tem razão, tu já deveria ir preparando a vida longe daqui.

Micaela sentiu um calafrio percorrer a sua espinha, mas sacudiu a cabeça pra espantar os maus pensamentos...

Assim que o pai se acalmasse, ia falar com ele, e o pai ficaria satisfeito de ter um genro médico, mesmo que não fosse através de Melissa.

***

Mariano queria subir pra interrogar a filha, mas Clarice, com sua sabedoria, convenceu ele a deixar pra outra hora. Micaela estava debilitada, e ele estava de cabeça quente, e era mais útil que fosse trabalhar pra distrair.

Mariano concordou e foi para a cidade, levando junto com ele, Fernando, que estava cordialmente sendo expulso da fazenda e ia ficar na casa da mãe, a tal tia Judite.

Jean subiu, acompanhado de Marisa... Micaela tinha tanto pra conversar, mas o fato de estar sempre acompanhada de uma das irmãs era desconcertante.

Jean a cumprimentou formalmente, como médico competente que era... Aferiu sua pressão, e sua temperatura, examinou-lhe as pupilas e a garganta, e depois de constatar que ela estava bem, pediu que se deitasse de bruços para examinar a lesão.

Micaela sentiu um calafrio quando sentiu as mãos de Jean deslizando por suas costas, erguendo-lhe a camiseta. Seu coração bateu acelerado, ao sentir o contato das mãos do seu amado de encontro a sua pele, mas ela sabia que Jean só estava sendo extremamente profissional.

Era uma vez... no sertão Onde histórias criam vida. Descubra agora