A Lan house estava uma bagunça, e enquanto Júlio trocava o monitor avariado, Orfeu apanhou uma vassoura e foi limpando.
Orfeu perguntou se os pais dos garotos tinham indenizado a Lan house, e Júlio respondeu que não.
- Eles não tiveram tempo... depois do que aconteceu com o pai deles essa noite... acho até que vou deixar pra lá! As coisas estão tão caóticas na casa deles que eles ainda estão presos.
Orfeu quis saber os detalhes, e Júlio contou do ataque da mulher de branco.
Orfeu viu em toda essa história uma oportunidade para seu próximo triller de suspense e mistério, e se animou a investigar essa história... mas tinha um problema: não tinha onde se hospedar, haja visto a reação que causou no único hotel da cidade.
Foi então que Júlio surgiu com a solução.
– A fazenda da minha mãe é grande... E pode se hospedar por lá. Tem uma casinha no jardim... que era a casa do jardineiro, mas ele saiu da fazenda tem uns dois meses... E por enquanto minha mãe não encontrou nenhum substituto... posso falar com ela e te deixar lá pelo tempo que precisar.
Orfeu ficou animado com a ideia, mas sabia que não ia ser fácil convencer a mãe dele.
***
Júlio fechou a Lan house mais cedo, e decidiu não ir para a escola. Estava ansioso para apresentar Orfeu pra mãe dele.
Orfeu estava emocionado por ver que Júlio nunca olhou com estranheza para seu rosto, ao contrário, o rapaz olhava pra ele com admiração, e isso lhe trazia um pouco de conforto.
Júlio apanhou um óculos escuro e ofereceu ao novo amigo.
- Sabe, Orfeu... eu estive pensando nessa sua máscara. Não sei que tipo de acidente sofreu, nem como é seu olho por baixo dela... mas acho que ela assusta as pessoas... seria mais cômodo, se ao invés dela, escondesse sua deficiência com estes óculos... o que me diz?
Orfeu se surpreendeu. O garoto era mesmo muito criativo. Mas ele se surpreendeu ainda mais com a tranquilidade que ele tinha ao falar sobre a deficiência... as pessoas sempre tiveram falsos pudores em tocar no assunto, mas para Júlio, parecia tudo tão normal...
Orfeu tirou a máscara, revelando que não tinha olho. Suas pálpebras estavam fechadas e um pouco afundada pela falta do globo ocular. Ele pensou que Júlio se sentiria repugnado, mas o garoto apenas olhou com curiosidade, e perguntou.
– O que aconteceu com seu rosto? Foi um incêndio?
Orfeu colocou os óculos, e se olhou no reflexo do balcão, percebendo que não estava nada mal.
– Não. Foi uma queimadura química!
Orfeu esperou que o garoto lhe perguntasse como tudo aconteceu, mas Júlio parecia satisfeito com a resposta. Encarou Orfeu, e com um assobio, exclamou:
– Nada mau! Está com pinta de galã de cinema... bem, talvez mais pra um vilão de cinema... mas os óculos te deixou misterioso, e não assustador. Acho que minha mãe vai curtir. Por enquanto as dicas de moda vão ficar nos óculos... mas me lembre de dar uma repaginada nesse seu estilo Van Helsing depois. A primeira coisa que precisa se livrar é desse chapéu!
***
Micaela estava extremamente absorta na leitura do livro, e chorou diversas vezes ao relembrar sua história com o homem que mais amou na vida.
Jean tinha um modo de escrever tão gostoso que fazia o leitor entrar no cenário e enxergar cada detalhe descrito, e Micaela não conseguia largar o livro.
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Era uma vez... no sertão
Romance"Não é preciso ter colhões pra ser macho de verdade!" Micaela é a filha mais velha de uma grande família, e assume a responsabilidade pelos negócios da Fazenda... mas sua destreza, habilidade, e falta de atributos femininos, lhe rendem a fama de mar...